Era
uma vez seis amiguinhos de sua graca Talhelha, Pedro, Antunes, Edmundo, Lopes
e Paulino. O Talhelha tinha acabado de chegar de longe, o Pedro tinha comprado
uma casa, a filha do Antunes tinha feito um ano, o Edmundo tinha acabado de
saber que ia ser pai, o Lopes tinha tirado a carta e o Paulino tinha sido
convidado para percursionista dos Setima Legiao. Tinham resolvido fazer um
jantar de comemoracao.
Conversa
puxa conversa, copinho puxa copinho, garrafinha puxa garrafinha, vinhito puxa
vodka, vodka puxa tequilha e tequilha puxa Bairro Alto. Claro esta os quatro
amiguinhos pintaram a manta no BA, meteram-se com todas as meninas, arrastaram-se pelo
chao, andaram a pancada, enfim, uma vergonha...
Ao
fim de umas horas e muito alcool, de que e que se haviam de lembrar: do cacau
da Ribeira!
E
assim foi, entraram para as duas viaturas que os tinham levado e la foram a
acelerar pelas ruas de Lisboa Antiga. Era ve-los aos dois a chiar nas curvas
da cidade. O Talhelha de dentes cerrados e cabelos levantados com o vento que
entrava pela janela toda aberta do seu bolide, ria euforicamente com o barulho
dos pneus do seu carro, enquanto que o Pedro, ao seu lado, grunhia umas
observacoes sem pes nem cabeca, imaginadas pelo seu estado
alcoolico.
E
entao que a descer a Rua do Alecrim, Pedro aponta o dedo para a janela do seu
lado, daquela forma que so ele sabe apontar e grunhe ainda mais alto.
Talhelha,
ja habituado a nao ligar ao comportamento do seu amigo quando esta alcoolizado, so se apercebeu da tragedia quando ouviu o som do metal, plastico
e vidros a raspar num muro. Um estrondo imobilizou o carro, acordando o rio
que assistia no fim da rua.
Edmundo,
que vinha atras, conduzindo o segundo carro, acorre ao local do acidente
seguido pelos outros amigos. Seus coracoes pulsavam fortemente, expulsando os
ultimos vestigios de alcool do cerebro. Edmundo ajoelhou-se, segurando a
cabeca de Talhelha, enquanto Pedro, com uma mao segurando o seu braco
fragilizado por outro acidente, se levanta lentamente.
Aproximaram-se todos a tempo de receber um ultimo olhar de Talhelha, que com um suspiro, esboca um sorriso e fecha os olhos pela ultima vez. O que lhe passu na alma por detras daquele sorriso nunca ninguem teve a certeza, mas todos sentiram que o sabiam.