Mário Lima foi um dos impulsionadores. Queria transformar o tango num expoente do cosmopolitismo que se pretendia com a Porto 2001
Foi a partir do Porto que a dança e a cultura do tango argentino se expandiram para o resto do país. Mário Lima foi um dos grandes impulsionadores. A intenção do médico era que o tango se transformasse “num dos expoentes do cosmopolitismo que se pretendia para a cidade”, quando se falava na Porto 2001. Chegou a ser criado o Clube de Tango do Porto (CTP), que Mário Lima presidiu, mas “a ideia fracassou”. A instituição acabou por sofrer vicissitudes várias e suspendeu as actividades. Apesar de tudo, funcionou como um “embrião”.
Tudo começou quando o médico veio morar para o Porto, há 12 anos. Conheceu algumas pessoas que gostavam de ouvir tango e entre eles surgiu a ideia de criar um clube. “O grande impulso do tango em Portugal foi, sem dúvida, dado no Porto”, assevera António Alberto Martins, que também esteve ligado ao CTP e agora é um dos responsáveis da milonga das Antas.
Paula Basto, professora diplomada em danças de salão chegou a fazer parte da direcção do CTP e esteve ligada ao tango argentino desde o início. Foi outro dos motores do tango em Portugal. Concorda que “o impulso dado ao tango em Portugal começou no Porto”. Recorda que, em 1997, Mário Lima trouxe uma Cumbra [encontro] Mundial de Tango a Portugal. “Isso veio trazer uma sensibilização grande às pessoas. Nessa altura não havia ninguém a dançar tango…”. Depois começaram os workshops e os cursos intensivos. Um par de bailarinos argentinos residentes em Madrid – Pablo e Beatriz – começou a vir ao Porto com alguma regularidade, outro par foi contratado para dar aulas semanalmente. Paula participou em tudo. E ainda foi a Buenos Aires e a vários países europeus fazer formação.
Depois, Mário Lima foi à Argentina contratar bailarinos para trabalharem no clube como professores residentes. Em 2000, conseguiu que Vila do Conde recebesse o primeiro Encontro Internacional de Tango realizado em Portugal. O CTP acabou quando já Mário Lima não estava na presidência e os bailarinos Genoveva e Andres foram contratados para dar aulas em Inglaterra, em 2003.
A verdade é que, já antes disso, o CTP definhava. Em finais de 2001, quatro amigos decidiram levar Oscar e Gladys para um novo espaço, a Esquina de Tango. António Alberto Martins foi um dos mentores. O objectivo era criar condições para que eles pudessem permanecer em Portugal. Assim, um ano depois, deixaram a escola nas mãos dos argentinos. “A verdade é que, quando saímos do CTP, trouxemos connosco 90 por cento dos seus alunos”, observa Martins, para quem o tango continua, actualmente, a ter “mais pujança do que em Lisboa”.
O tango não é só a dança
Mário Lima continua apaixonado pelo tango argentino. Mas relembra que é “muito mais do que a dança”. Para o médico, o mais importante “é a música e a cultura”. “A música é a grande preciosidade. O canto exprime a poesia peculiar deste ritmo que é o tango”, sustenta. É por este motivo que, na sua perspectiva, a “grande pérola” da cultura do tango no Porto é a Orquestra de Tango da Universidade do Porto. Formada por 14 elementos, tem 55 anos de actividade ininterrupta. “Esta é a pérola do tango. O resto é secundário”, sublinha Mário Lima.
Alberto Martins, que dança tango argentino há dez anos e continua a ter aulas, também chama a atenção para a música: “Para se gostar de tango é preciso gostar-se da música. Quem não gosta da música não consegue dançar. O tango é a dança mais difícil de todas, porque envolve o sentimento”.
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