PRIMEIRA PEDRA. A primeira pedra foi lançada em 1901, no dia 8 de dezembro. Um ano antes, no dia 8 de dezembro de 1900, havia sido inaugurado o Monumento de Maria Auxiliadora. Foi um sonho do Pe. Luiz Zanchetta que conseguiu realizar, com brilhantismo. O Monumento foi projeto do Engenheiro Salesiano Domingos Delpiano que iniciou o trabalho e conseguiu levá-lo a termo, sem interferência de ninguém o que raramente acontece.
Dizem que, de todas as obras de Delpiano e foram muitas, o Monumento é a sua "obra-prima".
Pe. Zanchetta não perdeu tempo. Terminara o Monumento. Agora era a vez da Igreja. Começou a trabalhar. No dia 1o de dezembro de 1901, ele lança a circular "Notícia Plano, Notícia Convite". Em "Notícia Convite", diz o Pe. Zanchetta:
"No dia 8 do corrente mez de Dezembro - Festa da Imaculada Conceição e 1o Anniversário da Inauguração do Monumento Commemorativo do IVo Centenário do Descobrimento do Brasil - às 11horas da manhã, será acentada com a maior solenidade e com um brilhantismo verdadeiramente singular a primeira pedra do "SANCTUÁRIO MONUMENTAL".
O dia 8 de dezembro de 1901 é, portanto, a data do lançamento da Primeira Pedra. O trabalho prosseguiu devagar, mas continuadamente. O projeto era do mesmo salesiano Delpiano.
É bom que se diga alguma coisa sobre este personagem que tem o seu nome escrito na Arte de Niterói e do Brasil.
Domingos Delpiano, nascido na Itália chegou ao Brasil no dia 14 de julho de 1883. Fazia parte dos sete primeiros salesianos que, naquele dia, chegaram a Niterói e deram início à História do Colégio Santa Rosa.
Em Paris, estudara Engenharia com o célebre Arquiteto francês Bossan. Bossan tinha um estilo próprio. Misturara o estilo gótico com o árabe. Conseguiu sucesso em Paris. Quando se fala em estilo Bossan, há uma referência a este arquiteto. E Delpiano fora um bom aluno seu. O Monumento é um exemplo típico do estilo Bossan.
Na Igreja hoje, quem, da entrada, olha para o seu interior, percebe que as ogivas não são tão pontiagudas, próprias do gótico. Os arcos formam uma espécie de "ferradura", característica do árabe. É o estilo Bossan.
Na Igreja não aconteceu como no Monumento. O projeto inicial foi alterado. Houve intromissões. De gente que entendia. De gente que não entendia nada de Arte. Delpiano se aborreceu. Foi para São Paulo. Em 1920, ele está em Niterói. Mas morreu naquele mesmo ano em São Paulo. Hoje, podemos dizer que o "Sanctuário" é muito bonito. Mas está deformado. E inacabado.
INAUGURAÇÃO. Foi no dia 24 de dezembro de 1918. Pe. Dalla Via, Diretor, pretendia inaugurar uma parte da igreja no dia 15 de agosto, coincidindo com a Sagração Episcopal de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, ex-aluno e antigo superior do Colégio Santa Rosa. As obras, todavia, estavam atrasadas e a inauguração só pôde acontecer no dia 24 de dezembro. As comemorações se estenderam até princípio de 1919.
A inauguração foi precária porque tudo era ainda provisório. Para se conseguir as telhas, as crianças deram sua colaboração. Em 1918, começou a campanha e passaram muitas listas. Na lista a cargo de D. Aurora Barbosa de Almeida Pinto, está 2:250$000.
Dois anos após a inauguração, os salesianos conseguiram a agregação do Santuário à Basílica Vaticana.
No frontispício do Santuário, há um bloco de mármore no qual estão as armas da Basílica Vaticana. Foi inaugurado no dia 30 de maio de 1920, às 10 horas da manhã, bento por Dom Sebastião Leme, na época, Arcebispo de Olinda. Após a inauguração, o povo se dirigiu para o interior do Santuário onde houve o "Te Deum", canto de ação de graças e Missa. Ao Evangelho, falou o orador Pe. Paulo Consolini.
Pe. Consolini era engenheiro e teve grande atuação na construção desta obra, na década de 20 e princípio da década de 30.
