Ausência

Ausência
"Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu
gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero porque em meu ser tudo estaria
terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos
desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma
nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua
face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu
desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da
noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da
névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos
silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque
poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento,
do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz
ausente, a tua voz serenizada."
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Autor: Vinícius de Moraes, em seu livro
"Antologia Poética"
Enviado por: Paulo Af.Pavani Jr
mailto: paulopavani@hotmail.com



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