Esperava ansiosamente por estes fins de dia.
O stress aumentava a cada minuto que passava. Por cada minuto passado era menos um minuto de espera e mais um pouco de adrenalina a fluir-lhe pelas veias.
Dirigiu-se, a passo muito apressado para ‘o momento’ -gostava de lhe chamar assim. Sempre tivera esse raio dessa mania- sem prestar o minimo de atenção ao que se passava à sua volta.
Virou a esquina sem perceber que toda a gente vinha a correr em sentido contrário. Só ao levar um encontrão que quase o fez cair é que olhou e viu: havia um incêndio no seu prédio!
Teve então uma sensação terrivel.
Desesperado, correu rua abaixo, na direcção oposta da multidão que estava a ser evacuada pelos Bombeiros e pela Policia. Ultrapassou todas as barreiras impostas e apesar do grande esforço de toda a gente, lá conseguiu entrar, prédio dentro, pelo meio das chamas e de um fumo sofucante.
Todos olhavam estupefactos. Ouviam-se vozes que tentavam gritar para dentro do prédio, desesperadas, “Saia daí!” ou “A Glória” -a sua mulher- “já não está no prédio!” ou ainda “ Não seja louco, senhor. Você vai morrer queimado!”.
Ele não ouvia -nem conseguiria ouvir, mesmo que quisesse- nada disto e, estranhamente, não subiu para o seu primeiro andar em busca de nada.
Continuou a correr desalmado, pelo lugubre corredor que dava ligação ao pátio interior. Quando chegou ao pátio, olhou as chamas que trepavam pelo prédio e arrepiado ficou ali durante uns breves mas imensos instantes.
Virou-se para trás e voltou a sair daquele inferno de chamas e fumo.
Já cá fora, sentou-se com uma pequena multidão à sua volta. Falavam engalfinhados uns nos outros sem se conseguir perceber nada no meio da barafunda geral. A sua pobre mulher chgou-se ao pé dele e abraçou-o com a compreensão de quem abraça uma criança a quem foi tirado o único brinquedo.
Só uma coisa lhe passava na cabeça: Nunca mais teria ‘o momento’. O fogo levara-o e nunca mais ninguém o traria de volta.
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Devem-se estar todos a perguntar: “mas afinal qual era ‘o momento’?”
E vocês acham que isso realmente importa?
Será que o que interessa, de verdade, não é saber que realmente existia 'o momento'?