Pendêncio

 

Não bastasse ser um nome estranho, “Pendêncio” não é nome comum, não estando registrado em dicionários, a não ser “pendência” que significa briga ou “pendencio” que segundo Aurélio refere-se a 1ª pessoa do presente do indicativo do verbo pendenciar: ter pendência ou conflito, briga;  é também um lugar estranho, a começar pela sua localização: um “panelão”, localizado entre cadeias de montanhas, tendo como limites, a Serra do Maia pelo lado nascente (leste), a Serra dos Tanques pelo lado norte, o sitio Açude velho pelo poente (oeste) e terras do sitio Bom Jesus ao sul. É daqueles lugares em que até pouco tempo só aparecia por lá quem tinha negócios ou estivesse se escondendo por alguma ilicitude. Talvez por isso mesmo  tinha uma grande rotatividade de proprietários, tendo tido cerca de dez “donos” nos últimos trinta anos, apesar de suas terras de excelente qualidade para culturas tradicionais como o milho, feijão e até mesmo fumo de boa qualidade, como demonstrou um dos últimos moradores do lugar. É também apto para a pecuária, mais notadamente para a ovinocaprinocultura e ainda mais especificamente para a primeira. Lá mais para cima da Serra do Maia também existem dois “olhos d’água” sendo que um dos dois nunca secou, até mesmo nos períodos de secas mais intensos, os quais não ficam também muito distantes de pequenas cavernas, chamadas de “loca de pedra” onde trabalhadores rurais faziam rancho por períodos de até duas semanas enquanto cultivavam “roças” na região. Estando esses longe de suas casas, chegavam a armarem até oito redes numa dessas locas, onde ficavam protegidos das chuvas e outras agruras da natureza. Entretanto, a água dessas fontes não é de boa qualidade para o consumo humano, não existindo outras alternativas para os moradores dali, sendo esse talvez o motivo de ninguém “criar raízes” ali. Já mais recentemente, foram construídos um cacimbão tipo amazonas (que também não tem água potável) e uma cisterna cuja capacidade de acumulação das águas das chuvas é pequena. Agora já existe estrada de acesso, sendo de péssima qualidade e aumenta em muito a distância para localidades vizinhas.

            Mas apesar desses prós e contras, o Pendêncio tem hoje em dia suas peculiaridades, como por exemplo, a passagem de motoqueiros vindos do sitio Tanques rumo ao sitio Açude Velho, mas nunca em sentido contrário, pois as condições de subida da serra tornam essa tarefa impraticável. Descendo, “todo Santo ajuda”. É também intensa a passagem por cima da casa principal, de aviões da rota Brasília-Fortaleza, dando a impressão de estarem muito próximos em virtude do eco motivado pelas características locais já mencionadas.

            Fizemos a descrição acima para demonstrar como o Pendêncio é mesmo “fora de série”. Senão vejamos: no ano de 2001, ninguém da região queria ir morar naquele lugar, apesar das ótimas condições de moradia ofertadas pelo novo proprietário. Eis que em nova visita, encontramos TRÊS moradores ali, e ainda por cima bastantes satisfeitos com o lugar.Numa das casas estava Dona Eliete, mulher ainda jovem, que cuidava da nova criação de ovinos e caprinos, enquanto seu marido Abel saíra para visitar o pai que estava doente em outra localidade. Ao lado de Dona Eliete, cinco crianças pequenas, tendo a mais velha ainda não completado 9 anos e a mais nova tendo apenas 1 ano e 9 meses. E ainda está grávida de 5 meses, afirmando que se for menino, chamar-se-á Kércio e se for menina será Talita. Teriam essas crianças os nomes de Maria, José, Pedro, Joana etc? Nada disso. Os nomes de seus cinco filhos são: Tamíris, Tália, Taline, Sávio e Keflin.

            Enfim, o Pendêncio é ou não é mesmo um lugar “sui-gêneris?”

 

 

 

 

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Editor/Redator: Elias Eldo Sá Cavalcante

F O L H A   D E   M O M B A Ç A - Nº 19 - MARÇO/2003