E…

E ao passar por ela, olhou curioso com olhos de quem revê, um rever fortemente carregado de nostalgia. E continuou deu passo atrás de passo, e a cada passo olhava para trás. Conhecia e não conhecia, era-lhe familiar. Mas dentro dele não existiam imagens para o comprovar, foi olhando até seus próprios passos como que por instinto lhe a afastarem no horizonte. O corpo seguia numa direcção e a mente o espirito no dela.

Quem o vi-a ao longe provavelmente julgava que fugia de alguém…..

No mesmo segundo em que ela desaparece no fatídico horizonte, ele emerge do sonho, como se o mundo em seu redor tivesse parado para ele a ver passar. E ao voltar a cabeça esbarra contra as pessoas que por ele passam.

Dias, semanas, meses  longos de ansiedade, passaram. Não existia nada de agradável nem digno de ser avistado no longínquo horizonte, parecia que o mundo e tudo nele perderá o sentido. Andava banhado pela luz do sol mas a escuridão crescia dentro dele como bolor no pão, apodrecendo-lhe a pouca fé que dentro dele existia, como se as luzes do gigantesco palco tivessem enfraquecido á medida que os dias foram passando, nada mais restava do que a obsessão que ele próprio inventará, o deslumbramento acabará, a morte da paixão segui-se levando-o ao  desespero incontrolável. Corria ruas e vielas em busca de uma visão nem que fosse por um fraco segundo e pensava, remoía….. - Nunca mais a vou ver? Porque é que me sinto assim?

As horas foram passando e com elas a desesperança crescendo, entranhando-se no mais ínfimo de sua alma. Parecia um louco, corria tudo, procurava em todas as esquinas em todas as ruas e avenidas, mas a cada movimento que dava e não encontrava a luz dentro dele desfalecia tal como ele de fadiga, a tal ponto que de tão cego nem uma sombra conseguia destinguir de uma pessoa, tudo lhe parecia igual. E sem descanso continuava como se em último recurso aquele  bocadinho de fé se duplica-se. Percorria vezes sem conta as mesmas ruas, as  casas  umas v pareciam tanto românticas por vezes extremamente  intimidadoras indicando um mau presságio, outras vezes depois de ter virado a esquina de um rua voltava para trás apressadamente para ver se não se tinham desencontrado.

Já sem poder andar nem mais um passo, parou numa rua escura, baixou a cabeça como que por vergonha, ressentimento, quando sentiu passos atrás dele, olhou repentinamente para atrás sem mover um único membro. E por debaixo de um dos dois candeeiros semi partidos passava apressadamente um senhora de meio idade que ao olhar para ele assustou-se , ao retomar a posição inicial, na outra esquina ela passava. Incapaz de controlar os seus passos correu atrás do trilho deixado pelo aroma, pela chama que dentro dele se encandeava, andou, andou e quando deu por ele, ela corria a sua frente. Param, ele a tremer do lado oposto da rua, pede-lhe perdão sem ao certo saber porquê. E num piscar de olhos, como um sopro de vento ela desvanece na noite. Agora de exaustão cai de joelhos na rua escura sem fim, a rua mal iluminada apontava-lhe para as falésias onde a lua começava a espreitar, ao continuar tudo em seu pensamento parecia um vulcão em erupção.- O que faço eu agora? Não consigo compreender……………

E segue sem rumo, nem destino por meio de árvores e arbustos que uma ora se assemelham e monstros como e seres divinos, vai tropeçando em pedras e mesmo no meio da íngreme e longa encosta cai sem se aleijar como se um força desconhecida o fizesse cair que nem uma pena, agora encontra-se deitado de costas e ao abrir os olhos fica como que perplexo seus olhos sorriem de esplendor as estrelas no céu brilham com tanta intensidade que lhe ofuscam a vista, e é como que cada raio lhe transmitisse calma, serenidade, como se lhe dissessem, nada temas, quem teme nunca encontra à verdadeira contemplação, do olho direito escorre-lhe uma lágrima que brilha tal como as estrelas, e nesse momento levanta-se com segurança,  determinação  coragem.

