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Geografia
do Brasil - Ecomonia
0 Brasil na economia global
Investimentos externos
0 desenvolvimento da
economia mundial, com o correspondente acúmulo de capitais, de um lado, e, de
outro, o extraordinário avanço das telecomunicações e da informática, permitiu
nos últimos anos um acentuado aumento dos fluxos de recursos em escala
internacional - uma formidável globalização financeira.
A movimentação de
capitais de um país para outro pode ser de diversos tipos: investimentos,
empréstimos, financiamentos, remessa de lucros, etc. Os recursos destina dos à
atividade produtiva- na indústria, na agricultura, nos serviços - são chamados
de investimentos diretos. No fim
do século XX, os investimentos externos diretos saltaram, no mundo todo, de 200
bilhões em 1991 para 1,1 trilhão de dólares no ano 2000. A imensa maioria desses
recursos é aplicada em países do Primeiro Mundo, isto é, empresas de países
ricos investindo em países igualmente desenvolvidos. Os Estados Unidos, de onde
provém a maior fatia dos investimentos externos, são igualmente o país que mais
recebe recursos de fora - cerca de 30% das aplicações produtivas internacionais.
No conjunto, os países da União Européia acolhem mais de um terço do total
mundial investido na produção de bens e serviços. 0 gráfico abaixo apresenta a
distribuição percentual dos investimentos estrangeiros de acordo com o grau de
desenvolvimento humano.

Todo investidor joga
com duas variáveis fundamentais, que, em geral, são inversamente proporcionais
entre si: lucratividade e segurança. Daí a preferência dos investi mentos
produtivos pelos países desenvolvidos, onde a estabilidade econômica e política
garante segurança ao capital, mesmo que os lucros sejam pequenos. Por outro
lado, para investir em países sujeitos a crises que significam riscos, somente a
possibilidade de lucros elevados pode constituir atrativo eficaz. Por isso,
grande parte do capital que ingressa em países menos desenvolvidos assume a
forma de investimentos
especulativos, ou seja, recursos aplicados para a obtenção de lucros a curto
prazo, propiciados por altas taxas de juros ou por negócios rápidos em bolsas de
valores. Constituem o que também é chamado de capital volátil, pois, assim como
chegam, podem ausentar-se rapidamente, a qualquer momento, gerando crises de
proporções variáveis (gráfico abaixo).

As crises financeiras,
que têm ocorrido em países de economia muito dependente do exterior, refletem-se
nos fluxos de investimentos estrangeiros. 0 gráfico mostra que a crise do
México, em 1994-95, e, mais notadamente, a crise asiática, em 1997-98,
provocaram retração de investimentos nos países em desenvolvimento e incremento
de inversões nos países desenvolvidos, em virtude da migração de recursos em
busca de segurança.
No Brasil, por exemplo, nos últimos cinco anos, apenas cerca de 10% dos recursos
financeiros do exterior constituíram capital produtivo; aproximadamente 40%
foram aplicados em bolsas de valores e os restantes 50% destinaram-se a
empréstimos.
Os fluxos de investimentos produtivos também estão sujeitos a redirecionamentos
- embora muito menos que o capital esppeculativo -, sempre e
função
dos atrativos que um país ou região possa oferecer. Na América Latina, os
investimentos externos têm aumentado após a superação da crise do México, em
1994-95, com maior incremento por ocasião da crise asiática, em 1997-98. Deve-se
esse aumento a vários fatores presentes nos principais
países
do continente: maior articulação na economia global, com participação mais
intensa no comércio internacional; privatização de empresas públicas; e reformas
do Estado, facilitando a entrada e saída de capitais e flexibilizando as
relações de produção e de trabalho. Veja o gráfico abaixo.

No Brasil, o ingresso anual de capital estrangeiro passou de
1
bilhão para 31
bilhões de dólares, ao longo da última década do século XX. Desde 1996 o país
ocupa
o primeiro lugar na América Latina (gráfico a seguir) e, entre as nações em
desenvolvimento, figura em segundo lugar, perdendo apenas para a China, no que
se refere a investimentos diretos externos.

O afluxo de recursos externos no Brasil acentuou-se a partir da segunda metade
dos anos 1990, graças especialmente a três fatores: política de estabilização;
altera ção do conceito de empresa nacional; e quebra dos monopólios estatais,
com a venda de empresas públicas. De fato, a política implantada pelo governo em
1995, com a adoção de nova moeda, a despeito do ônus social que a acompanhou,
conseguiu estancar a inflação e dar uma certa estabilidade à economia, condição
indispensável a investimentos verdadeiramente produtivos e duradouros.
Pela Constituição de 1988, uma empresa era considerada brasileira se a maior
parte de seu capital fosse de origem nacional. Esse conceito legal constituía um
embaraço à atuação do capital estrangeiro no país. Em 1995, uma Emenda
constitucional terminou com a restrição, ao considerar brasileira qualquer
empresa instalada em território brasileiro. Ao tornar todas as empresas iguais,
especialmente no que tange a incentivos de todo o tipo, a alteração significou
um grande estímulo para o ingresso de capital estrangeiro no Brasil.
