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Outubro de 2000 |
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Australopithecus afarensis |
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Fig.2 -- Ossos do crânio e da pelve de um chimpanzé (esquerda) e da "Lucy"(direita/reconstrução) |
Nos macacos, a articulação do joelho forma uma linha vertical reta desde o osso do quadril até o joelho e continua até a tíbia. Em humanos, entretanto, com seu modo bípede de locomoção, o centro de gravidade deve se deslocar dentro da cintura pélvica, e isto é feito juntando os joelhos de tal forma que caiam diretamente debaixo da pelve. Assim, o osso da coxa em um humano se aproxima da articulação do joelho a partir de um ângulo externo e os membros não têm a configuração em linha reta vista nos macacos. E mais uma vez, o tipo "Lucy" de australopiteco demonstra um tipo humanóide de estrutura ao invés de uma simiesca. Os membros do A. afarensis se encontram formando um ângulo agudo entre a porção terminal do fêmur e a articulação do joelho, como nos humanos.
É na cintura pélvica, entretanto, que as características humanóides do Australopithecus afarensis são mais claramente evidentes. Nos humanos, a cintura pélvica é ampla e está aplanada em uma forma de prato raso para sustentar o peso da parte superior do corpo ao caminhar. Em contraste, os macacos distribuem a maior parte do peso do corpo nas articulações dos dedos quando caminham e a pelve é longa e estreita [veja figura 2]. Na Lucy, a pelve era praticamente idêntica a pelve humana. A única diferença aparecia nos ossos do sacro, na parede posterior da pelve. Nos macacos, o sacro é estreito. Nos humanos, o sacro deve ser largo o suficiente para manter as articulações do quadril separadas para caminhar. O sacro do Australopithecus afarensis não só era largo como o dos humanos ao invés de estreito como o dos macacos, mas era na verdade proporcionalmente mais largo que o dos humanos modernos. Seria impossível para as pessoas modernas terem um sacro proporcionalmente tão largo como o de Lucy, uma vez que isto estreitaria a abertura do canal do parto. Nos humanos, o canal do parto deve ser o mais amplo possível para permitir a passagem de um bebê humano com sua cabeça relativamente grande, mas nos A. afarensis, com suas cabeças e cérebros menores, isto não era um problema. A cintura pélvica do Australopithecus afarensis, portanto, era na verdade mais adequada para o caminhar bípede que a nossa.
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Fig.3 - - Modelo do andar de Lucy |
Confirmação de que os primitivos australopitecos eram bípedes eficientes veio da descoberta de Mary Leaky de uma série de pegadas hominídeas impressas em uma camada de cinzas vulcânicas úmidas de uns três e meio milhões de anos atrás próximo de Laetoli na África. Três indivíduos bípedes deixaram suas pegadas, aparentemente um macho, uma fêmea e um jovem [veja figura 4]. Os contornos de suas pegadas, nitidamente preservadas nas cinzas endurecidas, claramente mostram que o animal que deixou estas marcas caminhava em uma forma bípede eficientemente, como um humano -- não havia evidência de que o polegar fosse divergente como encontrado nos macacos, e foi encontrado um arco plantar muito similar ao humano [veja figura 5]. Um modelo do pé do A. afarensis reconstruído com a composição de ossos fósseis recuperados, encaixa-se perfeitamente com as pegadas de Laetoli.
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Fig.4 -- Pegadas de Laetoli |
Fig.5 -- Detalhe da pegada |
Assim, ainda que os especialistas discutam acerca dos detalhes, a seqüência básica da evolução humana é clara. A linha hominídea começou com o pequeno Australopithecus afarensis de andar vertical, com sua cabeça simiesca de aparência primitiva e um cérebro pequeno, no topo de um corpo que dificilmente se distingue de um moderno corredor de fundo. Daquele ponto em diante, o plano básico do corpo foi fixado, e praticamente toda a evolução subsequente na linhagem humana aconteceu unicamente do pescoço para cima. Enquanto alguns dos descendentes evolutivos de Lucy caminharam para um beco sem saída, tornando-se cada vez mais especializados como vegetarianos, uma linha de descendentes aumentou continuamente sua capacidade cerebral, acompanhada por mudanças na estrutura dentária e facial, o que levou gradualmente ao Australopithecus africanus, Homo habilis, Homo erectus e finalmente, há cerca de 200.000 anos atrás, aos humanos anatomicamente modernos. Ainda que Lucy não tenha sido o último ancestral comum entre macacos e humanos (uma espécie descoberta recentemente e tentativamente chamada de Arapithecus ramidus parece ter sido o último ancestral comum), ela e sua espécie foi uma forma transicional entre os primatas silvícolas simiescos e os modernos humanos com seu caminhar vertical.
