Crônica

 

Porronca

 

Muitas localidades brasileiras têm nomes ou "apelidos" originados de características diferenciadas do local ou até mesmo de fatos marcantes que ali tenham ocorridos ou pelo menos a tradição afirme sua veracidade. Algumas dessas, como Itapipoca (ita = pedra + cor das rochas brancas imitando pipocas) que se  localizam em torno da cidade, ou Itapagé  (pedra do pagé) numa referência a rocha que tem o formato de um feiticeiro. Na região do Sertão Central, Pedra Branca tem origem na existência de uma grande rocha de cor branca que marcava o caminho dos tropeiros que demandavam sertão à dentro trilhando aquelas paragens.

            Mas uma das lendas regionais mais incríveis é com relação ao nome da cidade de Quixeramobim, localizada neste nosso sertão central. Diz a lenda que um Português de muitas posses (não tivemos acesso a pesquisas sobre o nome do mesmo) foi um dos beneficiados pelo Reino de Portugal com léguas de terras naquela localidade cearense, vindo então com um grupo de serviçais para tomar posse da propriedade, deixando sua família em sua terra natal. Após criar uma estrutura residencial como sede da nova fazenda, mandou então buscar sua família em Portugal, a qual, chegando de navio em Fortaleza, já era esperada pelo então fazendeiro que se fazia acompanhar de muitos peões e uma tropa de animais de cargas. Comboio pronto,é feita a difícil e demorada viagem de toda a família e respectiva bagagem rumo ao interior cearense. Na chegada, já quase no destino final, quando  da última travessia de um rio cheio, já que se estava no período de chuvas, um peão mais desatento não conseguiu controlar uma mula mais afobada, vindo essa a  escorregar e junto com ela lá se vai a carga mais preciosa do fazendeiro: dois barris de "vinho do porto", que são destruídos na queda. Isso foi o bastante para que o patrão enfurecido desse uma grande surra no peão, e nos dias que sucederam-se viesse o fazendeiro diariamente àquele local e passasse horas cheirando o chão. Comboieiros que passavam perguntaram por que aquela atitude, ao que o mesmo respondeu: "aqui cheira meu vinho". Nessa estória de se trocar o "v" pelo "b" e variações tão costumeiras de pronúncia, chegou-se então a "aqui-xera-mo-binho", variando essa expressão ao longo do tempo até chegar ao nome atual "quixeramobim". Pode até não ser verdade, mas que é interessante, é!

            Mas nos desviamos do nosso assunto de hoje, qual seja, a origem do "apelido" que nossa Mombaça recebeu em décadas passadas: "porronca". Sua origem deveu-se a rixa existente entre jovens mombacenses e senadorpompeuenses. Os mombacenses referiam-se a cidade de Senador Pompeu como "curral da fome", numa alusão à grande mortalidade ali havida entre os operários alistados na seca 30/32. Nessa época, todos os trabalhadores da região, desde a população inhamunshense até quixadaenses eram cadastrados para trabalhar nas obras de construção da barragem do Patu, em Senador Pompeu, cuja coordenação dos trabalhos cabia ao exército, havendo ali portanto  grande concentração de trabalhadores que, mal alimentados e em péssimas condições de higiene foram alvos de várias doenças, entre as quais, a fatal cólera. Morriam inúmeros operários diariamente, o que fez com que o governo federal fechasse o cerco, não permitindo que ninguém saísse dali, numa medida preventiva para evitar a disseminação da perigosa doença. O local parecia mesmo um curral, o que originou o apelido "curral da fome" para a hoje simpática e progressista cidade de Senador Pompeu.

            E o nosso "porronca", veio de onde? Conta-se que durante um jogo aqui realizado entre as seleções de Mombaça e Senador Pompeu, houve uma grande briga entre torcedores locais e visitantes, com desvantagem para os últimos. Então, passado algum tempo, as duas seleções combinaram um amistoso para ser realizado novamente aqui. Um chefe de torcida tentava organizar um grupo de torcedores para custear as despesas de transporte, encontrando muita dificuldade para conseguir interessados na viagem. A resposta era sempre a mesma: rapaz, eu não vou não, lá o "pau ronca!".  Numa variação de pronúncia ao longo do tempo, os senadorpompeuenses encontraram sua vingança no apelido dado aos seus desafetos: "porronca". Graças a Deus, hoje não mais existem rixas entre essas duas cidades, acontecendo apenas que um  irresponsável aqui ou acolá tome alguma atitude hostil para "manchar" o bom relacionamento existente, o que entretanto não quebra as boas relações de amizade entre curraisfomenses e paurronquenses.

       

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Editor/Redator: Elias Eldo Sá Cavalcante

F O L H A   D E   M O M B A Ç A - Nº 20 - ABRIL/2003