Einstein tinha o cérebro 15%
maior
e mais largo que o das outras pessoas
Daniel Hessel Teich
Ninguém
nasce sabendo, mas algumas pessoas podem ganhar um considerável empurrão da
natureza para alcançar a genialidade. É o caso de Albert Einstein, uma das
mentes mais brilhantes de todos os tempos. Na semana passada, 44 anos depois da
morte do físico alemão, cientistas canadenses anunciaram que Einstein nasceu
com um cérebro extraordinário, anatomicamente diferente da imensa maioria das
outras pessoas. Seu cérebro era pelo menos 15% maior e mais largo que o dos
demais, exatamente na parte responsável pelo processamento do raciocínio matemático
e pela concepção espacial, o chamado lobo parietal inferior. Além disso, não
tinha os sulcos que separam as duas porções dessa região, o que facilitaria a
comunicação entre os neurônios ali situados. O resultado seria uma forma de
pensar mais eficiente e inovadora, na opinião dos pesquisadores. "Isso não
significa que a anatomia determina o destino das pessoas", esclarece a
coordenadora da pesquisa, Sandra Witelson, da McMaster University, em Ontário.
"Mas o estudo deixa claro que as condições ambientais não são o único
fator importante na criação de um gênio."
O pai da teoria da relatividade morreu em 1955. Seu cérebro foi retirado do crânio sete horas após a morte pelo patologista Thomas Harvey, que também fotografou exaustivamente o órgão e depois o dividiu em 240 pedaços de vários tamanhos. A pesquisa canadense é a primeira a ter resultados conclusivos a respeito dos vínculos entre sua genialidade e a anatomia cerebral. No estudo, iniciado em 1996, todas as fotografias e os pedaços do cérebro de Einstein fornecidos por Harvey foram comparados com 91 outros do banco de órgãos mantido pela universidade. Todos eles foram retirados de pessoas que morreram com idade semelhante à de Einstein e tinham QI um pouco acima da média. Foi a partir dessa comparação que Sandra Witelson detectou as diferenças. Pelas medições, o cérebro de Einstein tem maior volume na porção parietal inferior, mas é menor em outras regiões, o que torna seu tamanho e peso muito semelhantes aos dos demais. Isso mostra que o fator decisivo não é o tamanho do cérebro, mas sua especialização em determinadas tarefas – no caso de Einstein, a área ligada ao raciocínio matemático.
A tentativa de encontrar explicação para a genialidade medindo o tamanho do cérebro não é uma novidade científica. Isso já foi feito com o cérebro do compositor Johann Sebastian Bach e o do filósofo René Descartes, entre outros. No século passado, o antropólogo francês Pierre Paul Broca chegou a afirmar que quanto mais pesado o órgão mais inteligente seria a pessoa. Acabou vítima de sua própria teoria: depois de morto, descobriu-se que seu cérebro era alguns gramas mais leve do que a média. "O que as pessoas faziam até poucas décadas atrás eram constatações simplistas", escreveu a neurologista Witelson no texto da pesquisa sobre Einstein, publicada na revista britânica The Lancet. "Hoje, temos condições de avaliar de forma mais adequada as relações entre função e as estruturas anatômicas do cérebro."
Fonte: Revista Veja 23/06/99