Hipocrisias

 

Carlota estava a começar a ficar com a cabeça feita em agua.

Cada vez que lhe vinham com uma conversa destas ela ficava completamente fora de si.

Ontem à noite tinha sido o pai, agora era o namorado. Mas será que esta gente já não tem noção do mundo que os rodeia? Este mundo evolui, merda. Ainda continuam a pensar como se estivéssemos nos fim do século passado…

Teve um dia para esquecer. Tudo lhe correu mal. O patrão passou o dia inteiro a chateá-la com a porcaria do relatório que já estava farto de saber que só vai estar pronto no final da semana. O Carlos sempre com as mesmas bocas chauvinistas, antiquadas e machistas. A Luisa sempre a falar do raio dos namorados, que devem ser ainda mais parvos do que ela. Hoje até a empregada da limpeza lhe pos os cabelos em pé com aquela estupidez do caixote do lixo.

No fim do dia quando  chegou a casa já só conseguia pensar em descansar.

Subiu as escadas como se estivesse a subir ao pico mais alto do Evereste, já não tinhas forças para mais nada.

Entrou em casa, deitou-se em cima da cama que ainda não tinha sido feita e ficou a olhar para o tecto sem conseguir adormecer com o stress a ser mais forte que o cansaço.

Levantou-se, foi para a cozinha começar a tratar do jantar, ligou a televisão e a primeira coisa que ouviu foi um padre, do alto da sua imensa sabedoria, de pose autoritária e prepotente a falar dela e de tantas outras como ela, como se fossem umas desgraçadas e umas assassinas.

Já não aguentava mais ouvir estas coisas.

Começou a gritar de raiva contra todos os pais, namorados e padres que não sabiam o sofrimento que é ser obrigada a perder um filho.

Quando  a mãe entrou na cozinha estava inerte, no chão de pedra fria.

Chamaram uma ambulância, lá se foram as economias de 3 meses.

Não é fácil viver aqui, neste Verão de 2047, com um referendo tão absurdo quanta a hipocrisia de alguns.

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