É dele que conseguimos muitas informações orais que estamos passando para este trabalho.
Hoje, a gente lamenta não ter explorado um pouco mais o Pe. Consolini neste assunto. Levou consigo muita coisa que seria útil para a História desta nossa hoje Basílica.
ALTARES MAIS ANTIGOS
1- DE SÃO JOSÉ. Inaugurado aos 19 de março de 1920. Presente do cooperador salesiano Virgílio de Araújo Maia. Ficou em 12 contos de réis. Quando foi inaugurado, ficou faltando o serviço de decoração e pintura.
2- DE SÃO FRANCISCO DE SALES. Inaugurado aos 24 de setembro de 1920. Bento por Dom Benassi. Foram paraninfos: D. Francisca Telles da Rocha, D. Francisco Peixoto de Abreu, Dr. José Antônio de Magalhães Castro e Dr. João Assis Lopes Martins.
3- DE N. SRA. DE LOURDES. Consagrado no dia 15 de dezembro de 1920.
Os altares laterais, hoje, são oito. Antes, eram diferentes, conforme o gosto de quem os construiu. Agora, passaram por uma reforma e estão todos no mesmo estilo. A reforma deve-se ao Pe. Virgínio Fistarol.
VITRAIS. O trabalho dos vitrais está completo graças a diversas doações e às iniciativas do Pe. Virgínio Fistarol que o concluiu, ultimamente, já no final da sua vida.
O mais antigo deles é "Jesus abençoando as criancinhas". Foi inaugurado no dia 20 de maio de 1920. Está sobre o altar de São Francisco de Sales. Executado na Casa Conrado, São Paulo. Custou 3:760$000.
O segundo vitral mais antigo é o que está no altar de São José. Oferta da família Magalhães Castro.
NOVAS IMAGENS. Citemos Riolando Azzi:
"No dia 14 de dezembro desse mesmo ano (1920), chegaram, após longa demora, as novas imagens encomendadas numa Casa do Tirol, na Áustria: S. Coração de Jesus, N. Sra de Lourdes, São José, São Luís, Sta. Cecília, Sta. Luzia e Sta. Rosa de Lima". (R. Azzi - Os Salesianos no Rio de Janeiro - vol. IV, pág. 301).
Pena que nem todas estas imagens estão mais lá na igreja!
CONSTRUÇÃO. Na década de 20, a construção da igreja continuava. Devagar, mas sempre. Naquele tempo, o cimento era, ainda, objeto raro no Brasil. Mas a igreja é toda de cimento. Vinha da Alemanha. Falava-se "barrica" e não, "saco de cimento", como hoje. Cada barrica custava cinco mil réis.
O Sr. Paulino, coadjutor falecido há pouco, dizia que as pedras eram tiradas do morro da Santa. E há muita pedra nesta igreja.
Conforme dizia o Pe. Consolini, houve um grande problema com o teto. A construção vinha lá da entrada em direção ao atual presbitério que ainda não existia. O problema era que o teto não acabado já estava pesando 20 toneladas. Para sustentar todo aquele peso, o engenheiro da época planejou uma colossal viga de cimento. Como ficaria? O trabalho ia agredir a beleza da obra e ia contra o plano primitivo de Delpiano. Lembraram-se do Pe. Consolini. Ele podia resolver o assunto. Pe. Del Oca, Inspetor Salesiano da época, falou com ele. Pe. Consolini colocou uma condição:
- "Carta branca".
Tudo ficou acertado. Pe. Consolini começou a destruir o teto. Foi uma reclamação geral. Pe. Consolini estava destruindo a igreja!
Pe. Del Oca, o Inspetor, interfere:
- Você está destruindo a igreja!
- O senhor não me deu "carta branca"?
Pe. Consolini destruiu todo o teto. Construiu outro. Prontinho, só pesava 2 toneladas. É o atual, bem diferente do outro. E a viga de cimento para sustentar aquele peso não está lá.
TORRE. Também é obra do Pe. Consolini.
