NOSSAS FIGURAS FOLCLÓRICAS - 4
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O nome é simplesmente Nazareno. O sobrenome não sabemos. Talvez poucas pessoas tenham alguma lembrança daquele homem simples, de profissão chapeado - ou carreteiro, como chamamos por estas bandas. Mas por trás dessa simplicidade, havia um espírito de liderança e organização, que fazem com que Nazareno, seja por merecimento uma das figuras mais significativas do folclore mombacense, pois por muitos anos seguidos, suas atividades nesse sentido tinham início no princípio de novembro de cada ano e se estendiam ainda por muitos dias de janeiro, mesmo passado o dia 6, considerado a data máxima dos chamados reisados, em homenagem ao DIA DE REIS.
Pois era nesses reisados, denominados nestes sertões de "brincadeira dos caretas", que Nazareno se revelava um verdadeiro expert, organizando o grupo que iria, sob seu comando, construir ou reformar peças que restaram do ano anterior, tais como, armaduras que simbolizavam animais como o boi, o bode , a burrinha etc., sob as quais havia, individualmente, uma pessoa para dar os movimentos característicos de cada animal; e ainda alguns instrumentos que faziam parte da indumentária, como a fantasia, constituída de várias peças, entre as quais, a máscara - ou careta, que dava nome à brincadeira. Havia que se ensaiar muito para não se fazer feio nas apresentações, e esses ensaios aconteciam todas as noites na então chamada Rua da Lagoinha, sendo assistidos por algumas pessoas, principalmente a meninada, que ficava olhando meio de longe e de prontidão para uma possível carreira, com medo da perseguição de um desses bichos, principalmente o "babau", já que isso também fazia parte da brincadeira.
No início de dezembro começavam então as apresentações "oficiais", toda noite em uma casa diferente, sendo obrigação do dono da casa, além do pagamento de uma quantia em dinheiro, de acordo com a arrecadação entre os assistentes; de fornecer aos caretas bebida e comida. Haviam danças de cada animal, acompanhadas de cantigas típicas desses festejos, sendo que uma das que mais chamavam a atenção, era a da burrinha, cuja música respectiva tinha uma rima que dizia : "a burrinha do meu amo, come tudo que lhe dão. Só não come carne fresca, Sexta-feira da Paixão". Geralmente, a apresentação terminava com a matança do boi, quando então era lido uma espécie de "testamento do boi", sendo esse escrito em forma de versos, beneficiando pessoas de destaques com as partes nobres do bovino e outras pessoas menos populares com as piores partes. Lembramos ainda de alguns desses versos: "Do meu boi, o patin... É pro seu Chico Martin"; "Do meu boi o filé ... É pro seu Zé Tomé"; "E pro seu seu Chico Tatu... Eu vou deixar um pedaço do ...".
E pois com essas exibições quase que todas as noites, Nazareno e sua turma, divertiam a todos até enquanto lhes rendessem uns trocados. Do contrário, o material era guardado, até o final do ano, ou utilizado para algumas raras apresentações durante as festas juninas. Nesses intervalos, muitas das geringonças eram destruídas pela meninada, vez que não havia um local seguro para que fossem guardadas, ficando pois a mercê da vontade da molecada, que mesmo sem maldade, quebrava algumas peças na tentativa de manuseá-las.
Isso durou enquanto Nazareno teve força e voz para o comando, tendo morrido com ele a "brincadeira dos caretas, em Mombaça". É uma pena que manifestações folclóricas como essas e outras que desapareceram com o tempo, não tenham tido continuidade, quer por falta de pessoas vontadosas, quer por falta de interesse de instituições públicas ou privadas.
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