Andavam
todos os dias á pesca os avieiros,pescadores do tejo.
As
tabernas por onde poisavam, junto ao rio eram como os seus barcos, de madeira
pintádos de cores alegres e garridos, com desenhos de santos mais ou menos
pagãos.
Nas
horas dificeis bradavam aos céus e aos seus santos de maior fé.
Nossa
Senhora dos navegantes, Stº. António, Nosso Senhor da boa hora e outros
ainda que a tradição e o rio se encarregaram de lhes fazer acreditar com
fervor e respeito.Quantas veses não lhes valiam os santos e as orações?E
quantas veses a fé não lhes havia dado o alento para vencer o frio e a nadar
contra as correntes,botas e caneleiras calçadas,quando as voses
gritavam-Homem ao mar-
E
borda fora se lançavan as bóis e cordas para o acaso e os santos as guiassem
em bom caminho ao encontro do pescador.Quantas veses também era o rio que
lhes ditava a sorte, e cheios de água e de pulmões rebentados se afaundavam
no rio, enleados nos fundios entre algas e musgos, ou enludados
nos
baixios rio abaixo como as correntes em demanda ordenavam.Apareciam cadáveres
de olhos já comidos pelos mariscos, e nos seus ventres esfaceládos os
buracos dos caranguejos que no seu interior haviam ganho albergue.
Mas
quando a sorte estava de feição, e as rezas das mulheres , e os azeites
queimádos juntamnete com as velas cumpriam a sua silenciosa vela pelos homens
no rio, a pescaria corria bem e pela madrogada, esses homens rudes e de olhos
brilhantes chegavam ao molhe dos avieiros com os barcos atulhados de peixe com
que enchiam as canastras .Uma porção guardada para que á noite a caldeirada
fosse completa, sardinha, safio,peixe-mulho,sardetas e robalizios tudo guisado
em tomate com meio kilito de batatas. Ao entardecer os filhos mais novos
procvavam o sal da colher de pau a pedido da Patroa.A água corria na boca aos
outros que não tinham tido a sorte.Ao mesmo tempo todos abriam as pequenas
bocas como que por instinto.Os seus calções debotados e sem côr eram o
inverso dos seus corações bravios e inflamados de criança ribeirinha.
Já
noite cerrada enquanto no rio se reflectiam todas as sombras da lua e das
arvores próximas, os casais mais jovens ainda não casados, fugiam á sucapa
para as margens onde por veses os animais ainda andavam á solta, e entregavam-se ao descobrirr das suas
carnes, entre apalpos e beijos quentes, lá
saltava um botão, lá subiam as saias e os sexo era rápido apressado e sôfrego
para que os outros não dessem muito tempo pela sua falta.
No
pequeno largo frente á Taberna um homem tocava com uma villa umas notas, aos
poucos foi-se a ele juntando mais gente que traziam outos preparos para a música,um
adufo ribatejano,uns ferrinhos,e ás tantas uma gaita de fole.
O
seu som subia alto e as gargantas regadas de bom vinho ou um alcool branco ed
uro desataram a cantar:
Se
dormes nas conchas do rio
Entre
grinaldas e Algas
Respirar
sem Respirar
ès
das águas uma fada, moira do rio encantada...
Uma
mulher uma paixão
Rio
Revolto, turbilhão
Serena
sereia do Tejo
Tágide
frágil solfejo
Mexe-te
na minha mão
o
teu corpo em mutação
os
teus sopros sensuais
Enche-te
anjo Navegante
Tágide
do rio afegante
Musa
do Artista errante
Navega
na imensidão
desse
sangue feito mar
desse
tejo coração
Respira
ao cimo das águas
Levanta
a vós aos céus
Nosso
senhor reina alto
Mas
nos meus rios és tu, quem
brilhas
SERENA
SEREIA DO TEJO
TÁGIDE
MINHA, SALVAÇÃO DOS AFLITOS