Os leilões de privatização, seja para a venda de empresas, seja para a concessão
de direitos de exploração de serviços públicos, representaram um fascinante
atrativo ao capital estrangeiro, que entrou em expressiva escala no país,
comprando estatais ou constituindo novas empresas.
Até então, e desde a internacionalização do capital produtivo,
nos anos 1950, os investimentos estrangeiros ocorriam principalmente na
indústria. Agora, e sobretudo em 1997-98, no auge das privatizações, o capital
externo é atraído principalmente pelo setor de serviços, com destaque para as
telecomunicações e distribuição de energia elétrica.
Grande parte do capital de origem externa atuante no Brasil é de
empresas norte-americanas (General Motors, Ford, Texaco, etc.), as quais, junto
com empresas européias, são responsáveis por cerca de dois terços dos
investimentos estrangeiros no país. Entre as firmas européias, destacam-se as
alemãs (Volkswagen, Daimler-Chrysler, Siemens, etc.), as francesas (Renault,
Peugeot, Carrefour, etc.), as italianas (Fiat, Pirelli, Parmalat, etc.) e,
ultimamente, as espanholas (Telefônica, etc.) e as portuguesas (Telecon, etc.),
que têm investido sobretudo em telecomunicações. É de se registrar, contudo, a
crescente presença de capitais asiáticos, particularmente japoneses e coreanos.
O aumento dos investimentos externos no Brasil traduz a maior
inserção do país na economia global. Segundo a Unctad (Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio
e Desenvolvimento), no ano 2000, 384 das 500 maiores empresas do
mundo estavam presentes no emergente mercado brasileiro. Ao mesmo tempo, tem
ocorrido uma alteração na estrutura empresarial do país, com as empresas
estrangeiras tendo um crescimento percentual no faturamento das 500 maiores
empresas estabelecidas em território brasileiro, como se pode observar no quadro
abaixo. BRASIL: EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE CADA SETOR NO FATURAMENTO DAS 500
MAIORES EMPRESAS (em percentagem)
Empresas |
1985 |
1990 |
1995 |
2000 |
Estrangeiras |
28,5 |
31,1 |
33,3 |
35,5 |
Nacionais |
40,7 |
42,7 |
43,6 |
44,5 |
Estatais |
30,8 |
26,2 |
23,1 |
20,0 |
Fonte: Publicação |
Maiores e melhores, citada em OEstado deS. Paulo, 11dez.
2000. |
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As multinacionais, ou transnacionais, que compraram estatais ou
adquiriram concessões de serviços públicos fizeram investimentos,
indubitavelmente, produtivos. No entanto, os recursos recebidos pelo governo com
os tais leilões de privatização foram usados, em sua maior parte, para o
pagamento da dívida externa, restando pouco para obras de valor econômico ou
social. Contudo, novos investimentos foram feitos pelos investidores para
melhoria, modernização ou ampliação do seu negócio, buscando sempre a
produtividade capaz de propiciar os lucros almejados.
A busca de produtividade, por sua vez, implica aumentar a
capacitação tecnológica, o que demanda novos investimentos e exige maior
qualificação da mão-de-obra,
podendo, assim, contribuir para a elevação da média salarial do país.
Concentração de
capitais
No início da Revolução industrial, o processo de produção
capitalista dependia em grande parte da ação física de um grande número de
trabalhadores. Desde então, constrangidos a atender sucessivas reivindicações de
seus empregados e a pagar-lhes salários cada vez mais elevados, os empresários
sentiram-se impelidos a buscar lucros mediante ganhos de produtividade, isto é,
obter maior produção por tempo de trabalho consumido. Daí os contínuos e
crescentes investimentos em estudo, pesquisa e treinamento de pessoal, do que
resulta o avanço do conhecimento, das técnicas e da qualificação da mão-deobra.
No pós-guerra, ou seja, dois séculos depois, esse avanço atingiu notável
aceleração, de tal modo que, hoje, a atividade produtiva depende
fundamentalmente da ciência e da tecnologia, voltadas diretamente para a
produção de mercadorias. Em outras palavras, o processo produtivo é cada vez
mais intensivo: máquinas e equipamentos mais aperfeiçoados; novas tecnologias; e
mãode-obra menos numerosa, porém mais qualificada.
Ora, essa intensificação tem um custo considerável, acessível
geralmente às empresas maiores, por disporem de mais recursos, e que pode ser
proibitivo às pequenas firmas. Disso resulta uma decisiva vantagem das grandes
sobre as pequenas empresas, pois, em geral, quem investe mais produz melhor,
habilitando-se, assim, a obter sucesso na competição pelo mercado. Por isso, as
grandes empresas tendem a "engolir" as competidoras menores por meio de
aquisições ou incorporações. Esse processo de concentração de capital, inerente
ao capitalismo, é responsável pela formação dos monopólios, ou melhor, dos
oligopólios, isto é, poucos grupos de empresas que dominam o mercado.
Com a globalização, a economia mundial torna-se cada vez mais
oligopolista, com grupos de transnacionais gigantescas controlando cada qual uma
fatia ou segmento do mercado. No atual patamar da evolução capitalista, a
competição desenfreada de antigamente assume a forma de moderna e respeitosa
concorrência, que admite até mesmo alianças estratégicas entre empresas para
conquistar mercado.