Os alunos do Riachuelo contribuíram para a sua construção. Diz o Prof. Walmor que, na época, era aluno de lá:
"Foi por volta de 1930, ou em 31, talvez em 32, quando já era Diretor o Pe. Miotti, que viemos mais de uma vez, participar de festas beneficentes de Niterói. Aqui se fazia grande esforço, para levar ante a construção da igreja. Representamos a farsa "Pau para toda obra". Levamos à cena, também, a opereta "Os Cadáveres Ambulantes", ambas em benefício da construção da torre da Igreja. Boa parte da Basílica não estava ainda rebocada".
Continua o Prof. Walmor:
"No "Pau para toda obra", não tive papel, mas cantava um entreato que ficou famoso em nosso meio, o Pé-de-Moleque. Era uma canção triste, ao gosto da época. Cantava-a, caracterizado de vendedor de rua, sustentando uma bandeja cheia daqueles doces de amendoim. Ao cantar, apregoava "Olha o pé-de-moleque". E continuava: Custa apenas dez tostões. Olha que é para pagar um metro quadrado da torre.".
Terminado o número, descia à platéia e, naturalmente, a bandeja ficava vazia de doces mas cheia de notas. Muitos davam mais dinheiro que o preço do pé-de-moleque e não queriam receber o troco". (Walmor - Recordações da primeira metade do século).
Quem observa a torre vê que ela está desproporcionada. Sua altura não coincide com a extensão da igreja. Pe. Consolini dizia que, durante a construção, havia críticas contra ele. Diziam que estavam gastando muito dinheiro. Um Superior da época questionava a demora do trabalho. Pe. Consolini "fechou" a obra antes do tempo. Esta, é a razão daquela desproporção. São coisas que acontecem.
PRESBITÉRIO. Estava-se aproximando o ano de 1933, cinqüentenário da chegada dos Salesianos ao Brasil. Preparavam-se grandes festejos. O Presbiatério tinha que estar pronto. São trabalhos do Pe. Consolini o presbitério, os altares Mor, do Coração de Jesus, de Dom Bosco, menos a cúpula.
ALTAR-MOR. Todo ele é de mármore de Carrara. Inclusive, foi empregado o mármore Pi, próprio para escultura. Quem observa os detalhes vê a delicadeza da obra.
Maria Auxiliadora devia ficar num esplêndido dossel, todo ele de mármore de Carrara. Porém, não havia nem dinheiro, nem tempo. As festas do Cinqüentenário estavam aí. Pe. Consolini tomou uma decisão: Colocou Maria num arco provisório. O dossel de fino mármore ficaria para depois. Só que este depois ficou até hoje.
A imagem de Maria Auxiliadora que está no altar-mor é a mesma que ficou por muitos anos, na antiga capela interna do Colégio. Toda de madeira, foi encomendada em Munique, Alemanha, pelo Pe. Borghino, primeiro Diretor do Colégio Santa Rosa.
Chegou a Niterói, no dia 26 de janeiro de 1886.
Em 1933, o Colégio Santa Rosa viveu dias de grandes festas. No dia 14 de julho, fez 50 anos que os Salesianos chegaram ao Brasil. O Santuário estava preparado para os festejos que foram dignos da comemoração de um Cinqüentenário.
Mas, depois, vieram as más línguas que nunca faltam. Dizia-se que Pe. Consolini tinha colocado Maria Auxiliadora num trampolim.Certo. Mas parece que Maria Auxiliadora gostou do trampolim. Hoje, quando já celebramos o Centenário do Colégio, ela continua lá no alto do trampolim provisório, bem na dela.
SINOS. São quatro os sinos da torre. Foram bentos e instalados no dia 16 de dezembro de 1945. Fabricados na "Sinos Samassa", em Sorocaba, São Paulo.
Cada um pesa, respectivamente, 2.220, 1.160, 685 e 480 quilos. Sua tonalidade é dó, mi, sol, lá que é o início da antiga melodia gregoriana SALVE REGINA.
Em 1982, a "Fundição Artística de Sinos Crespi" montou um sistema em que os sinos são acionados eletronicamente. Foram bentos por Dom José da Costa Gonçalves e inaugurados, com solenidade, na festa dos ex-alunos, no dia 10 de outubro de 1982.
CÚPULA. Foi construída na década de 50, no tempo de Pe. Antônio Agra. Foi duramente criticada porque não seguiram o estilo Bossan, conforme o plano de Delpiano.
