Fernando amava Lisboa. Nasceu no bairro de Alfama, quando garoto o seu mundo não ia para além do seu bairro, mas já nessa altura sentia o fascínio do bairro típico, das varinas, dos fadistas, os santos populares. Mas o que ele gostava mais era da vista do Tejo, o estuário aberto ao Atlântico, onde no fim do dia o Sol se ia deitar pintando a ouro os peixes mais atrevidos.
Quando cresceu Fernando conheceu toda as ruas da sua Cidade. Do Bairro Alto a Carnide e de Xabregas ao Restelo, conhecia todos os cantos, e todos eles tinham qualquer coisa de especial para si. Um chafariz, uma água furtada, um brazão de esquina, havia sempre qualquer coisa, por muito pequena que fosse que ele amava como parte de si. Fernando escrevia, tentava por no papel a sua cidade, mais do que isso tentava por no papel o que sentia na sua cidade.
Num dia de Junho, Fernando contemplava da sua janela para para mais um pôr do Sol, de repente ouviu um enorme estrondo, pensou que fosse mais um balão de Santo António. Quando voltou a olhar para o Tejo viu uma enorme onda de ouro que vinha cobrir a cidade. Fernando ficou feliz, a sua Cidade ia ficar para sempre conservada com todo o seu brilho.