Einstein e a Relatividade
No
exame de admissão para a Politécnica Federal da Suíça , foi reprovado .
Passado um ano , voltou a candidatar-se , e foi aceito . Em Zurique , aos
dezesseis anos , Einstein decidiu abandonar o estudo da matemática pura - a que
se vinha entregando por iniciativa própria - e dedicar-se a Física .
Foi a essa altura , que ele começou a dar-se conta de que os
fundamentos que procurava dominar eram fundamentos defeituosos. Einstein começou
a indagar de si mesmo quais seriam as conseqüências de ele ver-se capacitado a
deslocar-se a velocidade da luz .
De acordo com as leis de Newton , se uma pessoa sofre aceleração
por longo tempo , em razão de estar exposta à ação de uma força , essa
pessoa chegará afinal , a atingir a velocidade da luz e , pois , qualquer
velocidade . Imaginemos , porém , uma onda . Suponhamos encontrar-nos em
repouso e a onda a mover-se . Observaremos um padrão de cristas e cavados que
se repetem regularmente . Suponha-se , porém , que podemos deslocar-nos com a
velocidade de propagação da onda . Poderíamos , em tal caso , acompanhar uma
crista ou uma depressão e as oscilações simplesmente desapareceriam a nossos
olhos de observadores em movimento . De acordo com essa maneira de ver , se um
observador pudesse deslocar-se à velocidade da luz , a luz deixaria de ter
constituição ondulatória , a seus olhos . As equações de Maxwell não
permitem essa eventualidade e , assim , ou estão erradas ou não será possível
viajar a velocidade da luz .
Einstein deu-se conta de que um observador que se movesse à
velocidade da luz violaria o princípio da "relatividade" . Para
compreender essa asserção , importa reexaminar um aspecto das leis de Newton .
No que se concerne a mecânica newtoniana , não há diferença entre um estado
de "repouso" e um movimento retilíneo uniforme . Imaginemos , porém
, a situação de nos encontrar-nos em um veículo fechado que se desloca em
movimento uniforme ; como não há aceleração , não há nada que nos perturbe
, não teríamos como dar-nos conta do movimento. A revolução da Terra em
torno do Sol fornece exemplo aproximado do que queremos dizer . Não temos consciência
de que esse movimento exista .
A razão de a esse fato atribuir-se o nome de princípio da
relatividade , deve-se a circunstância de que ele significa que não há estado
de repouso absoluto ou movimento uniforme absoluto . Tem perfeito sentido dizer
que um observador se está deslocando , em relação a outro , com movimento
uniforme , poderíamos a princípio , olhar pela janela do carro e medir a
velocidade em relação ao solo , mas não tem sentido dizer que o solo se
encontra em repouso absoluto . Em repouso em relação a quê ? -- essa é a
questão .
Desde o início , disse Einstein , pareceu-me intuitivamente
claro que , apreciado do ponto de vista desse observador ( que se desloca à
velocidade da luz , em movimento uniforme ) tudo teria de ocorrer de
conformidade com as mesmas leis que se aplicam ao observador que , relativamente
à Terra , se encontra em repouso .
O verdadeiro problema é o de saber como conciliar a mecânica
newtoniana , que permite ao observador sofrer aceleração que o leve a atingir
à velocidade da luz , com o princípio da relatividade da teoria eletromagnética
, o qual não permite ao observador se deslocar com a velocidade da luz . O gênio
de Einstein consistiu em reconhecer que essas duas teorias não podem ser
conciliadas e que está em erro a mecânica newtoniana . A mecânica newtoniana
foi concebida para explicar os movimentos de objetos que se deslocam a
velocidade muito inferior a da luz . Aplicadas a esses objetos , a mecânica
newtoniana e a teoria especial da relatividade conduzem a resultados quase idênticos
.
O primeiro trabalho de Einstein a propósito de relatividade
, principia com uma análise da relatividade do tempo .
De modo geral , contemplamos os acontecimentos e nossos relógios
e comparamos as observações . Na prática , agimos dessa maneira , sem
enfrentar dificuldades especiais . No que se refere a física , importa sermos
cautelosos , distinguindo entre a sensação subjetiva do tempo e o tempo
objetivo que os relógios medem . Se refletirmos , damo-nos conta de que , não
sendo infinita a velocidade da luz , algum tempo decorre para que ela , que está
iluminando o evento , atinja nossos olhos e , assim , estamos colocando em
correlação com nossos relógios , um evento que já ocorreu . Todas as asserções
feitas são elementares e o mais conservador dos físicos newtonianos nada veria
ai o que o perturbasse. É no passo seguinte que a revolução se inicia .O
problema é este : Pode este ser aplicado a relógios em movimento ?
A essa altura , Einstein formulava uma hipótese à primeira
vista surpreendente , mas confirmada por todos os testes experimentais já
realizados : Medida por um observador , a medida da luz é sempre a mesma ,
independente da velocidade que tenha o objeto que a emite em relação àquela
do observador . ( É bem sabido que a luz emitida por uma fonte em movimento ,
sofre alteração de cor , isto é , sua freqüência cresce e seu comprimento
de onda decresce , de modo que ambas se compensam e a velocidade permanece
constante ).
Para formular este princípio ( da constância ) , Einstein foi mais uma vez
guiado por sua intuição quanto ao que era simples e correto . As equações de
Maxwell incluem o princípio da constância , mas como conflitavam com a mecânica
newtoniana , era preciso adivinhar quais as equações corretas .
Dispondo do princípio da constancia , podemos voltar a questão
dos relógios . Imaginemos estar dois relógios sincronizados separados por uma
distância , com dois observadores localizados no ponto médio da distância
entre eles .Um dos observadores inicia movimento na direção de um deles .
Ambos os relógios que se acham em repouso indicam 7 hs , e conforme combinado ,
um sinal luminoso é emitido do ponto em que se acha cada um dos relógios . Ao
observador que está em repouso a meia distância , os dois sinais chegam
simultaneamente . Entretanto do ponto de vista do observador que se encontra em
movimento em relação a eles , o mesmo não acontecerá . O "tempo"
em um referencial diferirá do "tempo" em outro referencial . Havendo
provocado o problema , Einstein , avançou para estabelecer a fórmula matemática
suscetível de predizer como a marcha de um relógio em movimento se relaciona
com um relógio em repouso .
Consideraremos , adiante , outras conseqüências decorrentes
da teoria da relatividade do tempo . Aduziremos inicialmente um argumento
qualitativo para demonstrar que a marcha de um relógio em movimento é mais
lenta que a de relógios em repouso . Imagine uma barra de cristal , vertical ,
dentro da qual um raio de luz se desloca de um extremo a outro . Os dois
extremos , por sinal , dispõe de espelhos . O raio de luz gasta um segundo para
ir de uma ponta a outra . Se a barra se deslocar para a direita , o raio de luz
não estará mais se movendo apenas de baixo para cima , mas também da esquerda
para a direita , e assim percorrerá , aos olhos do observador em repouso na
Terra , uma distância maior e demorará mais tempo para atravessar a barra de
cristal . Como não é possível que a velocidade da luz tenha diminuído ,
temos que concluir que o tempo transcorre mais lentamente para objetos em
movimento .
Dito em termos de maior exatidão : o período do relógio em
movimento , aos olhos de um observador em repouso , vai-se tornando mais e mais
longo , na medida em que a velocidade desse movimento se aproxima da velocidade
da luz ; e se o relógio pudesse atingir a velocidade da luz , seu período ,
aos olhos do observador em repouso , tornar-se-ia infinito.
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