O cowboy cantor

 

Um dia dei de caras com ele , assim sem mais nem menos.Não era uma caricatura , mas os seus traços tinham assumido os contornos exagerados, e as suas cores tinham-se acentuado adquirindo os tons purpura do vinho ,mesclado com o amarelo esverdiado próprio dos arrepios do figado.

            Não lhe falei. O que havia entre nós a dizer? Para quê comunicar com aquela figura quase fantasma em tudo diferente daquela que antes conhecera e amara.

É certo que a vida muda as pessoas e os anos não perdoam, mas aquele não era sem duvida o homem com que eu vivi durante tantos anos.

Os nossos olhos fitaram-se sem sentimento,sem ternura ou admiração.

Frios e secos de nunca chorar os seus olhos não transmitiram qualquer expressão.Baixou os olhos para o jornal num misto de vergonha e interiorização , gesto próprio dos homens em desiquilibrio.Assim continuou sem se atrever a olhar ou a mexer, até que sai do café.

Aquele encontro deixou-me marcado , custava-me a ideia de o saber tão estragado,tão acabado, deixando os sentimentos correr em espiral , destruindo memórias e antigos orgulhos.Tinha de voltar a falar-lhe, ansiava por olha-lo de frente como antes e rever-lhes o brilho.Ansiava pelo seu sorriso aberto e pelos seus gestos largos que lhe conferiam a personalidade.Sentia que aquele homem estava quase a perder, sentia que não era o mesmo homem.Ele estáva a deixar de ser, mas continuava  insistir em brincar com o que não podia vencer.Não podia imaginar os caminhos que havia percorrido até se encontrar em tão aparente solidão.Será que ainda me esperava?

Tinha  todo o aspecto de um homem de alma reduzida.Como é que alguem assim poderia um dia ter sido tudo para mim?Como é que esse mesmo alguêm pode hoje representar tão pouco para si próprio?

Ensaiei qualquer coisa para lhe dizer numa próxima oportunidade.

Entretanto tive de fazer uma viagem.Voei para Londres e dai para a Escócia, tinha lá muitas coisas a fazer. Era assim a vida havia muitas coisas em jogo, muito a ganhar e nada a perder, havia que jogar com gosto e entrar de cabeça. Deixei cair a moeda, era sorte ou azar, cara ou corôa.

O tempo não era agradável , e as brumas e a neblina não nos deixam quase reconhecer os numeros dos autocarros quando se aproximam arrastando-se pelas avenidas.

Sai da escola com um sentimento de despreocupação e páz, passei por alguêm que me recordou esse homem agora tão distante fisicamente e esbocei um sorriso. À noite no quarto do hotel da Juventude, depois da barba feita olhei-me no espelho profundamente e senti as suas saudades. Decidi ir beber um copo.

Entrei numa espécie de discoteca - saloon, ao olhar para uma das pistas de dança encontrei uma mulher loira e de olhos claros e o meu coração bateu forte. Dama ou tigre interoguei-me.Enebriado pelos dois vodkas aproximei-me decidido a tentar a sorte da conquista , o previlégio do olhar emocionado e do agrado.Nessa noite dormimos os dois , eu e Mona.

Senti o dia a nascer, e alegria no seu olhar quando nos enrolamos novamente para mais uns momentos de amor intenso.Era o jogo da sedução. O nosso Kamasutra pessoal que enriquecia.

À noite em sua casa percorri com os olhos o ambiente negro do seu quarto.

Mona há mais de um mêz me havia dado um lugar em sua casa , na sua cama. De manhâ apanhava o autocarro e do outro lado do rio, ficava o liceu.

Sozinho e triste deixava-me arrastar na multidão, até que regressava para a ver mais uma vêz , quem sabe pela ultima vêz. Cada dia começava com o tal adeus, por debaixo dos panos deixava as minhas promessas de dias e noites de felicidade. Mas todos os dias o sol juntava-se ao mar no horizonte e a minha vida com Mona arrastava-se paralela, sem grandes pontos de cruzamento.

Quantas veses em acessos de furia surrealista comia uma orelhazinha ao Van gogh , ou em falta de melhor a um outro qualquer heroi , despejava enfim tudo para o papel, até que adormecia sem apagar a luz.Agora que trabalhava á noite , ainda me sentia mais apaixonado, sofria deveras a sua falta na Cama.

No Quarto de Mona o meu coração começou a fraquejar, e a luz que me mantinha ainda pela Escócia começou a fraquejar.Um dia senti um grande nó na garganta, já nada me prendia ali , sentia saudades de ver novamente aquele homem que há anos me fez parar o tempo, para que o meu tempo fosse dele.Às veses não sei por onde hei-de ir, tenho de escolher mas não sei.

Nesta mesa de jogo acabo sempre por te encontrar, em cada cara , em cada esquina.

Um dia ás sete da manhã, não sabia bem onde estáva.Apenas tu minha estrela dourada brilhavas distante.Havia já regresasdo a Lisboa, e mordia novamente o pó da estrada, e todos os pôr do sol, recordavam-me a tua imagem pálida. Onde tinha ficado a justiça que se devia aplicar?

Eras um Homem bom.Porque tinhas de sofrer tanto?

 

No dia seguinte entrei na Pastelaria, não estáva lá ninguem. Na casa de banho olhei o espelho e alegre reconheci-me. Afinal ELE ERA EU. Eu era o meu Heroi amargurado que por fim se reencontrava com a sua imagem.

Sai para a rua a cantar.Eu era o cawboy cantor.

 

Já lá vão anos desde a altura em que me reencontrei, e hoje não consigo ser alguêm que não tenha coração.Sei bem que sou capaz de um dia vir a vencêr, mas se não souber o quero vou entrar em confusão. O que tenho até agora foi aquilo que escolhi, foi fazer o que sentia com aquilo que sabia.

Hoje em dia não sei ser mais um no meio da multidaõ, porque sei o que quero.Foi por isto que lutei, era isto que queria.E quando encontro esse homem que outrora tanto amei sem saber, e que hoje sei que amo continuo a dar-lhe os meus conselhos, olhos nos olhos e do fundo do meu ser.

Concelhos do personagem para o cowboycantor:

 

Se do fundo do ser encontrares a razão, então está bem.

Mas se queres viver sem fazer o que sabes,sem ver os senão, então já nada está bem

Se queres lutar para sentir quem és,para saberes quem és , então está bem.

Mas se queres viver sem saber onde estás sem sentir o que és , então já nada está bem

 

Tu mereçes tudo, mas tu vais ter de sentir,

que eu andarei ao pé de ti,

sempre,sempre e para sempre.

Porque afinal ……….

……………… todas as lutas pelo poder são cegas e desumanas, mas

tu……………..Eu

mereço Tudo.

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