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    João de Barros  

HISTÓRICO
Maio • 2001

BIBLIOGRAFIA

Breve História da Literatura Portuguesa, Texto Editora, 1999

A.J. BARREIROS, História da Literatura Portuguesa, Editora Pax, 11ª ed.

A.J. SARAIVA e O. LOPES, História da Literatura Portuguesa, Porto Editora, 12ª ed.

Lexicoteca, Tomo III, Círculo de Leitores

 
   

João de Barros nasceu por volta de 1496, em Viseu e faleceu a 20 de Outubro de 1570, numa quinta sua, perto de Pombal.

Embora não haja informações concretas relativamente à sua educação, revela uma boa formação na área das humanidades, nomeadamente conhecimentos do latim e grego. Aparece, desde muito cedo, associado à corte, onde foi guarda-roupa do príncipe D. João, antes deste subir ao trono (D. João III).

Em 1522 foi nomeado capitão da fortaleza de S. Jorge da Mina, na costa ocidental africana, um das primeiras colónias ultramarinas de Portuga. Em 1533 passou a exercer as funções de feitor da Casa da Índia, cargo que exerceu durante cerca de trinta anos (1567). Na época tratava-se de uma posição muito importante, pois a Casa da Índia controlava de facto todo o comércio ultramarino. Paralelamente dedicou-se à elaboração das suas obras.

Como prémio pelos seus serviços à coroa, recebeu uma capitania no Brasil, tendo organizado uma sociedade com outros interessados para a sua exploração. No entanto, a frota enviada com esse objectivo naufragou antes de chegar ao destino.

Iniciou-se na actividade literária com uma novela de cavalaria, a Crónica do Imperador Clarimundo, um tipo de literatura apreciado na época, como documentam outras novelas contemporâneas e os autos cavalheirescos que Gil Vicente ia escrevendo e representando. Trata-se de uma genealogia imaginária do conde D. Henrique, com o objectivo explícito de exaltar os feitos dos monarcas portugueses. Em algumas passagens prenuncia já a visão épica que Camões vai concretizar n' Os Lusíadas.

A Ropicapnefma, título de sabor grego com o significado de "mercadoria espiritual", é um colóquio ou diálogo entre personagens, bem ao gosto do renascimento. Mas aqui deparamo-nos com personagens alegóricas, ao estilo medieval, semelhantes a algumas alegorias vicentinas.

A intenção declarada é defender a pureza da fé cristã contra as doutrinas heréticas de carácter reformista. Mas a argumentação posta na boca dos opositores é tão inteligente que somos levados a pensar se o próprio João de Barros não seria sensível a algumas das suas ideias. Outro motivo de interesse desta obra são as críticas que vão sendo feitas a atitudes e comportamentos da sociedade contemporânea. É evidente que, independentemente da sua ortodoxia religiosa, o autor adopta uma visão do mundo muito próxima da dos demais humanistas europeus, principalmente no que diz respeito ao peso da nobreza e clero na sociedade. Pode, talvez, dizer-se que João de Barros assume em Portugal uma posição muito próxima da de Erasmo — crítico, sem sair da ortodoxia. Esse erasmismo discreto não passará despercebido às autoridades religiosas que, em 1581, colocarão esta obra no "Index" (lista de livros proibidos).

A Gramática da Língua Portuguesa, publicada em 1540, é a segunda editada em Portugal. Quatro anos antes; Fernão de Oliveira tinha publicado a sua. Insere-se obviamente no esforço, característico do renascimento europeu, de valorizar as línguas nacionais, atribuindo-lhes uma formalização normativa que as elevasse ao esplendor das línguas clássicas (grego e latim).

As Décadas são, contudo, a obra mais conhecida de João de Barros. O projecto inicial do autor era ambicioso. Seria constituído por três partes: Milícia, referente às conquistas dos portugueses nos quatro continentes (Europa, África, Ásia, Brasil); Navegação, descrição geográfica desses territórios; Comércio, relativo aos produtos naturais e artificiais. Dessa obra enciclopédica restam quatro "décadas" relativas às conquistas na Ásia, a última das quais ficou incompleta. Trata-se de um dos primeiros relatos da colonização europeia do mundo.

Como historiador, João de Barros adopta a ideologia oficial, que encarava a expansão ultramarina como uma cruzada do Cristianismo contra o seu inimigo tradicional, o Islão. Por outro lado, concebe a narrativa histórica como exaltação das personagens e feitos heróicos, pelo que os aspectos negativos da acção portuguesa são deliberadamente omitidos. Nesse aspecto, segue as pisadas de Gomes Eanes de Zurara, com a sua visão aristocrática da história, muito longe, ambos, da concepção de Fernão Lopes.

No entanto, há em Barros uma certa modernidade, na visão universal que ele tem da história. Ao longo da narração tem sempre presente a geografia mundial, preocupando-se em enquadrar os acontecimentos nas circunstâncias geográficas e sociais. Essa perspectiva mundial e o acesso a fontes de informação não europeias levaram-no a ter consciência da relatividade da civilização europeia.

Nas suas obras revela ser um homem de sólida cultura, representativo do pensamento humanista português, até pela defesa da concepção apologética da expansão ultramarina portuguesa, tão pouco conforme com os valores mais profundos do humanismo europeu.

BIBLIOGRAFIA

Crónica do Imperador Clarimundo (1522)
Ropicapnefma ou Mercadoria Espiritual (1532)
Gramática da Língua Portuguesa (1540)
Diálogo da Viciosa Vergonha (1540)
Diálogo sobre Preceitos Morais (1540)
Diálogo evangélico sobre os artigos da fé (1543)
Panegíricos, de D. João III (1533) e da Infanta D. Maria (1555)
Décadas da Ásia - I, II, III e IV (1552, 1553, 1563, 1615)