1  1,    r   u   e       E   d   o   u   a   r   d       M   a   n   e   t

A Paris vista pelos olhos de um estudante de arquitetura é muito mais interessante do que pelos olhos de um arquiteto. Tem-se mais a descobrir, tenta-se em vão desvendar, sem no entanto considerar as falhas como obstaculos. Tenta-se em vão, ser. Em Paris não da pra ser, deve-se sempre estar. Como ja dizia minha amiga Dani, em Paris nunca esta chovendo, em Paris
é chovendo, é frio, é sempre alguma coisa. Enquanto a cidade é, nos nunca chegamos a ser, sempre estamos. Um estrangeiro pode investir muita energia tentando ser algo sem nunca conseguir. Demorei muito pra aprender isso, o melhor é se acostumar com a situação e sempre estar alguma coisa. Estar de bem, estar de saco cheio, doente, com fome, contente, estar no metrô, estar nos parques, estar na frente do Sena…

Para aqueles que sempre pedem dicas de ultima hora para visitar a cidade, arquitetos ou não, separo um pouco dos restos da borracha da sola dos meus sapatos em algumas linhas para listar os « musts » de Paris, apesar de ter muito « must not be seen » ou
« never go » que tbém seria interessante listar…
Ha projetos dos tempos em que se fazia arquitetura, os projetos dos tempos em que arquitetura deixou de ser disciplina de espirito generoso e tornou-se narcisista, e ainda pequenas tentativas de remoralizar o oficio nos tempos contemporâneos.

Navigantes de primeira viagem :
Metrô : Seu principal meio de transporte. Mais importante do que comer e dormir, é comprar seu bilhete de metrô. Se for ficar uma semana ou mesmo cinco dias compre a carte hebdomadaire, semanal, que custa 80 FF, 12 dolares, e você podera andar quanto quiser de onibus ou metrô com ela. Não compre bilhetes separados, eles são caros e não valem a pena.

- va a uma padaria velha e suja, diga « bonjour, madame » (sempre ! ! ! ! !), peça uma baguete e um pain au chocolat. A frase automatica que sai de forma cantada da boca da gentil senhora sera : « et avec ceci ? ! ? » (o que mais ? ! ?) mesmo se você tiver comprado quase toda a padaria.

- desça à estação de metrô e RER (Réseau Express Régional) Chatelet Les Halles para sentir o verdadeiro cheiro da maior e mais fedida estação de metrô do mundo. Depois disso qualquer estação sera uma maravilha.Mas você pode sentir a sensação de estar em Paris ai, na sua casa!!! Bsta juntar num liquidificador um pouco de merda, xixi de gato, uma meia velha e suada, um ovo. Bata bem, junte no final um peido, coloque tudo no micro-ondas dois minutos. Depois saia de casa e instale-se com sua receita atras do escapamento de um ônibus, as três da tarde de um verão. Pronto, inale bem, quatro vezes seguidas bem rapido. Sinta-se em Les Halles.































-Saia da Place des Victoires e suba pelas galerias cobertas do século XIX, até a passagem Verdeau, ao norte do Bd. Poissonière, entre o TGI Friday’s e o Hard Rock Café… (nem poderia ser perfeito- os gringos estão em todo lugar). Se tiver muito dinheiro disponivel , tipo 70 Dolares para pagar por um quarto, fique no hotel Chopin, na passage
Jouffroy, vale a pena…

-Va ao
Parque de la Villette, o melhor que foi feito em termos de espaço publico na Europa nos ultimos x anos (10 < x < 60)

-Não va à Sacré Cœur

-Não suba na Torre Eiffel.

-Suba na
torre Montparnasse, a torre merda dos anos 60 do sudoeste da cidade. Dela da pra ver a torre Eiffel e não se vê a sobre a qual você esta.

- Entre na Fauchon, atras da Madeleine, para ver ( e somente ver) o que ha de melhor na culinaria francesa para turista ver. A melhor padaria/ casa de vinhos / açougue/ mercado da face da Terra. Ao esbarrar em algum dos 300 fanaticos que la dentro estão, use
«sorry » ao invés de « pardon ». Havera um grupo grande de japoneses tirando fotos das comidas.

