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Francine/Bernd

A carta a seguir é dirigida a Bernd, Coimbra:

Caro colega Leitor!

Li as palavras que dirigiu à Francine Arroyo e, tendo participado na elaboração do documento dos leitores de Lisboa, tomo a liberdade de lhe responder, uma vez que penso que ocorreram alguns malentendidos.
Antes de mais quero frisar que é importantíssimo, num momento de luta como este, unirmo-nos e esclarecermos exactamente os nossos objectivos. Todos concordamos que o Anteprojecto é inaceitável, mas ao formularmos a nossa contestação deparamo-nos com questões relativas ao estatuto do Leitor que sempre estiveram em aberto e nunca foram tornadas claras, porque nunca foi tão inadiável como agora. Não concordo que "no momento em que nos estão a tirar a água, estamos cá a discutir as qualidades de vinho". Era, aliás, perfeitamente previsível, que quando nos pusessem diante dum situação como esta, teríamos obrigatoriamente que esclarecer o que pretendemos enquanto leitores que somos.
E é justamente isso que está a acontecer. Temos de saber o que pretendemos, para podermos iniciar uma contestação que, penso, todos subscrevemos:
? se queremos uma integração na carreira académica para todos os docentes de línguas estrangeiras (tal como acontece com os assistentes)
? se queremos a possibilidade de optar (doutoramento, ou seja, carreira ou não), assegurando independentemente disso o vínculo à institituição após um determinado número de anos de serviço
? se queremos manter uma situação como a actual, o que significa: a) contratos renováveis de três em três anos, com toda a instabilidade que isso implica e b) valorização de espécie alguma de doutoramentos e mestrados feitos pelos leitores
Quando elaborámos o documento, tivemos o cuidado de não escrever nada que desrespeitasse as diversas opções que os leitores possam querer seguir. Nunca dissemos que o leitor sem doutoramento não exerce condignamente a sua profissão!!! O que nós quisemos dizer, e penso que não há confusões quanto a isso, é que deve ser dada ao leitor a possibilidade de "progredir numa carreira profissional", se assim o desejar. O que não faz sentido é que um leitor com doutoramento e que portanto investiu fortemente numa formação especializada, que vai reverter a favor da instituição e dos alunos, não seja devidamente reconhecido em termos remuneratórios. Situação que actualmente ocorre devido a uma clara desconsideração pela área das línguas estrangeiras enquanto área científica. É nesse aspecto que falamos de dignificação!
O colega discorda da obrigatoriadade de doutoramento para os leitores. Estamos todos de acordo, reconhecendo perfeitamente que ele não é a condição para um ensino de qualidade. Claro que gostaríamos de ter o privilégio de poder escolher entre fazer carreira ou não, assegurando condições satisfatórias para qualquer das opções (vinculação e remuneração). É nessa ordem que se situa o nosso documento. Agora só resta saber se essa reivindicação terá possibilidade de sucesso nos tempos que correm...
Quanto à sua ideia de que o prestígio das línguas não é baixo neste país, como é que explica então que o Ministério se proponha a pagar aos leitores, especialistas de língua estrangeira a nível superior, pouco mais de 200 contos por mês, sem lhes garantir segurança de espécie alguma, sem lhes permitir trabalhar para outra instituição, sem lhes dar a possibilidade de abater nos impostos os livros de que precisam para exercer o trabalho com qualidade (!), sem lhes reconhecer actos de formação científica etc.? A não ser que pensam que vivemos do ar... e do prestígio que os alunos ainda lhe reconhecem.
Saudações,
Claudia Fischer (leitora de alemão na FLUL)
 

4 de Junho 2001