O telefone tocou. Atendeu-o e recebeu a noticia com uma profunda emoção. As lágrimas correram-lhe pelas faces enrugadas como pérolas caindo sobre o mais puro dos veludos. A sua luta e a sua paixão foram reconhecidas e a sua lingua glorificada pela primeira vez numa história de quase 100 Anos.
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Sentado na sua secretária, de aparo na mão, José Saramago escreve mais uma memória do 5º tomo dos seus ‘cadernos de Lanzarote’. Uma vida dedicada à nobre arte da escrita da sua lingua e aos Homens, fazem dele alguém por quem quase todos nutrem uma profunda admiração ou pelo menos um grande respeito, mas isso não lhe retira nem um pouco da genuidade de uma alma pura e simples.
As suas palavras e os seus actos demonstram um Homem para quem viver é continuamente aprender, para assim poder dar algo melhor ao Mundo. Desde ‘Jangada de Pedra’ ao actual best-seller intenacional ‘Blindness’ (nº1 no top de vendas na maior livraria virtual do mundo…) que continua a defender os mesmos ideais de sempre, para felicidade de muitos ‘Levantados do chão’ -entre outros, naturalmente- mas incómodo de muitos mais.
O pequeno rádio, velho dos tempos de luta clandestina por uma vida melhor num país onde deixou muito sangue e lágrimas trouxe-lhe, há 1 Ano, a noticia da vitória de um amigo, Dario Fo, num prémio que tanto merecia. Dario Fo dir-lhe-ia um dia que esse prémio era, por direito, de Saramago e não dele. Disse-o com todo o respeito e sinceridade e foi assim que foi recebido. Afinal talvez ainda exista um lugar para a honestidade, a humildade, a honra e a verdade.
O prémio Nobel da literatura é Português. A nossa lingua está mais forte. A nossa cultura está mais rica. Eu, por mim, sinto um profundo orgulho em ser Português. Sinto-me honrado em falar e escrever na mesma lingua de José Saramago. Ele é hoje o mesmo Homem de ontem, mas o seu país e a sua lingua estão maiores e muito mais fortes pelo seu trabalho.
Obrigado, José Saramago.