-Va ao
Centro Georges Pompidou, se estiver sem tempo ($$$) de visitar o museu, para poder apreciar a vista la de cima, agora que depois da reforma o acesso ficou restrito, finja, com cara de gringo, que vai ao restaurante. Isso tem que ser a tarde, pois a noite quando ha eventos eles tem lista de reservas na porta do elevador. O elevador do restaurante fica embaixo, no nivel da piazza, por fora. Suba pelo elevador, conheça a magnifica escada rolante que beira o prédio e va embora sentindo que, apesar de estranho, esse objeto arquitetônico é uma das peças mais interessantes da arquitetura contemporânea.

-Va ao
Louvre e tire uma tarde para ver uma dezena de quadros. Não tente ver tudo. Se quiser ver a Monalisa, apesar de ser minuscula e sem graça, encontre aquele grupo de japoneses que você cruzou na Fauchon, siga-os. Eles estão indo para a Gioconda. Mas espere que eles tirem as fotos para poder tentar admirar o quadro. Você tem tempo, relaxe. No dia seguinte, quando você ainda estiver em Paris, esse grupo interessante de seres com maquinas fotograficas incorporadas estarão em Berlim, depois de terem passado por Madrid, Roma e Milão. Visitando o mais interessante em cada cidade européia…

























-Não entre nas Galerias Laffayette, você pensara que esta num shopping de Ribeirão Preto, tal a quantidade de brasileiros da roça que compram ali.

-Va a Sainte-Chapelle, a Ile de la Cité, a
Ile Saint-Louis.

-Suba no terraço da loja Samaritaine ao lado da Pont Neuf

-Tome somente café Illy ou Lavazza, o resto é intragavel.

- Visite a
Cidade Universitaria, o Pavilhão do Brasil, o Pavilhão Suisso, o Pavilhão Holandês.

-Para ir à
Villa Savoye, ao aeroporto, a Saint Denis, IKEA ou à Disney (se você for a esses cinco lugares considere-se alguém muito contraditorio), suba no RER e ocupe um assento no primeiro vagão. A cada parada nas estações, coloque a cabeça para fora da porta e olhe para o trem. Se um grupo de quatro ou cinco pessoas vestidas de verde entrarem em algum dos vagões, desça imediatamente. São os fiscais de bilhetes. Você não pode ser pego pois tem bilhete somente para Paris, e tera que pagar multa. Espere o proximo trem e entre… você esta salvo. Assim poderas economizar muito dinheiro. Lembre-se que ao sair da estação você estara sem bilhete, nos pontos mais conturbados a catraca de saida pede o bilhete, como você não tem, corra para passar junto com alguém (sim, quero dizer encoxando mesmo) na catraca. Todo mundo esta acostumado a ser encoxado e encoxar os outros sem que isso cause constrangimento. Depois de fazer o que tem para fazer na periferia, pegue o transporte de volta. Se você estiver em Saint Denis ou La Défense, pegue um ônibus para Paris. Como você não precisa passar o bilhete na maquina, somente mostre a carta semanal do metrô (bem de longe- para que o motorista não veja que ela vale somente duas zonas) e volte tranqüilo. Se não quiser arriscar, pague a passagem de volta, mas assim não tem graça. Mas atenção, se você não for esperto sera pego… nesse caso, desmaie no chão e somente abra os olhos quando tiver certeza que esta no hospital. Apesar de nesses casos os fiscais seguirem os ditos infratores até o inferno para cobrar os 50 dolares de multa.

-Sempre, sempre ! ! !  beba agua no restaurante. Qualquer liquido é muuuuito caro, e a agua é de graça, apesar de ser da torneira. « De l’eau s’il vous plaît ». Du robinet. Da torneira. Sempre.

- Não va à Champs-Elysées, não tem nada pra ver la. Prefira a Place de la Concorde ou o Jardim das Tulherias.

- Conheça a Rue
Mouffetard e a place de la Contrescarpe.




Bem, para os amigos arquitetos, vou ficar devendo a lista de endereços das obras de arquitetura a serem visitadas pois estou sem meu guia aqui. Quando atualizar o site, aviso com antecedência para os interessados. De qualquer forma, chegando em Paris va até a livraria do Centro Georges Pompidou ou a livraria Le Moniteur (ao lado do teatro Odéon) e compre o guia de arquitetura moderna em Paris.
clique na imagem para ver a rede de metrô
conjunto habitacional dos Correios franceses. Rue Oberkampf, arquiteto Frédéric Borel