Seguimos o nosso caminho, errando por entre as gigantescas arvores humanas e de betão que nos rodeiam como se uma qualquer horrenda e acéfala besta nos empurrasse para um buraco sem fundo nem sentido.
Talvez não consigamos compreender esta angustia. Os dias cinzentos e tristes deixam atrás deles a necessidade e a urgência de uma renovada libertação. As asas partidas já não deixam voar, de cabelos soltos pela alegria de um riso inocente, e agrilhoaram-nos a esta felicidade mundana de uma inexistência desumana.
Não sei qual é o elixir que nos permitirá vaguear impunemente por entre estes rostos inertes, repletos de ódios e rancores, frios e desapaixonados. Talvez ficarmos sentados, imóveis e expectantes, por um qualquer barco que arrisque descer o turbulento rio. Talvez ficarmos a olhar para os campos à espera de florir, com as flores prestes a desabrochar, com as folhas ansiando a altura certa para retomarem as suas cores primaveris.
Mas talvez pudéssemos fazer qualquer coisa. Talvez pudéssemos destapar o sol e fazer girar os girassóis. Talvez pudéssemos capitanear a barcaça, mas os braços já estão demasiado fracos. Talvez pudéssemos levar uma flor para casa e guardá-la religiosamente para conseguirmos vê-la desabrochar.
Mas acho que talvez vá ficar sentado e esperar pelo calor. Agora não tenho tempo para me mexer. Assim talvez um dia ainda me consiga rir. Ou talvez um dia arrisque colher um cravo e tenha vontade de chorar.