CARTA DE UM SUICIDA PORTUGUÊS

 

Sr. Delegado,

Não culpe ninguém por minha morte. Deixei esta vida porque, dias mais que eu vivesse, acabaria morrendo louco.

Eu explico porque: Sr. Delegado, tive a desdita de casar-me com uma viúva a qual tinha uma filha. Se eu soubesse o meu destino, Sr. Delegado, jamais teria casado. Meu pai para a maior desgraça, era viúvo, e quis a fatalidade que ele casasse com a filha da minha mulher. Resultou que minha mulher tornou-se sogra do meu pai, minha enteada ficou sendo minha mãe, e, ao mesmo tempo, meu pai meu genro. Após alguns anos, minha enteada deu a luz a um menino que se tornou meu irmão, porém neto da minha mulher, de maneira que eu fiquei sendo avô do meu irmão. Com o decorrer do tempo minha mulher também deu a luz a um menino, que, como irmão de minha mãe, era cunhado do meu pai e tio do seu filho, passando minha mulher a ser nora da sua própria filha, e eu, Sr. Delegado, fiquei sendo pai da minha mãe, irmão do meu pai e do meu filho. Minha mulher ficou sendo minha avó, já que era mãe da minha mãe. Sendo assim, Sr. Delegado, acabei sendo avô de mim mesmo. Portanto, Sr. Delegado, a coisa se complicou tanto que resolví deserdar deste mundo.

Perdão Sr. Delegado.