Embora transformada, a competição não desaparece, até mesmo porque a
competitividade é o motor principal da globalização. Sempre em busca de maior
produti vidade - e de lucros, indispensáveis a novos investimentos-, são comuns
as fusões de empresas quando duas ou mais delas, geralmente de grande porte, se
unem para formar uma outra, de maior dimensão e alcance no mercado.
Essas fusões podem ocorrer entre empresas do mesmo ramo (telecomunicações, por
exemplo: Time Warner e America Online) ou de ramos afins (por exemplo:
entretenimento
Watt
Disney
e rede de
televisão-ABC). Entre empresas de ramos ou de setores distintos, são menos
freqüentes as fusões; nesse caso, é mais comum ocorrer aquisição ou incorporação
- um banco comprando uma indústria, poor exemplo.
A quase totalidade dos investimentos diretos realizados nos países desenvolvidos
destina-se a incorporações e fusões. Nos países subdesenvolvidos ou em
desenvolvi mento, os investimentos produtivos estrangeiros estão dirigidos
basicamente para a compra ou aquisição de empresas, públicas ou privadas.
Integrado na economia global, o Brasil é parte do espaço onde ocorrem os
processos de concentração de capital: também aqui os diversos segmentos do
mercado tendem a ser oligopolistas, controlados por poucas mas grandes empresas,
quer sejam transnacionais, quer estrangeiras associadas ao capital nacional,
excetuando remanescentes estatais ainda não privatizadas, como a Petrobrás. Os
oligopólios estão presentes no setor automobilístico, de equipamentos de
informática, de telecomunicações e de gravadoras de discos, entre outros.
0 Brasil e o mercado global
A competitividade de um país é medida pela sua
capacidade de atrair capitais produtivos e, sobretudo, de oferecer ao mercado
mundial produtos com qualidade e preços comparáveis aos dos concorrentes
internacionais.
Para atrair investimentos diretos e obter financiamentos externos, um país
precisa oferecer alguma segurança, isto é, apresentar fundada expectativa de que
o capital que nele ingressar haverá de retornar ampliado de alguma forma.
Estabilidade política e econômica, equilíbrio das finanças públicas,
investimentos em infra-estrutura, em tecnologia e em capacitação da força de
trabalho são algumas variáveis que entram na definição do risco que um país
apresenta ao capital internacional.
0 chamado risco Brasil tem sido classificado pelas agências globais
especializadas como moderado, de nível
B. Entre
os emergentes
(Emergentes:
são assim chamados os países em processo de aprofundamento da integração à
economia mundial e, por isso, capazes de oferecer atrativos aos investidores
internacionais. Fazem parte do grupo os países com apreciável dinamismo
econômico, mas alheios ao Primeiro Mundo, como é o caso de nações do Leste
europeu, dos Tigres Asiáticos, da China e da Rússia, da África do Sul, do Brasil
e do México.)
, Malásia e Tailândia, por exemplo, costumam figurar acima do Brasil, no nível
A. Paquistão e Filipinas, assolados por crises políticoreligiosas internas,
foram considerados no nível C.
0 fator que mais pesa na indesejável
classificação de risco do Brasil é a dívida pública, muito elevada em relação às
receitas que o país tem a receber em dólar, provenientes das exportações. No
início do novo milênio, por exemplo, Chile e México, dois concorrentes
latino-americanos, figuravam na frente do Brasil, em matéria de risco, e, em
conseqüência, ofereciam maior atração para o capital estrangeiro.
Quanto aos preços, como fator decisivo da competitividade, cabe esclarecer que
eles dependem dos custos de produção, acrescidos do lucro das empresas,
indispensável a novos investimentos. No Brasil, as empresas são oneradas com
despesas adicionais ou exageradas, representadas por uma pesada carga tributária
(muitos impostos e taxas) e por encargos trabalhistas (FGTS, INSS, etc.), que
aumentam os gastos com mão-de-obra.
Além disso, os exportadores brasileiros estão submetidos a elevadas despesas
portuárias, que encarecem ainda mais o preço final dos produtos vendidos ao
estrangeiro. 0 projeto de modernização dos portos e o processo de privatização
do direito de exploração das operações de embarque e desembarque têm sido
insuficientes para provocar redução significativa de despesas. As tarifas do
porto de Santos, por exemplo, são em média quatro vezes maiores que as dos
principais portos mundiais.
A incidência de despesas adicionais ou exageradas caracterizam o denominado
custo Brasil, que compromete a competitividade dos produtos brasileiros no merca
do internacional. Estudos recentes demonstraram que, sem o custo Brasil, as
exportações do país poderiam aumentar 20%.
Para competir, qualidade e preço baixo
Com a revolução tecnológica em curso, que muitos chamam de revolução
técnico-científica ou terceira revolução industrial, a qualidade de um produto é
avaliada sobretudo em função da modernização dos métodos de produção.
O fator tecnológico não envolve somente as indústrias
consideradas de ponta. Máquinas comandadas por computador garantem mais rapidez
e melhor controle de qualidade em qualquer área.