ÓRGÃO. Foi inaugurado no dia 16 de abril de 1956, pelo Maestro Fernando Germani, organista do Vaticano.
É considerado um dos maiores que existem. São 11.130 tubos, desde o menor com 8 milímetros, ao maior com 12 metros de altura.
Citemos uma informação do jornal " O Fluminense":
" O conjunto é comandado e controlado na consola (mesa de teclados), na qual estão além dos cinco teclados e da pedaleira, 211 placas móveis que acionam os registros, os 51 "accoppiamenti" de oitava, os anuladores, os sinos, a harpa e os trêmulos. O organista tem ainda à disposição, 90 pistõezinhos, 20 pedaletes e 4 pedais que servem para tornar fácil a manobra de todos os comandos. Todo o trabalho do organista é facilitado pelas indicações luminosas e pelos mostradores que ajudam a tocar esse instrumento, tornando-o mais maleável que os pequenos órgãos antigos". ( "O Fluminense" - 27 e 28 de agosto de 1989).
Ultimamente, o Guia Verde Michelin, especializado em Turismo, atribuiu ao órgão o símbolo de 3 Estrelas, classificando-o como um dos pontos de atração turística internacional.
SACRISTIA. É ampla e espaçosa. Notável é o móvel que lá existe. Está dividido em três partes. Uma delas consiste de oratórios, como ricos genuflexórios e assentos. No móvel, guardam-se os objetos para o culto. Foi feito nas Escolas Profissionais de Bom Retiro, São Paulo.
Ao lado da sacristia, estava previsto um belo pórtico, idéia do engenheiro Delpiano. No seu lugar, hoje, está a cantina que poluiu a beleza da obra.
ALTAR DAS ALMAS. Está lá no fundo da Basílica, ao lado da entrada. Foram colocados ali, os restos mortais das vítimas do desastre de trem acontecido perto de Juiz de Fora (Mariano Procópio), no dia 6 de novembro de 1895.
A princípio, os restos mortais foram colocados no Monumento. Diz o Pe. Luiz Marcigaglia: "A exumação, no cemitério de Mariano Procópio, além da prévia autorização das autoridades, foi preciso autorização das autoridades, foi preciso fazê-la à sorrelfa, na calada da noite, para evitar a oposição do povo". (Os Salesianos no Brasil, 1883 - 1903). A "Capela das Almas" fora já inaugurada por Dom José Pereira Alves, que lá celebrou a primeira Missa.
No dia 6 de novembro de 1931, 36o aniversário do desastre, as urnas foram trazidas solenemente do Monumento. No Santuário, Missa Pontifical de "Requiem" , celebrada por Dom Mourão, antigoo aluno de Dom Lasagna. O elogio fúnebre foi feito pelo Pe. Consolini. Pe. Luiz Marcigaglia fala que, na urna de Dom Lasagna, foram colocados o báculo e a mitra que pertenceram a ele.
Vítimas do desastre de 6 de novembro de 1895, cujos restos mortais estão no altar:
- Dom Luiz Lasagna (3/5/1850 - 6/11/1895)
- Pe. Bernardino Villamil
- Irmã Júlia Argenton
- Irmã Edwiges Braga
- Madre Tereza Rinaldi
- Irmã Petronilla Imas
- Sra. Joanna Lusso
Mais tarde, foram colocados ali, os restos mortais de outros salesianos. São eles:
- Lourival Farias (1929)
- Pe. Domingos Minguzzi (1929)
- Pe. Frederico Giora (1949)
- Cl. José Jorge (1954)
- Coadj. Jorge Menegazzi (1955)
- Pe. Braz Czesarovics ( 1955)
- Pe. Noé Gualberto (1956)
- Pe. Gilberto Barros (1956)
- Coadj. Ananias P. Aquino (1957)
- Pe. Paulo Consolini (1961)
- Coadj. Manuel Leme (1971)
- Pe. Leandro Altoé (1972)
- Coadj. Henrique Fiffi (1972)
artigo de autoria de Pe. Joso, transcrito do Anuário de 1991 do Colégio Salesiano Santa Rosa.
No biênio 1996/1997, a basílica foi reformada, sob a administração do Pe. Gregório Batista. Primeiramente, a parte externa foi pintada. Depois, já em 97, o interior foi reformado.