Saudades da velha Radiadora 

Zé Jaime... Zé Jaime... Castelo de Castro... Zé Jaime... Castelo de Castro... Castelo de Castro... Castelo de Castro... Era assim, com o anúncio de voto por voto, que o locutor do sistema de auto-falantes estrategicamente instalado, ia repassando para o grande público postado de fronte à sede da Prefeitura Municipal, o resultado das apurações das urnas do município de Mombaça no ano de 1958. E iam se fechando os quadros marcados no papel e contendo uma diagonal, perfazendo cada quadro, cinco votos, anotados por muitos cabos eleitorais, ou mesmo eleitores mais apaixonados por seus partidos.

       Um dizia daqui: “Castelinho tá na frente com 32 votos”. O outro respondia dali: “é, mas daqui a pouco vão abrir a asa branca”, numa referência a uma urna que sempre em eleições anteriores dava maioria para Zé Jaime.

       De repente  alguém saía do recinto da apuração e dava a notícia: “a urna do Cangati foi impugnada, e a coisa vai mudar de figura, pois o número de votos é maior que o número de eleitores”. Aquela noticia não demorava mais do que cinco minutos para chegar em toda a cidade, o que fazia com que maior número de pessoas acorressem à praça principal, aumentando o barulho no local, chegando mesmo a prejudicar os trabalhos no interior da Prefeitura, provocando de imediato um ultimato do Juiz Eleitoral: “se o público não fizer silêncio, a transmissão da apuração será suspensa, divulgando-se somente o resultado final de cada urna”.

       E nesse ritmo passavam-se vários dias para que fossem apurados alguns poucos milhares de votos, proporcionando uma expectativa geral na população e ensejando que a cada dia, ou mesmo a cada hora fossem feitas algumas apostas, “no pau”, “dou cinqüenta de maioria”, “me dê cento e cinqüenta de maioria”, “aposto mil contra seiscentos”.

       Não é necessário dizer que isso era um dos grandes fatores de diversão para um povo que as tinha com poucas opções. Algumas não raras vezes, também motivos para calorosas discussões verbais e até mesmo agressões físicas.

       Fim das apurações. Muita tristeza para os perdedores em contradição com a alegria dos vencedores. Mas os dias que se seguiam eram de monotonia para todos, ficando a saudade da agitação dos dias anteriores.

       2002. 27 de outubro. 23: 45 horas e 70 MILHÕES de votos apurados em pouco menos de seis horas. As apurações não tiveram o charme daqueles tempos. Não houve a animação prolongada por vários dias. Nesse curto espaço de tempo se conheceu os eleitos, Governador do Estado e  Presidente da Republica.

        Talvez por enquanto exista a alegria dos vitoriosos. Mas os perdedores não puderam ser vistos na praça expressando suas tristezas. São coisas do progresso, que trouxe para

este longínquo rincão as maravilhas da informática, proporcionando que até mesmo o eleitor mais humilde e até mesmo analfabeto, pudesse manifestar de maneira “consciente” sua cidadania.

         Se o resultado foi bom, ou não, só o tempo dirá!!!

 

 

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WebMaster: David Elias N. Sá Cavalcante

Editor/Redator: Elias Eldo Sá Cavalcante

F O L H A   D E   M O M B A Ç A - Nº 15 - NOVEMBRO/2002