No setor das indústrias têxteis e de confecções, por exemplo,
China, Hong Kong e Coréia controlam sozinhos cerca de 30% das exportações
mundiais. Concomitantemente a participação da América Latina no total mundial é
de 2%; a do Brasil, menos de 1 %.
A possibilidade de o país ampliar sua participação no setor está
na razão direta do investimento em modernização produtiva, e o Brasil, em
comparação com outros países, principalmente com os desenvolvidos, investe muito
pouco em ciência e tecnologia. Num novo índice criado pelo Pnud (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento), o índice de Conquistas Tecnológicas,
divulgado em 2001, o Brasil ocupa a 432 posição entre 72 países pesquisados.
Finlândia, Estados Unidos, Suécia, Japão e Coréia do Sul são os cinco primeiros
colocados.
Além disso, os investimentos continuam extremamente concentrados
na região Sudeste, mais especificamente nas universidades e centros de pesquisa
do estado de São Paulo (gráfico abaixo).

Sem dúvida, o monopólio das empresas transnacionais, cujo poder
sobre o setor tecnológico é amplo, torna mais difícil o desenvolvimento das
potencialidades competitivas dos países pobres. A política brasileira de
modernização tecnológica, implementada ao longo de toda a década de 1980,
comprometeu ainda mais a competitividade de vários setores industriais, pois
durante aquele período a orientação era extremamente nacionalista. O melhor
exemplo é a reserva de mercado da informática adotada na época. A importação de
materiais do ramo foi proibida, e acreditou-se que o Brasil poderia desenhar,
planejar e construir computadores somente com o investimento em
pesquisa acadêmica.
O desejo de desenvolver uma tecnologia própria, no entanto,
mostrou-se incompatível com a realidade do mercado internacional. As iniciativas
do governo federal geraram um grande avanço dos centros de pesquisa de São
Paulo, Campinas e São José dos Campos, mas o setor produtivo não acompanhou esse
progresso.
A criação da Cobra - Sistema de Computadores S.A., em 1974,
indústria brasileira de informática planejada para ser o embrião do setor no
país, não resistiu à concorrência quando se viu diante da lei de mercado. Ao ser
privatizada em 1994, não era mais fabricante de equipamentos, mas simples
prestadora de serviços, e esse atraso no setor de informática acabou
comprometendo praticamente todos os ramos da indústria nacional, desde o têxtil
até o eletroeletrônico.
Outro fator que dificultou o acesso do país à tecnologia moderna
foi a inexistência de uma política que garantisse proteção à propriedade
intelectual. Apenas em 1996 foi aprovada a
Lei de Patentes,
e ainda assim com muitas brechas. Até então, os fornecedores de
tecnologia tinham poucas garantias sobre seu trabalho criativo.
Composição das exportações e importações brasileiras
Com a industrialização de diversos países subdesenvolvidos e a
conseqüente alteração na divisão internacinal do trabalho, a partir da década de
1980, países como
o Brasil aumentaram substancialmente suas exportações de produtos
manufaturados. Hoje, mais da metade das vendas do país ao estrangeiro é de
manufaturados (gráfico abaixo).

|
BRASIL:
PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS |
|
Volume
exportado |
Participação sobre o total |
Produtos |
(milhões de
dólares) |
de
exportações (%) |
Automóveis |
4 975 |
9,7 |
Alumínio,
ferro e aço |
4 544 |
8,8 |
Máquinas e
aparelhos mecânicos |
4 338 |
8,4 |
Minérios |
3 465 |
6,7 |
Madeira,
celulose e papel |
3 106 |
6,0 |
Têxteis e
calçados |
2 499 |
4,8 |
Café, chá e
mate |
2 460 |
4,8 |
Sementes
oleaginosas |
2204 |
4,3 |
Açúcar |
2 027 |
3,9 |
Carnes |
1 247 |
2,4 |
|
Fonte: IBGE. Anuário |
estatístico
do Brasil 1999. Rio
de Janeiro,
2000. |
Todavia, grande parte das exportações brasileiras é composta de commodities, ou
seja, granéis cuja competitividade depende mais do acesso à matéria-prima que de
conhecimentos tecnológicos, como óleo de soja, suco de laranja, celulose e
alumínio (extraído da bauxita). Além disso, muitos manufaturados vendidos são de
desenvolvimento tecnológico apenas médio; somente 9% das exportações de
manufaturados agregam alta tecnologia.
Até o início dos anos 1990, o Brasil obtinha vantagens comparativas na
exportação de manufaturados de médio desenvolvimento tecnológico, como têxteis e
cal çados, graças à utilização de mão-de-obra relativamente barata. Hoje, essa
vantagem, altamente questionável do ponto de vista social, desapareceu diante do
avanço tecnológico de alguns países, como a Itália, ou sobretudo em face de
países concorrentes onde os salários são ainda mais baixos, como a China.
Os principais produtos de exportação do país são minério de ferro, café, soja,
aviões e automóveis. Observe a tabela acima.
