OS
PAÍSES E SEUS TERRITÓRIOS
O
estudo da Geografia Política mostra que a territorialidade pode ser entendida
como uma estratégia para influenciar ações por intermédio do controle, não
só do espaço, mas também do tempo, isto é, do espaço-tempo.
O
território é importante
condição de poder. Seu
adensamento num espaço próprio e controlado,
somado à aceleração de sua mobilidade nas áreas de fronteira, resulta
num aprendizado social que se manifesta em novas formas de resistência
organizada.
A
palavra território normalmente lembra o território nacional de um país que,
como veremos mais adiante, pressupõe a existência de um Estado. Mas o território
não deve ser necessariamente entendido na escala nacional e em associação com
a figura do Estado. Territórios existem e são construídos nas mais diversas
escalas, desde a menor, como a área sob controle de uma família ou tribo indígena,
à mais ampla, como a área formada pelo conjunto dos países-membros da
Comunidade dos Estados Independentes (CEI) ou da União Européia (UE).
Os
territórios podem ter um caráter permanente, com limites bem definidos há
muito tempo, assim como uma existência temporária, a exemplo da área ocupada
por vendedores ambulantes nas ruas de uma cidade. Então, os territórios são
definidos e têm duração por períodos de tempo variáveis, sejam séculos, décadas,
anos, meses ou até dias e horas.
O
território pode ser definido geograficamente, como o espaço concreto em si,
com seus atributos naturais e
socialmente construídos, que é apropriado e ocupado por um grupo social.
A
definição de um território é um fato gerador de raízes e de identidade em
um grupo social. Na realidade, uma comunidade não pode ser compreendida sem o
seu território, pois a identidade sócio-cultural das pessoas está
indissoluvelmente ligada aos atributos do espaço concreto (natureza, patrimônio
arquitetônico, paisagem).
Os
limites do território não foram e não são imutáveis,
pois as fronteiras podem ser alteradas em decorrência da expansão das área de
influência de um grupo social, seja sobre terras despovoadas, seja pela
conquista dos territórios de outras comunidades. Existem limites naturais, como
rios ou montanhas, que há muito tempo isolaram comunidades, criando
dificuldades de comunicação entre elas.
Dessa
maneira, o território é fundamentalmente um espaço
definido e delimitado pelas relações
de poder e a partir delas.
Na
África, são numerosas as interseções entre os limites dos países e as
fronteiras territoriais dos conjuntos étnicos. No final do século XIX, as potências
coloniais européias partilharam entre si o continente africano, sem levar em
conta a distribuição dos diferentes povos que o habitavam. Com a descolonização,
os dirigentes dos novos Estados africanos fizeram acordos para manter as
fronteiras definidas pelos colonizadores, o que provocou muitos conflitos, e
continua provocando, já que algumas etnias são rivais tradicionais de outras
que foram forçadas a conviver em um mesmo país.
A
territorialidade deve ser entendida como uma correlação
de forças espacialmente delimitadas e operando sobre uma área
geográfica específica.
As
grandes metrópoles modernas, com toda a sua complexidade, podem conter os
exemplos mais interessantes e variados de territorialidades, isto é, de
diversas formas de apropriação de territórios. Nelas podemos encontrar grupos
sociais que vão ocupando áreas gradativamente, como os vendedores ambulantes
nas principais ruas comerciais. Também existem territorialidades que resultam
da ausência dos poderes públicos, a exemplo daquelas ligadas a atividades
ilegais como o narcotráfico, ou a contravenções.
A
apropriação dos espaços públicos por grupos privados é um atentado à
cidadania. Exemplo disso é o que ocorre nas praias brasileiras, onde empresários
inescrupulosos querem se beneficiar de uma paisagem privilegiada para obter
lucros, desalojando populações pesqueiras e fechando praias para o uso público.
Há
também a luta pela ocupação de terras abandonadas por trabalhadores que não
têm onde morar e que, muitas vezes, constróem seus abrigos em áreas sujeitas
a enchentes e desabamentos, o que muitas vezes é visto como uma “invasão”
pelos demais moradores do bairro.
