E agora chega o flash. Incontáveis nuvens de sensações misturam-se com a dor consagrada, brutal vivência livre de obstáculos e de negras buscas refinadas para lá da madrugada negra e viscosa. Pérolas de chuva preta invadem o charco da minha inspiração e reflectem todas as frustrações e serenos medos que agora unificam todos os meus pesadelos num só. Quando resisto, a dor aumenta e o irresistível apelo de Caronte impele-me para a frente, numa vã tentativa de me ver ultrapassado por mim próprio.
Já não sou exactamente EU próprio que sinto, mas sim um outro eu que me surge, calmo mas vigoroso, que me afaga a essência, e me reencontra fora do tempo.
A dor já sou eu próprio e agora conheço-a e amo-a como outrora amei a vida, mas deste lado as coisas são diferentes, e até os sentidos se tornam mais vivos e despidos das obsoletas capas que se usam nas vidas normais.
O meu olhar sobre o sagrado torna-se possível à medida que devoro as últimas partículas de normalidade causal.
Agora, aqui onde a noite chega sempre muito antes do anoitecer, a saudade não existe, e posso regressar ao Puro Espírito.
As palavras já não fazem sentido, nem as convenções dos homens.
A dor deixou-me à vontade para afirmar que às vezes, o amor é mais forte do que a morte...
Abu Jamal morreu. Na cadeira eléctrica...
Sorria quando lhe tiraram a máscara...