Entre as importações brasileiras têm destaque o petróleo e seus derivados,
produtos químicos e farmacêuticos, maquinaria industrial, equipamentos
eletrônicos e autopeças. Grande parte dessas importações é feita por
subsidiárias de transnacionais, o que revela o grau de inserção do país na
chamada economia mundo.
O gráfico abaixo mostra os principais tipos de mercadorias que constituem a
pauta de exportações e importações brasileiras.
Verifica-se, pois, que o Brasil permanece em desvantagem nas trocas comerciais,
pois os produtos manufaturados que importa, por serem muitos deles de alto
desenvolvimento tecnológico, têm preços mais elevados do que aqueles que
exporta, a maior parte de baixo e médio desenvolvimento tecnológico.

Balança comercial
Na década de 1980, vivendo uma grave crise de sua enorme dívida externa, o
Brasil fez grande esforço para obter superávits comerciais, a fim de conseguir
dólares necessários ao pagamento dos juros cobrados pelos credores
internacionais. Assim, de 1987 a 1994, a balança comercial do país apresentou
uma sucessão de expressivos saldos favoráveis (gráfico abaixo).
Esse desempenho superavitário, contudo, foi obtido graças a uma política que
incluía não só estímulos às exportações, mas também a redução das importações
mediante restrições à compra de produtos estrangeiros. Ao limitar o ingresso de
equipamentos e materiais necessários à modernização do parque produtivo do
Brasil, essa política acabou retardando o avanço tecnológico e, com isso,
comprometendo a competitividade dos produtos nacionais, com inevitáveis reflexos
nas exportações do país.
Em 1995 a balança comercial se inverte. Com a política de valorização da nova
moeda adotada, a implantação do Plano Real provocou o barateamento dos produtos
estrangeiros, já que o dólar - moeda em que são cotadas as transações
ficou
mais acessível aos brasileiros. As importações aumentaram, mas as exportações
ficaram mais difíceis, em virtude do elevado valor da moeda nacional. De 1995 a
1999, então, a balança comercial registrou sucessivos déficits.
A valorização do real não podia ser mantida, pois estava sufocando incontáveis
empresas que produziam para a exportação. Em outras palavras, a pressão cambial,
representada pela compressão do valor do dólar, impunha uma desvalorização da
moeda nacional, o que foi feito pelo governo em 1999.
Com o câmbio retornando à realidade ditada pelas leis de mercado, as exportações
aumentaram e a balança comercial se inverteu novamente, passando a apresentar
superávits a partir do ano 2000.
Embora positivos, os saldos comerciais não têm correspondido às pretensões do
governo, sempre condicionado pela necessidade de honrar os compromissos externos,
basicamente o de pagar o serviço da dívida. Diversos fatores contribuem para o
insatisfatório desempenho comercial do Brasil.
Por um lado, as importações aumentaram com o reaquecimento da economia do país,
e o petróleo apresentou alta de preços no mercado internacional. Por outro lado,
o preço das commodities agrícolas caiu, afetando as exportações brasileiras de
café, soja e carne de frango. Além disso, a reativação econômica do país fez com
que diversos segmentos industriais, como o siderúrgico e o petroquímico,
reduzissem suas exportações a fim de ateder o crescimento da demanda interna.
0 Brasil e os principais blocos econômicos mundiais
Nos últimos anos, têm-se ampliado as
relações comerciais do Brasil com a União Européia (UE) e com a Ásia, ao mesmo
tempo que diminui a participação relativa dos Estados Unidos nos intercâmbios
externos do país. O gráfico da página seguinte indica que, depois da UE e do
Nafta, o Brasil exporta em maior escala para a Ásia e o Mercosul. O país também
tem ativado suas relações com o mercado africano, diretamente ou através da UE.

A diminuição das vendas de semimanufaturados e manufaturados para o mercado
norte-americano é em grande parte compensada pelo mercado dos países asiáticos.
Tal mudança representa um avanço, pois é na Ásia que se encontram as economias
com maior ritmo de crescimento econômico.
Em termos bilaterais, os maiores parceiros comerciais do Brasil são os Estados
Unidos, a Argentina, a Alemanha, os Países Baixos (Holanda) e o Japão.
União Européia - 0 aprofundamento das relações entre os países europeus reduz a
necessidade de importações no continente, mas a UE e o Brasil já assina ram
vários acordos de cooperação, e o Brasil exporta inúmeros produtos para os
países do grupo com tarifas reduzidas. Os maiores compradores são a Alemanha, os
Países Baixos, a Itália, a Bélgica e o Reino Unido. 0 Brasil, por sua vez,
importa principalmente da Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Países Baixos.
Nafta - De há muito, o Brasil mantém intensas relações comerciais com os Estados
Unidos, sobretudo nas primeiras décadas do pós-guerra. Ultimamente elas
tornaram-se proporcionalmente menos expressivas, na medida em que o país aumenta
seus intercâmbios com outros parceiros. Mesmo assim, mais de 20% do comércio
exterior brasileiro é feito com os Estados Unidos.
Com o Canadá, porém, os fluxos comerciais sempre foram inexpressivos. No início
do novo milênio, uma disputa envolvendo a venda de aviões no mercado
internacional, entre a brasileira Embraer e sua concorrente canadense, atritou
as relações entre os dois países, prejudicando o aumento dos intercâmbios
bilaterais.