O
papel do Estado, enquanto agente de programar a organização do espaço, foi
descrito pela professora Bertha Becker ao afirmar que a geopolítica
é uma expressão de “uma profunda mudança de rumo, que se processa no
desenvolvimento histórico do capitalismo, que passa a se reproduzir não mais
apenas nas relações econômicas mas, sim, também, nas relações sociais de
produção, vale dizer na sociedade inteira e no espaço inteiro. O valor estratégico
de espaço não se resume mais aos recursos e posições geográficas. Ele se
torna condição da reprodução generalizada e, como tal, o espaço do poder. A
partir de então, o Estado se torna necessário para assegurar as condições de
reprodução das relações de dominação, para tanto instrumentalizando o espaço
e produzindo seu próprio espaço, o espaço estatal”.
Na
introdução da Constituição brasileira está escrito que “os representantes
do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir
um Estado democrático,
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e internacional, com
a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”.
Iniciamos
o estudo desta tema com a nossa Constituição, e vemos nela que o seu primeiro
objetivo é instituir um Estado
para assegurar os direitos e a identidade de um determinado grupo social: o povo
brasileiro.
Com
isso queremos ressaltar que o Estado-nação
é uma porção do espaço geográfico que possui características políticas,
administrativas e econômicas particulares, e que, do ponto de vista da
Geografia, o Estado está antes de tudo e primordialmente caracterizado por seu Território.
Podemos
definir um país como um território habitado por determinado grupo social ou
comunidade que tem uma identidade
cultural e uma realidade histórica e geográfica que o caracteriza. Se partirmos da consideração de que o
território é o espaço organizado politicamente, com identidades culturais próprias,
podemos afirmar que não existe Estado sem território, inclusive os Estados
muitos pequenos, a exemplo do Vaticano (dentro da cidade de Roma, na Itália).
O
Estado, portanto, possui um espaço organizado politicamente, com seu povo, suas
instituições e seus fins.
Por
isso o Estado, desde sua origem, trata de integrar de uma maneira efetiva todos
os componentes territoriais e de garantir a consolidação de uma sociedade
fundada em interesses comuns, e que, com o passar do tempo, conquiste o
desenvolvimento integral e o bem compartilhado. Os homens e as mulheres que
vivem no território dependem das mesmas leis e regulamentos. O Estado é,
portanto, uma entidade que tem seu próprio governo e sua própria administração:
uma Nação politicamente organizada.
Assim,
o território nacional é a
base natural do Estado e, de alguma maneira, estabelece suas potencialidades e
debilidades. A função principal do território nacional, como entidade dentro
da organização política do espaço, consiste em definir, por um lado, as relações
entre a comunidade e seus habitantes e, por outro, entre a comunidade e seus
vizinhos.
Isso tudo adquire significado especial, pois os Estados muitas vezes em sua história se vêem obrigados a redefinir essas relações e, portanto, as distribuições dentro do espaço nacional.
O
número de Estados que conhecemos é relativamente recente. Alguns deles tiveram
sua origem na Antigüidade e são, hoje, parte de antigos impérios, reinos,
principados etc.
No
início do século XX, havia menos de cinqüenta. Agora são mais de 180 em toda
a superfície. Esse rápido aumento ocorreu principalmente a partir da independência
adquirida por antigas colônias que eram possessões de outros Estados.
Porém,
sabemos que o mapa de Estados do mundo ainda não está definitivamente
delineado, porque existem disputas em determinados territórios por motivos
diversos ainda não resolvidos.
Os
Estados são potências desiguais. Tais desigualdades resultam de condições
geográficas, como diferenças de superfícies e recursos, efetivo da população,
importância da sua atividade econômica, e o poderio do seus aparelhos de
Estado. Podemos citar como exemplo a China, que tem 2 bilhões de habitantes, e
pequenos Estados com menos de 100 mil habitantes (Dominica, Seychelles).
Para
dar conta do poderio de um Estado também temos de levar em conta sua atividade
econômica, a importância do seu Produto Nacional Bruto (PNB) e seu potencial
industrial.
