Spamf rola pela A5 abaixo, alucinado a 50 quilómetros
por hora, o arvoredo do Monsanto a bailar ao mesmo vento que lhe empurra as
costas, os rolamentos do skate a rosnar baixinho sobre o tapete de asfalto. O
seu cérebro é bombardeado pela sobrecarga de dados, o hiperorgasmo a sete
sentidos. Pelos tímpanos adentro jorram pancadas de aríete em ritmo
berbequim, guinchos harmónicos tirados à faca, o ruído de fundo da Criação.
O subwoofer na mochila faz-lhe vibrar o corpo como o clítoris treinado de uma
pécora tailandesa. 60 quilómetros por hora. O arquiduque do caos, um camaleão
urbano, arauto da nova ordem, barão eléctrico. E 70 quilómetros por hora.
Calcanhar direito força para baixo perna esquerda flecte shhhhhhk POC e HOP!
weeeeeeeeeeeeee sobre o rail em ângulo assustadoramente recto, a duas rodas
como os duplos nos vídeos de 600 paus, as mãos a desenhar rituais arcanos no
ar de 40 graus que o fustiga, como que a buscar o equilíbrio numa cabala
anacrónica. A prancha demoníaca arranca electrões ao metal que jaz
torturado por baixo dos rolamentos, um tufão de coriscos que avassala o
torpor de quem, sentado no trânsito, assiste transido à passagem da criatura
ínfera, o elemental do speed. Curva, curva, curva, curva, curva, curva, curva
mas é em frente!, perdendo o contacto com a Terra, entregue às carícias dos
espíritos etéreos, partindo sem pavor nem donuts à parábola que o leva em
arco meteórico para cima, sobre o TIR, para no apogeu se deixar paralisar por
um pico-segundo, o mar quântico a rugir lá embaixo e tudo em si Uno com a
Vida, a pala do boné como uma catana zairense a reclamar para o seu brandidor
o direito ao nirvana. 2 dread 4 sk8. Fim de pausa. Derivada negativa,
constante gravítica de novo a trabalhar a seu favor, milimetricamente
sobrevoa o Corsa branco e AAAAAAAAAAAAAHHH ei-lo em pleno eixo norte-sul,
esquerda, direita, direita, pica, trava, Praça de Espanha 250 metros, faz
sinal com a mão enluvada, afasta as pernas para ventilar o escroto, põe a
cereja em cima do bolo com uma pirueta sobre o traço contínuo. Mergulha
triunfante no vórtex citadino deixando atrás de si um rasto de feromonas e
vibrações em megabass, o cereal killer da Cova da Moura, o cromo mais difícil.
Pikachuuuuuuuuuuuuuu!!!