Faca e alguidar

 

-Cheguei!

Artur usava um ar cansado mas feliz. A mala que trazia a tiracolo dava-lhe um aspecto ridículo, maior do lado esquerdo do que do lado direito. Marília, no entanto, não esteve para reparar nesses pormenores:

- Querido, meu querido!...

O abraço foi o acontecimento mais demolidor daquela pequena cidade naquela tarde pacata. Até os pardalitos da árvore próxima fugiram espavoridos com a violência daquela saudade.

- Quando é que vais de novo?

- Nunca mais!

Marília adorou ouvir aquilo. Artur estava decidido a não partir para as estrelas de novo. A última missão tinha sido tão árida quanto a anterior. Os asteroídes tinham poucos recursos minerais que justificassem o valor dispendido na sua exploração. A Agência tinha decidido suspender este programa e Artur de qualquer de forma não ia voluntariar-se de novo. Marília era agora a descoberta que ele tinha adiado tantos anos. Queria viver inteiramente para ela, daqui para a  frente.

O apelo do espaço já não o chamava à noite quando olhava para as estrelas.

Voltaram a beijar-se. Subitamente, ouve-se um ruído surdo, como o ribombar de um trovão.

- O que é isto?...

Era um terramoto. As casas começaram a dançar de uma forma macabra oscilando dramaticamente.

De repente, a parede mais próxima de Artur e Marília desmorona-se para cima deles com um ruído surdo e pesado. De debaixo dos escombros ouve-se uma voz moribunda:

- Foi para isto que eu voltei?...

E assim morreram Artur e Marília...

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