A
partir da decisão de aumentar o preço do petróleo, na década de 1970, os
Estados exportadores do petróleo passaram a dispor de consideráveis fontes
financeiras, e contavam com escassos efetivos de população. Isso passou a
caracterizá-los por valores recordes no PNB, como no caso do Kuwait e dos
Emirados Árabes. No entanto, esses Estados não possuem indústrias, e seu
potencial militar é muito baixo.
O
valor do PNB nos dá uma idéia do poderio de um Estado, determinando seu
potencial global, mas é preciso levar em conta que a renda nacional muitas
vezes está repartida desigualmente, e que se concentra nas mãos de uma minoria
privilegiada.
Existem,
portanto, desigualdades muito marcantes entre as nações do mundo atual, o que
vai repercutir nas relações econômicas entre eles. De fato, os menores e
menos ricos dependem das grandes potências, podendo-se distinguir duas grandes
categorias: os que constituem uma espécie de da vida econômica mundial e os
que formam a periferia.
Os
países desse centro economicamente desenvolvido, que são aproximadamente
trinta Estados - isto é, uma quarta parte da população do planeta -, dispõem
da maior parte do potencial industrial do mundo e controlam a atividade econômica
mundial. A maioria dos países da periferia, ou seja, cerca de 150 Estados - três
quartas partes da população mundial -, depende comercial e tecnologicamente
dos países desenvolvidos.
Em
termos geográficos, o território nacional é um
espaço delimitado
pelas fronteiras que o separam dos Estados vizinhos. Essas fronteiras, naturais
ou convencionadas, resultaram de um processo de reivindicações territoriais, a
partir da ocupação (pacífica ou não) de áreas nas quais criam-se vínculos
culturais e um determinado grupo social.
Para
compreender a formação dos países é imprescindível o conhecimento geográfico,
pois só por intermédio da Geografia podemos ver os vínculos que conectam as
condições físicas, históricas e políticas de um determinado território.
O
papel do Estado foi assumindo importância fundamental por suas atribuições
cada vez maiores: financeiras, jurídicas, militares, econômicas e sociais. Mas
esse papel sofreu modificações nos diferentes períodos históricos da
humanidade. Hoje, na era da globalização - que expressa a idéia de uma
economia globalizada -, o papel do Estado depende das relações entre conjuntos
de Estados. Cada vez mais, existem grupos de Estados que se unem por interesses
comuns, como os que integram a Comunidade Européia, o Nafta, Mercosul.
Agora,
muitas vezes os limites de um Estado não coincidem com os limites de uma nação,
porque não é a natureza que está determinando a linha de fronteira, mas as
relações de força dos Estados. Assim, alguns Estados reivindicam, hoje,
territórios que consideram anexados por outros vizinhos, justificando tais
reivindicações por motivos geográficos e históricos. Exemplo disso é o
conflito árabe-israelense.
Alguns
povos têm conseguido impor o princípio de nacionalidade e, pouco a pouco,
algumas nações lograram formar um Estado e agrupar-se nele. Mas, existem
outros que apresentam conflitos internos em seu território justamente por não
exibirem caracteres que os identifiquem como uma unidade. Assim, por exemplo, a
metade dos albaneses se encontra além dos limites da Albânia, e o povo basco,
dividido entre França e Espanha, luta para constituir um Estado que os
unifique. Isso também ocorre na África, ao sul do deserto de Saara, onde o
processo de colonização colocou sob a jurisdição de um mesmo Estado nações
distintas, como os tutsis e os hutus, em Ruanda.
Temos, ainda como exemplo o povo curdo(no Oriente Médio) dividido pelas fronteiras de
cinco Estados distintos e, que há muito tempo luta por sua unidade e sua
independência.
Podemos
afirmar, então, que entre os Estados não existem somente relações
comerciais, mas também relações de força,
isto é, dos meios de se fazer
guerra.
Durante
séculos, os diferentes Estados se esforçaram para estender seus territórios e
para defendê-los contra as ambições territoriais de seus vizinhos.
As
fronteiras foram se modificando por causa dessas rivalidades.
Hoje,
pode-se considerar que as fronteiras da maior parte dos Estados são bastante
estáveis, porém ainda existem fronteiras de criação. E, até hoje, a possessão
de muitos territórios é tema de controvérsia entre alguns países.