Chachá de Ajudá (1754?-1849) |
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Comerciante de escravos negros. Francisco Félix de Souza, alcunhado Chachá de Ajudá, nasceu em Salvador, Bahia, provavelmente em 1754, filho de pai branco e mãe indiomestiça. Foi para a África, não se sabe se por desterro, fuga ou voluntariamente. Morou em Badagry e em Popô Pequeno (ou Anexô), casando-se com Jijibu, filha de Comalangã, rei de Gliji. Em 1800 estabeleceu-se na Costa dos Escravos, no Golfo de Benin. Foi feito guarda-livros do forte de São João Batista de Ajudá, pertencente aos portugueses, no reino do Daomé (atualmente território da República do Benin). Iniciou comercializando cativos de guerra. A escravização nas nações negras africanas ocorria inicialmente contra prisioneiros de guerra; outras opções dos vencedores eram a execução e a mutilação. Considerando os custos de alimentar-se um prisioneiro inativo dentro da realidade tecnológica da época, as opções de mantê-los cumprindo pena ou de simplesmente soltá-los (com a possibilidade de rearmarem-se e voltarem ao combate) não eram consideradas. Posteriormente, porém, foi havendo uma inversão em que os escravos em vez de serem produtos secundários de conflitos, passaram a ser o objetivo de vários deles, promovidos pelos comerciantes brancos negreiros com a cumplicidade de tiranos negros locais. A clientela de Chachá era formada principalmente por comerciantes brasileiros e europeus. Sua atividade de intermediação entre estes e a população local era facilitada por sua capacidade excepcional em aprender idiomas. O comércio de escravos não se dava tanto pela troca por dinheiro; grande parte das transações ocorriam em trocas por mercadorias. Chachá desenvolveu, assim, conjuntamente com o comércio de escravos negros um sistema de créditos, firmada na sua fama de honesto - é, comerciante de carne humana sim, mentiroso não... Consta que certa vez foi se queixar pessoalmente ao rei do Daomé, Adandozan Francisco, um de seus fornecedores de escravos, por este ter faltado a um pagamento que lhe devia. Irado com a forma grosseira como considerou o modo de Chachá dirigir-se a ele, mandou prendê-lo e mergulhá-lo de tempos em tempos num barril com índigo a fim de que escurecesse a pele e perdesse a "petulância de branco". Na prisão, entre um "bronzeamento" e outro, Chachá criou uma grande amizade com o príncipe daomeano Gapê, que ajudou em sua fuga. Desde então Chachá passou a fornecer mercadorias e armas de fogo a Gapê, levando à deposição de Adandozan. Gapê passou a reinar com o nome de Guezo, dando a Chachá título de nobreza, riquezas e o tornando seu único agente comercial, o que praticamente o deu a Chachá o monopólio sobre o comércio de escravos local. Residia principalmente em Singbomey, futuro local do Bairro Brasil, com suas várias mulheres e mais de sessenta filhos (talvez mais de cem). Sua principal preocupação era a repressão britânica ao tráfico, desde 1816. Faleceu em 8 de maio de 1849, aos 94 anos. |
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Leia também: FREYRE, Gilberto. "Acontece que são baianos...". In: Problemas brasileiros de antropologia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. Documentos brasileiros. LAW, Robin. "A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental (1800-1849)". In: Topoi, n. 2. Rio de Janeiro, 2001. PRADO, J. F. de Almeida. "A Bahia e as suas relações com o Daomé". In: O Brasil e o colonialismo europeu. São Paulo: Cia. Editora Nacional (Brasiliana), 1956. SILVA, Alberto da Costa e. "O senhor dos desgraçados". In: Nossa História, ano 1, n. 7. Biblioteca Nacional (ed.). São Paulo: Vera Cruz, 2004. VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo de Benim e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos XVII a XIX. Salvador / Rio de Janeiro: Corrupio / Fundação Biblioteca Nacional, 2002. Assista ao filme: Atlântico Negro - Na rota dos Orixás. (Brasil, 1998). Documentário. Direção: Renato Barbieri. |