Já o México, de figura discreta entre os parceiros do Brasil (menos de 2%), tem
demonstrado interesse em ampliar relações não só com o mercado brasileiro, mas
também com todos os países do Mercosul.
Desse modo, o México pretende diversificar seus parceiros comerciais, diminuindo
a dependência em relação aos Estados Unidos. Já antes do Nafta, assinado em
1994, 70% das exportações do país destinavam-se aos Estados Unidos; com o
acordo, essa percentagem passou para 80%.
A proposta mexicana em relação ao Mercosul abrange basicamente três medidas:
redução de tarifas alfandegárias entre o México e os quatro países que
inicialmente compuseram o Mercosul; liberação de atividades relacionadas com o
setor de serviços (financeiros, de comunicações e infra-estrutura); e aumento
dos investimentos entre todos os países.
Bloco asiático - As relações comerciais entre o Brasil e os Tigres Asiáticos são
expressivas, assim como com o Japão e a China, sendo estes os maiores compra
dores juntamente com Taiwan, Coréia do Sul e Hong Kong. Destes, a Coréia do Sul
tem aumentado sua participação em investimentos diretos no Brasil. 0 Japão
propõe-se também a aumentar sua participação.
A China tem constituído um importante mercado para o Brasil. Nos últimos anos, o
comércio entre os dois países apresentou um forte crescimento. Grande parte das
exportações brasileiras é de óleo de soja. Em troca, a China exporta para o
Brasil têxteis, maquinários leves, brinquedos e roupas, mas fica em último lugar
entre os maiores exportadores da Ásia para o país, colocando-se atrás de Japão,
Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong e Taiwan.
A intensificação da entrada de produtos chineses e dos Tigres Asiáticos no
Brasil tem ocasionado uma grande polêmica em torno de uma possível política de
cotas de importação. Essa questão tem sido discutida não só nos organismos
competentes, mas também por ocasião de visitas protocolares de chefes de Estado
ou de seus representantes oficiais.
Mercosul - Desde sua criação, em 1991, até o início efetivo do
processo de integração, o Mercosul apresentou um salto no intercâmbio entre os
quatro países membros: passou de 8 para 28 bilhões de dólares por ano. Com a
progressiva redução e a posterior abolição das tarifas de importação de produtos
em um número cada vez maior, na busca do pretendido livre-comércio, as
dificuldades começaram a acontecer. O estabelecimento de tarifas externas comuns
(TECs) para determinados setores, como o de alguns bens de capital, bens
intermediários e de telecomunicações, também gerou inevitáveis divergências na
procura da almejada união aduaneira. Apesar dos percalços, o Mercosul tem
avançado. Hoje, cerca de 90% das mercadorias produzidas nos países membros podem
ser comercializadas internamente sem tarifas de importação. Mas, em alguns
setores, são mantidas barreiras tarifárias temporárias.
As dificuldades para um maior avanço da integração residem nas
diferenças de estrutura produtiva dos países, que precisam ser ajustadas nos
prazos estabelecidos. Tais diferenças, por sua vez, enraízam-se nos desiguais
níveis de desenvolvimento regional. Além disso, a desproporção entre os mercados
nacionais faz com que a evolução do bloco dependa basicamente das relações entre
o Brasil e a Argentina, países que respondem por mais de 90% do comércio interregional.
Assim, o intercâmbio do Brasil com o Mercosul é sobretudo
expressão do comércio com a Argentina. Nos primeiros anos de criação do bloco, a
balança comercial entre os dois países pendeu para o lado do Brasil, cujas
importações da Argentina eram desestimuladas pela valorização do peso
(legalmente equiparado ao dólar desde 1991 - lei da paridade cambial) em relação
à moeda brasileira. Veja o gráfico abaixo.
Em 1995, o Plano Real, com a valorização da moeda brasileira, fez
a balança comercial entre os dois países se inverter, passando a ser deficitária
para o Brasil, o que perdurou até 1998. Em grande parte, a expansão da economia
Argentina foi sustentada pelas exportações para o mercado brasileiro.
Em 1999, a desvalorização do real promovida pelo governo
ocasionou nova inversão na balança, em virtude da expressiva redução das
importações brasileiras, uma vez que os produtos argentinos ficaram com preços
mais altos aos consumidores brasileiros. A diminuição das exportações para o
Brasil foi um duro golpe para a economia Argentina, que se sentiu forçada a
restringir as importações de produtos brasileiros, então tornados mais
acessíveis no mercado platino. Somada a outros problemas, a retração econômica
contribuiu para a crise que se instalou na Argentina e trouxe à tona
divergências entre os dois países até então contornáveis. Surgem conflitos
envolvendo diversos setores, notadamente o automobilístico, de têxteis, de
calçados e de carne de frango. O futuro do Mercosul fica ameaçado, pois a
Argentina ameaça tomar medidas protecionistas a seus produtos, e o Brasil reage
nos mesmos termos.
