NOSSAS FIGURAS FOLCLÓRICAS - 2
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Como toda cidadezinha do interior, a nossa também tem lá suas peculariedades, como por exemplo, as figuras folclóricas, que podem ser, desde o comerciante, o barbeiro, o engraxate ou até mesmo um bêbado ou político. Enfim, não há distinção de cor, religião ou classe social para fazer parte dessa pequena parcela da população. Vamos hoje falar do João Barbudo, uma figura que por muitos anos fez a alegria da meninada, costumeiramente, aos sábados, quando ele se deslocava do Sitio Ximangue para a cidade, onde deveria fazer as compras para a semana seguinte. Começava tomando a primeira "chibatada" de pinga logo na entrada da cidade, isso ainda cedo da manhã,e lá pelas 11 horas já começava a dar os primeiros sinais de que a "mavada" tava fazendo efeito.
Era calado quando estava sóbrio, mas lá pelas tantas, tornava-se muito falante, embora a cantilena fosse a mesma: "ZÉ JAIME É QUE É O HOMEM DA MOMBAÇA". Daí pra frente era a mesma coisa até o escurecer, quando então já cansado e faminto, dormia num pé de calçada qualquer até lá pela meia noite. Acordava, e cambaleando voltava para casa a pé, sem levar a feira da semana, que mandava buscar noutro dia. Era um homem trabalhador e de índole pacífica, nunca tendo sequer levantado a voz para a meninada que lhe dirigia brincadeiras, às vezes até de mau gosto.
Não precisa dizer porque Zé Jaime era seu protetor, enquanto que outros políticos não gostavam dessa ladainha propagandista em favor do adversário.
Certa vez, chegou um destacamento de policia para a cidade,e um dos policiais, passando pelo centro da cidade, onde João dava seu show particular, não gostou da barulheira que o mesmo fazia e entrou na budega para vê o que era aquilo. Percebendo que era um bêbado, quis retira-lo do estabelecimento à força, não conseguindo êxito, já que João dificultava a ação, agarrando-se ao balcão do comércio, sendo essa sua única reação. O policial irritou-se e bateu nele com um cassetete, o que provocou revolta nas pessoas que ouviam "os discursos", inclusive na meninada que gostava daquela movimentação e tinha no bêbado um ídolo às avessas.
Depressa alguém correu para avisar Zé Jaime das arbitrariedades do policial contra seu protegido e, num piscar de olhos lá estava ele para resgata-lo das mãos do agressor, providenciando inclusive para que no mesmo dia, esse péssimo policial voltasse para o quartel de onde tinha vindo.
Esse fato mexeu com os brios do velho João, fazendo com que o mesmo desaparecesse por uns bons tempos das ruas da cidade, para tristeza do seu "fã clube".Mas um dia ele voltou e continuou na mesma vidinha ainda por muitos anos, até não poder mais, debilitado pela velhice.
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