Já no cimo da falésia a lua acabara de nascer com os seus raios roubados que enfraqueciam o brilho do mais puro dos diamantes. E  nisso precipita-se da falésia, cai vertiginosamente rumo ao mar, e ao cair como um relâmpago, memórias e recordações emergem a cada segundo em seu pensamento. Via-se num barco de madeira, numa noite como aquela, apesar do breu a lua gentilmente deixava um corredor de luz ténue para que ninguém se perdesse. Lembra-se de como o mar ardia, era um arder sem chamas, era um arder de cor………

Agora ao ser engolido pela força do mar e da própria queda no meio do borbulhar frenético deixado pela tentativa de respirar ele fecha os olhos e vê, recorda-se de algo realmente nunca esquecido mas nem sempre presente. No fundo do mar de olhos abertos estremece enquanto a visão lhe inunda a mente. Vê-a no cimo da falésia a olhar as estrelas, os cabelos a esvoaçarem como se tivessem vontade própria. E ao recordar o mar  emerge-o , ai fica a flutuar ao sabor da maré, olha para as estrelas com um sorriso na cara e grita - obrigado por vossa presença divinal, ao olhar repito dentro de mim, mesmo que aqui permaneça para todo o sempre do sempre mesmo sabendo que viria sempre o mesmo, a minha admiração e respeito aumentaria. Vós sois magnificas, vós transformais a mente de qualquer um em apenas um único relance, consciencializai-nos de que tudo vale a pena desde que seja com alma e coração.

Seguindo o mesmo trilho ela corre, corre, cai vezes repetidas, está em agonia e a cada queda deita as mãos as costas e faz o possível para cair de joelhos e grita, um gritar sem só, o grito da alma……

Francisco, salva-me………

E tal como cai levanta-se, como se não tivesse tempo a perder, e corre, corre. E como ele lança-se da falésia.

Deitado nas águas calmas, ele vê-a a cair. E só a meio de queda, ai ele entende o porquê. É o deslumbramento em toda a sua essência, as asas que se estendem das suas costas que ardem ao sabor da melodia da maré e do canto das sereias. E ao mergulhar no mar este incendeia-se quase como de paixão. Ao vislumbrar visão tão inconfundível e admiravelmente indescritível ele precipita-se no ventre do mar, e agarra-lhe na mão e tenta puxa-la, quase no fundo todo o horizonte é finito como infinito, as sereias permanecem estáticas escondidas entre as laminarias olham curiosas. A areia também e estende por todo o lado num caminho perpétuo e ao mesmo tempo era como se estivesse num sítio fechado e apertado. Ela ao sentir a mão dele a tocar-lhe abre os olhos e  num grito sem som diz-lhe. - Não. No entanto ele luta e traze-la para a superfície e nesse mesmo momento larga-a, olha para ela e de cansaço e dá-se por vencido, é engolido pelo o mar, sem forças para lutar, escorrega rumo ao fim, ao fundo. Lá em cima ela chora lagrimas de fogo que caem no mar como lampiões, umas das lagrimas andam a deriva, outras mergulham. E quase ao chegar ao fundo ele vira-se de braços abertos e vê o brilho que ela deixa de tristeza e tenta voltar para cima, sem conseguir ainda se afunda mais. O  folgo já não chega para o caminho de volta, é então que as sereias por piedade saem dos seus esconderijos e seguram-no  transportando-o para a superfície, já deitado novamente no mar apenas ouve o barulho deixado pelas sereias a fugirem, agora embebido no cálice que outra hora deu vida e hoje a sustenta, devagar vai abrindo os olhos, olha a lua as estrelas e sorri, ao lado dele ela agora sempre permanecerá, não em carne mas sim em espírito conjugado com toda a beleza em si mesma, como um contemplar perfeito de beleza perpétua, sendo essa a sua lição :

O perpétuo apenas coexiste no espirito que perde as mascaras e ascende a beleza pura e verdadeira, sendo beleza representante de todo o que existe de perfeito, puro e concreto, e não no seu sentido fútil e enganador.

No efémero apenas ele mesmo se alcança como uma cobra com a boca no seu próprio rabo em ciclo vicioso.

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