Em abril do ano 2000, os dois países assinaram a Declaração de
Buenos Aires, conhecida como o "relançamento do Mercosul", que formaliza uma
reaproximação entre Brasil e Argentina com o objetivo de preservar o futuro do
bloco. Esse acordo provocou uma ligeira reativação dos intercâmbios bilaterais,
mas não eliminou alguns desentendimentos entre os dois parceiros.
Nessas condições, surgem questionamentos até mesmo quanto às
conveniências da integração da maneira como foi prevista. Condicionada por grave
crise inter na e influenciada pelo exemplo do Chile, que sempre

pretendeu nada mais que o livre-comércio com o Mercosul, do qual é associado, a
Argentina sinaliza, em 2001, a possibilidade de recuo no processo
integracionista; sugere que talvez convenha abdicar da meta de união aduaneira,
acabando com as TECs e permanecendo apenas o propósito de área de
livre-comércio.
A atitude Argentina coincide com uma maior aproximação com os Estados Unidos, ao
mesmo tempo que a grande nação do Norte intensifica esforços a fim de antecipar
a implantação da Área de Livre Comércio das Américas, a Alca.
Com o agravamento de sua situação econômica e social - retração de atividades
produtivas, com o conseqüente aumento do desemprego -, a Argentina sentiu se
forçada a pôr fim a sua paridade cambial (um peso igual a um dólar), que
restringia as exportações por causa do alto valor de sua moeda.
Primeiramente, em junho de 2001, visando facilitar as vendas ao estrangeiro e,
com isso, reativar a combalida economia nacional, o governo decretou a
desvaloriza ção do peso, mas apenas para fins de exportação, mantendo de resto
sua equiparação ao dólar. Essa modificação cambial não produziu os resultados
pretendidos. Ao contrário, a economia continuou em queda, o desemprego atingiu
níveis insuportáveis e a situação social tornou-se explosiva.
No início de 2002, comprometida com uma impagável dívida externa e em meio a uma
crise sem precedentes em sua história recente, a Argentina completou a
desvalorização de sua moeda, adotando um câmbio flutuante. Com isso, ficando
mais baratos, os produtos argentinos poderão ser mais facilmente importados pelo
Brasil, fazendo com que a balança comercial entre os dois
países penda para o lado do Prata. Mais tarde, porém, com o aumento das
exportações, a esperada recuperação da economia portenha haverá de provocar um
incremento das importações de produtos brasileiros. Seja como for, a
intensificação dos intercâmbios comerciais entre Brasil e Argentina é
indispensável para o futuro do Mercosul.
Transformações no mundo do trabalho
Segundo o IBGE, grande parte das pessoas com 10 anos ou mais de idade está
ocupada em atividades agrícolas (24,6%), apesar da redução percentual nos
últimos anos diante do processo de modernização da economia brasileira, e pouco
mais de 20% (20,4) encontram-se nos diversos ramos da atividade industrial. O
destaque está, sem dúvida, na grande taxa de ocupação verificada no setor de
comércio e serviços (55%).
O gráfico abaixo confirma as tendências de transformação do trabalho no Brasil
nas últimas décadas. O setor terciário é o responsável pela maior absorção da
população ocupada. Em contrapartida, o investimento em tecnologia e a
preocupação em reduzir custos são responsáveis pelo declínio de pessoal ocupado
em todos os ramos industriais desde o fim da década de 1980.
Uma melhor avaliação da economia do país pode ser dada pela participação de cada
setor no PIB. O gráfico da página seguinte demonstra que nos últimos anos vem
aumentando a participação percentual do setor de serviços, declinando a da
indústria.

Desemprego
Nos países desenvolvidos, até algumas décadas atrás, a diminuição
da taxa de ocupação na indústria era, em grande parte, compensada pelo aumento
da taxa de ocupação no setor terciário. Ocorria uma terciarização do trabalho e
da economia, de maneira que os países industrializados conviviam com pequenas
taxas de desemprego.
Quase ao mesmo tempo, nos países subdesenvolvidos que acolhiam o
capital produtivo internacional, como o Brasil, a rapidez do processo de
industrialização e, sobretudo, o forte êxodo rural causavam um considerável
aumento do desemprego e da pobreza nas cidades. Com o advento da chamada
terceira revolução industrial, a informatização atinge em cheio o setor
terciário dos países ricos - bancos e prestação de serviços em geral -, que,
assim, não só deixa de absorver grande parte da mão-de-obra liberada pela
modernização industrial, como também passa até mesmo a reduzir postos de
trabalho. Surge nesses países o chamado desemprego estrutural, que independe do
crescimento ou de crise da economia. A falta de trabalho deixa de ser
característica de países subdesenvolvidos para se universalizar; desde os anos
1990, o desemprego atinge proporções alarmantes na Europa.
Integrado ao mercado global,
dominado por transnacionais, o Brasil pauta sua economia pela modernização
tecnológica, o que significa automação e informatização de atividades. Daí o
desemprego estrutural, que se soma à antiga escassez de trabalho própria do
subdesenvolvimento.

