Sentada na varanda, os seus belos olhos côr de mel, olhavam apaixonadamente o imenso Mar que os inundavam de lágrimas de felicidade.
Gostava de passar os fins de tarde assim, a olhar o mar na sua imensidão e esplendor e a escrever ou a pintar sobre ele. Mas, para ela, o Mar era acima de tudo um mundo diferente, enigmático e belo. Tudo isto porque tinha sido no Mar que vivera a sua mais maravilhosa experiência e era por ele que continuava a viver.
Acontecera à precisamente 8 Anos, 4 meses e 13 dias. A vida tinha-lhe ensinado a admirar as coisas pela sua beleza e tentava sempre transportar consigo essa forma de estar. Numa manhã fria de Dezembro fez-se ao Mar dentro de uma traineira de pesca. Era reporter, nessa altura, e queria sentir as necessidades dos pobres pescadores de uma recondita aldeola e isso fizera-a tentar uma arrojadissima reportagem que já lhe durava à 2 semanas. Vivia com eles em suas casas, comia dos seus pratos e já era respeitada dentro da comunidade como uma grande mulher. No entanto, aquela era a primeira vez que se fazia ao Mar com eles.
Noite fora, ía suportando a furia do Mar como podia e olhando para aqueles rostos duros que acompanhava e aos quais já tanto se afeiçoara. O Mar começou a ficar cada vez mais bravo, mas medo era uma palavra que ainda não conhecia. Ficou a conhecer quando, sem perceber muito bem como, se viu dentro de água, no meio da maior tormenta.
Perdeu os sentidos e viveu o sonho da sua vida, que não mais esqueceria.
Uma música simples ecoava nos seus ouvidos. Eram sons dos peixes que a rodeavam numa estranha e bela dança. Seguiu-os como uma criança que brinca na areia com as suas fantasias. Sentia-se completamente atordoada com tudo aquilo, mas seguia-os atentamente. Naquele fundo de Mar uma estranha luminosidade deixava-a ver aquela profunda beleza em todo o seu esplendor.
Vagueou, qual sereia encantada, por aquele universo belo e de serena tranquilidade. Sempre acompanhada por cardumes de peixes, dos mais pequenos e coloridos, desde golfinhos a tubarões. Cantavam e dançavam como se de uma festa se tratasse. Corais azuis e com formas magnificas, algas douradas e quentes, de tudo ela viu e com tudo se deliciou.
No meio da emoção, no meio daquele ritual de sagração da vida, sentiu-se desfalecer de alegria. Não sem perder a noção de uma voz etérea que lhe ecoava na cabeça e que cantava: “Toma. E lembra-te que o Mar é sagrado. Leva o Amor contigo…”
Ao acordar, deitada no areal frio de uma praia deserta, jazia-lhe sobre o peito um colar de corais. Naquela noite, houve festa brava na terra. Todos queriam dar graças a Deus por lhes ter trazido a sua menina de volta.
Hoje continua na sua aldeia, com os seus amigos pescadores e o seu Mar.
A pintar o Mar que Ama, a escrever o Mar que sente, a Amar as pessoas que sofrem com o Mar que ela lembra.