Há alguns anos, estudando e residindo
temporariamente em Fortaleza, e na qualidade de correspondente do
jornal Tribuna do Ceará, publicamos nesse matutino cearense uma
reportagem sobre um estupro ocorrido em Mombaça.
Por informação errônea de fonte imprecisa,
noticiamos o fato e citamos o nome do autor: CHICO GALINHA. Alguns
dias depois, retornado à nossa terra, de onde, aliás, nunca
conseguimos nos ausentar por muito tempo, fomos procurados pelo
Chico Galinha, também conhecido como Chico da Loira - por suas visões
de uma “loira russa”. Havíamos incriminado injustamente o pobre
Chico Galinha, que num ato de humildade, nos perdoou após
justificarmos nossa falha. Havia sido um outro Chico Galinha que
cometera esse perverso ato e já estava preso. Graças a Deus não
houveram maiores conseqüências para o Chico da Loira nem para mim,
com esse episódio ficando esquecido no tempo.
Mas quem é mesmo o Chico da Loira?
Chico Galinha ou Chico da Loira ainda vive e desde muitos
anos tem renda no conserto de bicicletas e da venda de lotes
herdados de seus pais na chamada Vila Betânia. É um sujeito de boa
índole e muito trabalhador, tendo vivido por muitos anos do cultivo
agrícola da propriedade da família, localizada à margem esquerda
do Rio Banabuiú e vizinha do Colégio Agrícola.
Chico da Loira tinha visões constantes de uma
loira que lhe perseguia insistentemente a “mando do comando
russo” e quando isso acontecia, ficava muito agitado, inspirando
profundamente e soltando o ar também com muita intensidade, o que
produzia um som que o caracterizava nesse ato ilusório e então o
mesmo apontava para uma esquina, afirmando:
-
veja, lá está ela. .
Isso acontecia sempre nas proximidades da
Igreja Matriz, próximo a sua casa. Olhava-se e não se via nada,
pois a Loira Russa existia apenas na imaginação do Chico Galinha,
apesar de muitas crianças da época, entre as quais me incluo,
acreditarem existir algo de verídico naquilo, tamanha era a cara de
pavor que o mesmo aparentava.
Segundo informações prestadas por ele mesmo,
aquilo começara quando o mesmo servira ao glorioso Exército
Brasileiro, em Fortaleza. Acreditamos que alguma loira dos meretrícios
da Capital Alencarina, como a famosa “Cinza” , o “Curral” ou
mesmo os cabarés do Mucuripe. A verdade é que alguma loira lhe
causou tamanha impressão que jamais saiu de sua mente e alguém
deve ter lhe “prestado a informação” de que a Loira era uma
espiã Russa, sendo isso o bastante para que Chico Galinha
ou da Loira jamais
tenha se aproximado de outra mulher.
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