Biografia
A melhor biografia de Isaac
Newton é Never at Rest: A Biography of Isaac Newton de Richard S.
Westfall (Cambridge, 1980). Westfall publicou uma versão condensada dessa obra,
mais acessível ao público leigo, intitulada The life of Isaac Newton
(Cambridge, 1993), que foi publicada em português como A vida de Isaac
Newton (Nova Fronteira, 1995).
O Newton que emerge desta obra
é um sujeito muito mais complicado, mas também muito mais fascinante, do que a
figura estereotipada do gênio que descobriu a lei da gravitação universal
quando uma maçã caiu na sua cabeça (história ridícula e falsa, é claro).
Isaac
Newton nasceu no dia do Natal de 1642 em Woolsthorpe, Inglaterra, mesmo ano da
morte de Galileu Galilei (na verdade, pelo calendário atual já era 4 de
janeiro de 1643 - O calendário adotado na Inglaterra estava atrasado em 10
dias). Era um bebê tão mirrado que achavam que não iria sobreviver. Seu pai,
um proprietário rural analfabeto, havia morrido meses antes. Com três anos de
idade Newton foi deixado pela mãe, que se casara novamente, com os avós. Desde
criança mostrava uma incrível habilidade para construir artefatos mecânicos e
objetos de madeira, porém seu primeiro contato com a matemática ocorreu apenas
quando tinha 20 anos de idade e já estava em Cambridge. Ele comprou um exemplar
de Euclides para ajudá-lo a entender um livro de astrologia. Newton teria
menosprezado os teoremas de Euclides, achando-os auto-evidentes. Aparentemente a
paixão de Newton pela matemática só foi despertada com a Geometria
de Descartes, que devorou sofregamente e de maneira auto-didata. Os anos de 1664
a 1666 ficaram conhecido como Anni Mirabiles. Em pouco tempo Newton devorara
toda a matemática conhecida na época e passara a criar. Descobriu a expansão
do binômio que leva seu nome e desenvolveu um método para a solução de
problemas com grandezas variáveis denominado por ele "método das fluxões",
conhecido hoje como cálculo diferencial e integral. Desvendou a natureza da luz
através de experimentos engenhosamente concebidos com prismas, fendas e
anteparos. Deduziu a fórmula da aceleração centrípeta e através dela
comparou a aceleração necessária para manter a lua na sua órbita com a
aceleração com que os objetos caem na superfície da terra, chegando a conclusão
que uma mesma força que fosse inversamente proporcional ao quadrado das distâncias
poderia ser a responsável. Em 1669 Newton assume a cadeira lucasiana de matemática
do Trinity College da Universidade de Cambridge, sucedendo a Isaac Barrow,
grande professor que havia sido muito importante para o despertar de Newton para
a matemática. Nesta época ele inventou o telescópio de reflexão, ou
newtoniano. A dedicação de Newton à matemática e a filosofia natural nunca
mais seria a mesma dos Anni Mirabiles, pois agora ele estava dividido com outras
paixões, como a alquimia e os estudos biblícos. Mas ele continuava refinando
suas descobertas, e em 1672 ele publicou um artigo sobre a natureza das cores
que foi muito mal-recebido. Excessivamente sensível e exigente, esta recepção
foi devastadora sobre Newton, que se retraiu ainda mais e desistiu de publicar
outras descobertas, que talvez ainda julgasse incompletas ou imperfeitas. Este
retraimento custou caro quando Leibniz publicou antes dele sua descoberta
independente do cálculo diferencial e integral. Newton ressentiu-se desse episódio
até o fim da vida, tentando a todo custo provar que Leibniz havia roubado suas
idéias. Newton era um sujeito difícil, para dizer o minímo. Diz a lenda que
foi Edmond Halley quem conseguiu tirar Newton do seu casulo. Halley teria
visitado o amigo e comentado com ele a hipótese de que os planetas seriam atraídos
pelo sol por uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância.
Essa hipótese já era difundida entre os estudiosos da época, mas ninguém
tinha conseguido demonstrar matematicamente que uma tal força provocaria
necessariamente órbitas elípticas. Newton bocejou e comentou que já tinha
resolvido esse problema muitos anos atrás, mas não sabia onde estavam as anotações.
Ele pediu alguns a Halley e escreveu um artigo de 9 páginas, intitulado De
Motu Corporum (Sobre o Movimento dos Corpos). No qual ele enunciava as três
leis do movimento e demonstrava como uma força centrípeta inversamente
proporcional ao quadrado da distância poderia manter os planetas em órbitas elípticas.
Espantado, Halley passou a insistir para que Newton publicasse suas descobertas.
Newton, o perfeccionista, pediu um tempo para elaborar e organizar suas idéias.
E o que poderia ter sido, nas mãos de um cientista preguiçoso, um pequeno
artigo, foi tomando o tamanho de uma obra monumental. Halley, que acompanhava
tudo, publicou uma resenha sobre a obra, pouco antes de sua publicação, que
mostrava seu assombro. A resenha começa assim:
"Esse incomparável autor,
depois de finalmente persuadido a aparecer em público, forneceu nesse tratado
um exemplo realmente notável dos poderes da mente; e, de uma só vez, mostrou
quais são os princípios da filosofia natural e a tal ponto derivou deles suas
consequências que parece haver esgotado seu tema, pouco deixando a ser feito
pelos que haverão de sucedê-lo".
Este tratado se chama
Philosophiae Naturalis Principia Mathematica e foi publicado em 1689 em latim, a
língua "oficial" da época. É considerada a maior obra científica
da todos os tempos. Seu sucesso foi imediato na Grã-Bretanha. No continente a
nova obra foi se impondo mais lentamente, enfrentando a resistência de
cientistas como G. W. Leibniz, que consideravam a atração a distância um
conceito místico e inaceitável. É curioso isso, que Newton, considerado um
dos pilares do racionalismo moderno, tivesse o conceito central de sua obra
rejeitado como místico! Mais espantoso é saber que Newton era realmente muito
místico, até para os padrões da época. Seus principais interesses eram os
estudos teológicos e a alquimia, sá depois vinha a "filosofia
natural" como era chamada a ciência na época.
Depois da publicação dos Principia
Mathematica Newton se tornou uma celebridade. Foi presidente da Casa da
Moeda Britânica, onde perseguiu ferozmente os falsários. Foi condecorado com o
título de Sir (primeiro cientista a conquistar essa honraria). Só
esporadicamente se dedicou a ciência, publicando revisões de seus trabalhos.
Considerava a matemática um "hobby" de sua juventude. Nessa época,
quando era presidente da Casa da Moeda e estava a muitos anos longe dos estudos,
foi-lhe apresentado um problema elaborado pelo matemático suiço Bernoulli, que
tinha sido lançado como desafio aos matemáticos europeus. Consta que Leibniz
teria pedido 6 meses para resolver esse problema; como não conseguisse no
prazo, pediu mais 6 meses. Newton recebeu o problema numa tarde, e no dia
seguinte, antes de sair para o trabalho, havia resolvido o problema e criado um
novo ramo da matemática. Mostraram a solução do problema a Bernoulli sem
dizer o nome do autor, ele teria adivinhado que fora Newton, e dito
"Conhecemos um leão pelas suas garras".
Isaac Newton morreu em 1727,
como presidente da Royal Society, pouco tempo antes de completar oitenta e cinco
anos de idade. Foi enterrado na Abadia de Westminster, Londres. Sobre seu túmulo
foi inscrito em latim o seguinte epitáfio: "Que os mortais se regozijem
por ter existido tamanho ornamento da raça humana".
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