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    Bocage  
Bocage

HISTÓRICO
Setembro • 2000

BIBLIOGRAFIA
Breve História da Literatura Portuguesa, Texto Editora, 1999

Lexicoteca, Vol. III, Círculo de Leitores, 1984

António José Barreiros, História da Literatura Portuguesa, Vol. I, Editora Pax, 11ª ed., 1984

António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, Porto Editora, 12ª ed., Porto, 1982

LIGAÇÕES EXTERNAS
Projecto Vercial

 
   

Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765.

O apelido revela a ascendência francesa da mãe. Na família havia uma tradição de interesse pelas letras: uma sua tia-avó traduziu o poeta Gessner, enquanto o pai, advogado, manifestava interesse pela poesia inglesa. A mãe faleceu quando ele tinha dez anos.

Assentou praça no regimento da sua cidade em 1781. Dois anos depois (1783) entrou para a Academia Real da Marinha. Foi nessa ocasião que começou a frequentar os meios boémios.

Em 1786 foi enviado para o oriente, primeiro para Goa, depois para Damão (1789). Acabou por abandonar a vida militar, dirigindo-se para Macau e regressando mais tarde a Lisboa (1790). Aí ingressou na Nova Arcádia, qua havia sido fundada há pouco, tomando o nome poético de Elmano Sadino. Mas o seu temperamento sarcástico não lhe permite levar a sério essas sessões elegantes, que satiriza. Isso, associado ao seu comportamento irregular acabou por levar á sua expulsão, em 1794.

Em 1797 foi preso, acusado de atentar contra a ordem social. Na origem dessa detenção parecem estar alguns textos poéticos de carácter anti-religioso ou revolucionário (elogia de Napoleão). A inquisição condenou-so a um período de recolhimento no Hospício das Necessidades. Durante essa reclusão traduziu obras de clássicos.

Libertado dois anos depois, em 1799, passou a viver com uma irmã e abandonou a vida boémia, procurando sustentar-se, a si e à irmã, com os seus trabalhos de tradutor.

Utilizou quase todas as formas poéticas em uso na época (odes, fábulas, idílios, epigramas, cantatas...), mas foi no soneto que melhor exprimiu a sua personalidade poética. Em vida publicou tês volumes de Rimas.

Morreu a 21 de Dezembro de 1805.

O seu percurso biográfico parece de facto uma reconstituição da vida de Camões: origem relativamente humilde; juventude boémia; amores irregulares; carreira militar; paixão pela poesia... O próprio Bocage tinha consciência e cultivava esse paralelismo, conforme o soneto famoso, que diz:

Camões, grande camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.