Henry estava sentado, sozinho, na cela 1583B, com os olhos postos no pequeno ponto luminoso que provinha da pesada porta.
Estava preso já ía para 3 anos e o que mais o assustava era não conseguir ver as estrelas. Da pequena abertura que possuía na sua pequena cela, não conseguia vislumbrar uma nesga sequer do céu que tanto gostava. Era-lhe insuportável estar preso à tanto tempo e nunca mais ter visto o emaranhado de pontos brilhantes que povoam o infinito. Houve um dia em que ainda teve tempo de ver a estrela da manhã, mas era muito pouco. Daquela janela velha a única coisa que conseguia ver, era o alaranjado velho da cobertura metálica e ferrugenta que cobria parte do pátio.
Enquanto tentava dormitar um pouco, lembrava-se de alguns dos roubos que tinha feito e repousava descansadamente com as belas recordações que estes lhe davam.
Havia um, em particular, em que tinha muito orgulho. Fora no inicio do Inverno de 1973 e tinha sido realizado em pleno dia, bem no meio da cidade. Entrou pela loja de bebidas, agarrou num pau de vassoura que partiu em dois e escondeu-o dentro da gabardina. Encheu o cesto com garrafas de Whiskey e dirigiu-se ao empregado. Disse-lhe para lhe entregar todo o dinheiro que tinha na caixa e apontou-lhe a vassoura. O desgraçado ficou tão assustado que caiu redondinho no chão. As outras 7 pessoas que estavam dentro da loja, atiraram-se todas para o chão, em pânico. Ele abriu a caixa registradora, tirou o dinheiro e quando ía a sair lembrou-se que já tinha pouco tabaco. Voltou a entrar. Largou a vassoura. Pegou em 5 volumes de tabaco e saiu. Entrou dentro do carro e só parou de rir quando chegou a casa. Veio ainda a saber, mais tarde, que um dos homens que estava na loja era o chefe da policia local, cuja esquadra ficava no quarteirão imediatamente a seguir.
Estas lembranças davam-lhe algum alento e força para tentar ultrapassar este contratempo da sua curta, dificil e conturbada vida. Não se conseguia abstrair, todavia, do terrifico dia em que lhe fora roubada a sua liberdade.
Fora no campo, perto de Idaho, num assalto dos mais simples que fazia. À noite, esgueirou-se pelo campo, entrou numa casa que sabia de antemão estar vazia naquela noite e começou a sua habitual labuta.
Enquanto procurava as caixas das joias e rebuscava debaixo de todos os colchões e locais afins para tentar encontrar algum dinheiro, começou a sentir um grande reboliço nos intestinos. O tempo passava, e ele ficava cada vez mais desesperado. Quando a vontade se tornou incontrolável, correu para a casa de banho e sentou-se na sanita, deliciado. O pior foi depois. Enquanto olhava por uma pequena janela -de onde também não conseguia ver as estrelas - ouviu a porta da frente a abrir. Pensou em fugir, mas tinha de terminar aquilo. Durante um bom conjunto de minutos estava muito inquieto, sem saber o que fazer, mas tinha a certeza duma coisa: tinha de acabar aquilo. Quando o dono entrou na casa de banho com uma espingarda na mão ele só pediu: “Mandem-me prender mas tenham piedade e deixem-me acabar o servicinho”.