Por conseguinte, os criacionistas considerem tal conclusão não apenas errônea, como herética. As concepções religiosas criacionistas da criação dos humanos não os deixa outra escolha senão afirmar que, "Ainda que os evolucionistas tenham construído várias 'formas transicionais' altamente imaginativas entre o homem e criaturas simiescas baseadas em evidência muito fragmentária, o registro fóssil na verdade documenta a origem separada dos primatas em geral, macacos, símios e o homem." (ICR Impact, "Summary of Scientific Evidence for Creation", May/June 1981)
O registro fóssil, é claro, não "documenta" nada assim. Tipicamente, os criacionistas tentam renegar o status transicional do Australopithecus afarensis negando todas as suas características humanóides. Lucy, eles dizem, era "apenas um macaco":
"Criacionistas, por outro lado, insistem que estes ou são fósseis de macacos ou de homens, não de animais intermediários entre o macaco e o homem." (Morris, Scientific Creationim, 1974, p.171)
"Lucy é simplesmente um macaco extinto sem nenhuma conexão clara com os humanos". (Ray Bohlin, "Human Fossils; 'Just So' Stories of Apes and Humans", Probe Ministries, Richardson, Texas, 1994)
"Obviamente ela [Lucy] também era simplesmente um 'macaco'". (Watchtower Bible and Tract Society, 1985, p. 94)
O maior esforço do ataque criacionista sobre a Lucy vem, surpreendentemente, das característica mais bem estabelecidas dos australopitecos -- seu modo de locomoção. O criacionista M. Bowden afirma categoricamente que Lucy "não caminhava em pé". (Weinberg, 1984, p. 20) Com respeito a articulação do joelho dos australopitecos que foram encontrados na Etiópia e em muitos outros sítios, ele diz, "não pude encontrar nenhuma evidência nas publicações que prove que esta articulação de joelho tivesse exibido bipedismo". (Weinberg, 1984, p.20) Aparentemente Bowden é incapaz de perceber que o joelho de Lucy é idêntico em todos os aspectos (exceto pelo tamanho) com os seus e os meus. Nenhum animal quadrúpede na Terra exibe uma articulação de joelho remotamente parecida a de Lucy. De fato, somente uma família na Terra possui uma estrutura de joelho que seja similar a do Australopithecus afarensis -- os hominídeos.
O ICR também trata de argumentar que Lucy não podia caminhar à maneira dos humanos e que deste modo era apenas um macaco. "Australopithecus, na visão de alguns proeminentes evolucionistas," afirma o ICR, "não era intermediário entre os macacos e o homem e não caminhava em pé." (ICR Impact, "Summary of Scientific Evidence for Creation", May/June 1981) Que o ICR não dê os nomes destes "proeminentes evolucionistas" não é uma surpresa, posto que nenhum paleoantropólogo com alguma experiência negue que Lucy fora perfeitamente bípede e capaz de caminhar em pé como você e eu.
Gish, em seu livro Evolution? The Fossils Say No! [Evolução? Os Fósseis Dizem Não!], não menciona especificamente Lucy, porém fala dos australopitecos em geral, "Foram encontrados alguns fragmentos da pelve, pernas e ossos do pé destes animais e, baseado nos estudos destes fragmentos, houve um consenso entre os evolucionistas que os australopitecos caminhavam habitualmente em pé . . . Nos últimos anos, entretanto, este ponto de vista tem mudado . . ." (Gish, 1978, p.109)
Isto simplesmente não é verdade. Os fósseis dos australopitecos não são "fragmentos", mas consistem de vários esqueletos praticamente completos, incluindo o de Lucy. Estes fósseis mostram clara e convincentemente que Lucy tinha uma marcha ereta, inclusive mais eficiente que a nossa em alguns aspectos.
A última crítica da forma de deslocar-se de Lucy veio por parte do criacionista Ray Bohlin, que declara, "Se Lucy caminhava em pé, era distinta dos macacos e dos humanos. Não exatamente o que você esperaria de uma forma transicional." (Bohlin, "Human Fossils; 'Just So' Stories of Apes and Humans", Probe Ministries, Richardson, Texas, 1994) Devo confessar que a lógica de Bohlin escapa ao meu alcance. Lucy possuía uma cabeça primitiva simiesca com um cérebro pequeno sobre um corpo bípede que é praticamente indistingüível do corpo dos humanos modernos. Se isto não é "exatamente o que você esperaria de uma forma transicional", então estou completamente perdido sobre o que Bohlin ESPERARIA em tal forma transicional.
Evolução? Os fósseis enfaticamente dizem SIM!
Publicado em: 07/10/00
Tradução: Gilson C. Santos
Texto original em: http://www.oocities.org/CapeCanaveral/Hangar/2437/hominid.htm
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por Gilson Cirino dos
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