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    Miguel Torga  

Miguel Torga

HISTÓRICO
Publicada em 1998

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Miguel Torga é o pseudónimo literário de Adolfo Correia da Rocha.

Nasceu em S. Martinho de Anta (Sabrosa), pequena aldeia de Trás-os-Montes, no distrito de Vila Real, a 12 de Agosto de 1907 e morreu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995.

Em 1918 ingressou no seminário de Lamego, para iniciar os estudos liceais, donde saiu ao fim de um ano. Entre 1920 e 1925 esteve emigrado no Brasil, tendo trabalhado na fazenda de um tio, em Santa Cruz (Minas Gerais). Ainda no Brasil, chegou a frequentar o ensino liceal em Leopoldina, a expensas do tio, que continuou a ajudá-lo financeiramente noa anos seguintes. De regresso a Portugal, em apenas três anos lectivos completou o ensino liceal e ingressou na Faculdade de Medicina de Coimbra em 1928, tendo concluído o curso em 1933.

Logo em 1934 adopta o pseudónimo literário de Miguel Torga, que manteria ao longo de toda a sua vida, como que a demarcar claramente o homem do escritor. Com ele marca de forma indelével a sua ligação à terra natal, já que "torga" é, afinal, a urze, planta espontânea no norte e centro do país. Obtida a especialização em otorrinolaringologia, acaba por estabelecer-se em Coimbra, em 1939, onde permanecerá até ao fim da vida. Nesse mesmo ano casa com Andrée Crabbé, belga de nascimento, e professora da Universidade de Lisboa.

A partir de 1937 viaja com frequência, percorrendo vários países, mas esse contacto com o mundo parece reforçar cada vez mais o seu apego às origens — Trás-os-Montes, Portugal, a Ibéria.

Em 1960 é proposto pela primeira vez para o Prémio Nobel, nomeação que viria a ser reiterada em 1978, como manifestação do reconhecimento crescente pela sua obra.

O início da sua actividade literária, coincidente com a sua entrada na universidade, está ligado ao grupo da revista "Presença" (1927), do qual se veio a desligar em 1930 para fundar com Branquinho da Fonseca, outro presencista dissidente, a revista "Sinal", de que saiu apenas um número. Posteriormente, em 1936, esteve ligado ao lançamento da revista "Manifesto", juntamente com Albano Nogueira, da qual foram publicados cinco números. A partir daí manteve-se afastado dos grupos literários e dos próprios circuitos editoriais normais.

Esse alheamento face a grupos e tendências reflecte-se na sua produção literária, onde os modismos estéticos e as filiações ideológicas estão ausentes. O seu percurso literário estende-se pelo século XX fora, à margem das capelas, das tendências, dos grupos, explorando os seus próprios centros de interesse, os motivos que lhe eram caros, numa linguagem própria — alheio aos grupos e ideologias, mas atento ao mundo, sobretudo ao mundo rural, à terra, a essa identidade geográfica, histórica e cultural que era a Ibéria.

A vida urbana parece estar ausente dos seus textos. O que encontramos em todo o lado é a vida rural, melhor dizendo, um ambiente agro-pastoril primitivo, em que a modernidade está ausente, anterior à domesticação do mundo, a rudeza do homem irmanada à força da natureza; um homem que penosamente se ergue da terra e procura construir a sua dignidade. Sobretudo na poesia, recorre com frequência a imagens bíblicas, adequadas a exprimir, quer essa rudeza ancestral, quer um fundo de religiosidade que perpassa pela sua obra.

O mesmo apego que manifestava à terra manifesta-o em relação à família — o pai e a mãe, a mulher e a filha. Inversamente, mantém em relação aos outros um distanciamento tímido. Refugia-se na solidão e na escrita. Distante, foi sempre um homem de temperamento difícil, orgulhoso com os grandes, mais afável com os humildes. O mesmo distanciamento face ao poder político, antes e depois da democracia.

Durante mais de meio século manteve um diário literário, onde as notas em prosa alternam com a poesia, e que é, pelas suas características e duração, uma obra ímpar na literatura portuguesa.

Foram-lhe atribuídos, entre outros, o Prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia (1976), o Prémio Montaigne (1981), o Prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da APE (1992) e o Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993).