Além disso, outras causas concorrem para o desemprego no Brasil,
em decorrência de receitas neoliberais postas em prática no país:
• reestruturação do Estado brasileiro, por meio de ampla reforma
administrativa que tem reduzido o número de empregos públicos;
• processo de privatização, que implica a reestruturação de
empresas e a dispensa de trabalhadores considerados ociosos;
• abertura comercial e conseqüente concorrência de produtos
estrangeiros no mercado interno, prejudicando os segmentos pouco competitivos do
país.
É verdade que,
a
longo prazo, a abertura comercial traz vantagens para o país,
pois obriga as empresas nacionais a se modernizarem para se tornar competitivas.
Mas o investimento em tecnologia exige recursos, nem sempre disponíveis, e a
redistribuição e qualificação da força de trabalho demandam tempo. Até lá, a
competição internacional provoca desemprego, sobretudo entre os trabalhadores
menos qualificados.
Na última década do milênio, o desemprego quase dobrou no país,
passando de 4,03% para mais de 7%, conforme se pode ver no gráfico a seguir.
Isso significa 7,6 milhões de brasileiros desempregados. Com esse total, o
Brasil fica em terceiro lugar em número de desempregados no mundo, perdendo
apenas para a índia (quase 40 milhões) e a Rússia (cerca de 9 milhões).
Proporcionalmente, porém, a posição brasileira não é das piores, pois
em
muitos países o desemprego chega a mais de 10% e até de 15% (mapa abaixo).

Como
não poderia ser diferente, em virtude das diversidades espaciais do país, o
desemprego varia bastante de uma região para outra. As variações ocorrem em
função da estrutura produtiva de cada região, do nível de desenvolvimento
industrial, do ritmo de modernização do campo e do setor de serviços, entre
outros fatores.
TAXAS DE DESOCUPAÇÃO DAS PESSOAS COM 10 ANOS OU MAIS DE IDADE, SEGUNDO
AS GRANDES REGIÕES |
Região Nordeste Norte Sudeste
Sul Centro-Oeste Brasil
|
|
Fonte:
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios; síntese de indicadores 1999

Soluções
A forma efetiva de combate ao desemprego é através do crescimento econômico. Nos
Estados Unidos, por exemplo, a diminuição de postos de trabalho causada pela
automação e informatização de atividades foi compensada, nos anos 1990, pela
abertura de novos empregos na indústria
e nos serviços, graças a uma forte expansão da economia. Por isso, o problema do
desemprego na América do Norte é bem menor que na velha Europa.
No Brasil, na última década do milênio, o PIB cresceu em média 2,5% ao ano. No
mesmo período, no entanto, o número de empregos na indústria praticamente não
aumentou, pois a eliminação de postos de trabalho, provocada pela modernização
tecnológica, anula a oferta de vagas nas novas fábricas que surgem. No setor
terciário, a expansão do emprego, embora expressiva, fica aquém do que seria
necessário para atender a demanda - a cada ano, o crescimento vegetativo da
população acresce cerca de 800 mil jovens adultos ao mercado de trabalho. Além
disso, grande parte das vagas oferecidas exige qualificação profissional que
muitos interessados não possuem. Por essas razões, não ocorre redução
substancial do desemprego no país. Estima-se que esse flagelo possa até
aumentar, seja pelo aprofundamento da integração do Brasil na economia global,
seja por fatores de conjuntura, como, por exemplo, uma retração econômica
provocada por um ataque especulativo do capital financeiro internacional.
Nesse cenário, a própria população trata de responder ao problema da falta de
emprego. A resposta mais comum é a atividade informal basicamente no comércio
e serviços. O extraordinário aumento do setor informal da economia é uma
conseqüência da diminuição de postos de trabalho. Também cresceu nos últimos
anos a percentagem de pessoas que trabalham por conta própria. A estimativa é
que elas já sejam mais de 20% das pessoas ocupadas no país (foto abaixo).
Do ponto de vista do empregador e do governo, várias medidas são apontadas como
necessárias para amenizar os elevados índices de desemprego:
• diminuição da jornada de trabalho, já implementada por muitas indústrias,
principalmente as automobilísticas;
• diminuição dos encargos sociais, o que estimularia muitas empresas a contratar
mais pessoal;
• investimento em infra-estrutura, o que esbarra na insuficiência de recursos do
Estado;
• treinamento de mão-de-obra qualificada.
Essa última medida, de implementação a longo prazo, é considerada como a mais
importante para expandir a base produtiva do
país,
atrair investimento estrangeiro e elevar a competitividade dos produtos aqui
fabricados.
Desemprego: como calcular
Basicamente,
há duas metodologias ou maneiras de calcular o índice de desemprego. A mais
usada considera desempregadas apenas as pessoas que, no período de referência,
estavam em disponibilidade, procurando emprego. É o chamado desemprego aberto,
utilizado pelo IBGE. A outra maneira é mais ampla, pois inclui também o
desemprego oculto, representado por pessoas que não procuravam ocupação por
desalento ou porque estavam exercendo algum trabalho precário. É o desemprego
total, calculado no Brasil pelo Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Cálculos diferentes produzem resultados
distintos. Em agosto de 2000, por exemplo, enquanto o IBGE apontava uma taxa de
desemprego no
país
de 7,15%, o Dieese apresentava um índice de 17,70%.
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