Era uma vez uma menina que vivia sózinha na floresta.
Um dia, enquanto a menina procurava um cantinho com relvinha boa para descansar, surge-lhe ao caminho um duende:
- O que me queres, duende da floresta?
- Quero ajudar-te a ser feliz!
- Mas eu já sou feliz, aqui na floresta, rodeada de animais amigos, e de frutos tenrinhos.
- Há algo que tu não sabes ainda o que é, e que julgas não necessitar, mas que te vai ser de grande utilidade no futuro. E eu posso-te proporcionar isso.
- Mas isso o quê? O que pode ser melhor do que conviver com as lebres, os tordos, os esquilos, e todos os outros animaizinhos que eu adoro?
- É como te digo: hoje ainda não o podes compreeender mas dentro de uns poucos anos, vou-te proporcionar a felicidade maior que poderás alcançar neste mundo!
- E porque não me dás isso agora mesmo?
- Ainda é muito cedo!…Daqui a sete anos, sete meses e sete dias volta a este mesmo local e terei uma surpresa para ti.
E os dias, os meses e os anos foram passando, indolentemente vividos pela menina na sua bemquerida floresta. Em determinadas ocasiões, enquanto observava um pôr-do-sol particularmente bonito, ou quando olhava para as estrelas de um céu fabulosamente belo, lembrava-se do duende que um dia tinha encontrado num recanto da floresta e da sua
promessa. Era então assaltada por um sentimento indefinível, estranho e profundo. Era mais ou menos como se desejasse que o coelho que corria no prado próximo, pudesse ouvir e entender os seus sentimentos, pudesse partilhar (é isso!, partilhar!) a "beleza das coisas" com ela.
Nessas alturas, abanava a cabeça, afugentando estas estranhas
divagações e não pensava mais no assunto. Afinal porque preocupar-se fosse com o que fosse quando na floresta onde vivia não havia preocupações?
Enfim, apesar de tudo, mantinha a intenção de na data referida pelo duende, estar presente no local de encontro.
E eis que chega o grande dia…
Marta ajoelha-se junto dos cacos enegrecidos que outrora foram a sua casa…
Um céu plúmbeo com um Sol mirrado, filtrado pelas nuvens constantes que agora toldam a Terra, atormenta os raros habitantes sobreviventes neste planeta martirizado.
Se houvesse contadores Geiger, o seu matraquear seria tão forte como o maior trovão alguma vez ouvido, ou talvez tão intenso como o estrondo da detonação de todas as ogivas que caíram do céu, alguns anos atrás como dardos mortais semeando o desespero por toda a parte.
Marta (Mártir?), procura com os "Contos de Grimm" debaixo do braço, o seu velho e adorado fetiche da infância: o seu companheiro durante os longos dias de solidão depois da morte da sua família. Remexendo nos escombros febrilmente, encontra por fim o duende de peluche.
Um sorriso triste nasce-lhe no rosto torturado pelas cicatrizes da queimaduras…
Agora tinha alguém para calcorrear as ruínas do seu planeta à procura de outras
Vítimas dos Últimos Dias. Por agora, volta para o bosque que foi o seu albergue durante os últimos anos, enquanto era obrigada a permanecer num buraco infecto, à espera que o braseiro lá fora amainasse a sua violência.
Mas já não estava sózinha!