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Biologia |
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Agosto de 2001 |
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Referência
Bibliográfica:
Definitivamente, as coisas nem sempre são o que
parecem. Para que serve o sexo? Na Biologia é assim, uma pergunta tão simples
pode levar a respostas muito, muito complexas. Podemos encontrar, logo de início, dois tipos de respostas. O tipo mais freqüente,
em um país de tradições religiosas, como o Brasil, é: Para ter filhos, para
continuar a espécie, é óbvio! Entretanto, não é tão óbvio assim. O sexo, tanto para animais como
para os seres humanos, é um fenômeno múltiplo, que ultrapassa, em muito,
estas visões errôneas, preconceituosas e restritas que aprendemos não só no
catolicismo, mas em muitas outras religiões, cristãs ou não. Elas se baseiam,
não em Deus, que não se manifestou sobre o tema, mas no que os homens de até
2.000 anos atrás acreditavam ser o
correto em um assunto que não entendiam muito bem com a ciência de que
dispunham: a função da sexualidade. Por exemplo, a Igreja Católica condena a masturbação por achar que o
único local correto para o esperma é uma vagina e, apenas, no período fértil
do ciclo menstrual. Na época de Jesus, pensava-se que o esperma continha tudo
que era necessário para formar um indivíduo e que o útero feminino era como
um canteiro onde semeava-se o germe da vida, proveniente, exclusivamente, do
homem. O conjunto de crenças e mitos sobre sexualidade levou o Direito Canônico
(conjunto de preceitos e normas que a igreja católica usa para determinar as
regras a que seus discípulos estão
submetidos) a muitos absurdos. Segundo os Canones Gregorii (cerca de 700
d.C.), a penitência por cometer assassinato é de sete anos de orações
alimentadas apenas a pão e água. Já a pena por ter praticado sexo anal é
mais que o dobro: 15 anos. Para o catolicismo, era preferível matar alguém do
que praticar sodomia. Como entender as
justificativas para o celibato dos padres e freiras? É uma exigência tão
artificial, absurda e cruel que pesquisas realizadas na Europa indicam que mais
de 20% do clero católico masculino tem uma companheira fixa. No Brasil não
deve ser muito diferente. Por seguirem regras de comportamento cujas razões se perdem no tempo
passado, muitas religiões gastam
mais tempo interferindo na vida sexual de seus seguidores do que os ajudando a
enfrentar os reais problemas de seu cotidiano. O segundo tipo de resposta que podemos encontrar sobre para que serve o
sexo é: Para dar prazer às pessoas, é claro! Qualquer adolescente de 11 anos já
descobriu isso. Melhor do que a
resposta anterior, esta é, pelo menos, correta. O problema é que perguntas que
começam com para ou por
que normalmente aceitam várias respostas corretas, cada uma referente a um
nível de observação. Veja: quando eu me pergunto por que me apaixonei por aquele(a) homem
(mulher)? Posso responder que esta
pessoa é agradável, sensual, gosta dos mesmos assuntos que eu e pode ser
parecida (ainda que eu não note de imediato) com papai ou mamãe. Ao responder
assim, eu estou avaliando, ou analisando, as causas da minha paixão no que elas
tem de mais próximo, em seu contexto imediato. Posso, entretanto, avaliar esta questão de maneira mais geral, com
pesquisadores de nossa própria natureza, perguntando sobre o que há em comum
entre todas as paixões humanas ou (se existir) entre todas as paixões dos mamíferos? Há muitas informações interessantes quando examinamos aspectos da sexualidade
humana como se fôssemos alienígenas, em um disco-voador, e que, olhando para
dois seres humanos, ou dois animais quaisquer, envolvido em um relacionamento
afetivo ou sexual, nos perguntássemos: Afinal, o que aqueles dois ali estão
fazendo? A não ser que você seja um assíduo freqüentador de jardins zoológicos
provavelmente não se deu conta de como somos parecidos com outros animais,
especialmente os mamíferos e mais especialmente ainda com toda a macacada.
Pois é, os cientistas demonstraram que somos iguais a um chimpanzé em
mais de 95% das substâncias que nos compõem. Olhando não parece, mas é.
Talvez pudéssemos aprender alguma coisa sobre as funções do sexo com estes
animais. Podemos procurar respostas para perguntas "Por que o sexo..." olhando de
mais longe, com, digamos, mais distanciamento crítico. Sexo é bom para quem? Nem todos os seres vivos têm sexo. Os micróbios que habitam nossos
intestinos, da boca ao ânus, e que colaboram na nossa digestão, apenas
dividem-se ao meio a cada 20 minutos e se transformam em dois. É muito prático
e rápido. Pode até ser que seja muito gostoso, mas não há, até o presente,
nenhum indício de que as bactérias se divirtam no processo, apesar do afinco
com que se dedicam a ele. Como existem milhões de vezes mais micróbios do que animais maiores,
visíveis a olho nu, podemos concluir que o sexo não apareceu para termos
filhotes, pois estes microrganismos fazem isso melhor do que nós, sem sexo. Por
isso, qualquer religião que proponha que relações sexuais só devam ocorrer
com fins reprodutivos necessita, urgentemente, atualizar seus ensinamentos.
Neste aspecto, pelo menos, está completamente ultrapassada. Você pode não acreditar, mas os cientistas também descobriram que a
verdadeira função do sexo é misturar características de dois indivíduos em
um só, o filho. A vantagem deste processo é que aumenta muito a diferença
entre os membros de um bando, quer seja de pessoas ou de bichos. Nenhum animal
é igual a outro e isso é o resultado prático do sexo. Mesmo quando examinamos
vários irmãos, cada um deles recebeu de seus pais informações genéticas
diferentes, por isso não são completamente semelhantes. Os tais microrganismos
de seu intestino são todos muito iguais, como se fossem irmãos gêmeos. Por
isso, quando você toma um antibiótico que mate um deles, certamente matará todos
e (usualmente) fica curado da doença. Mais
importante, ainda, parece ter sido o fato de que ao misturar apenas parte dos
nossos genes com os de outro membro da espécie, criamos um terceiro indivíduo
com um sistema de defesa para infecções diferente daquele dos pais, tornando a
vida de nossos parasitas muito mais difícil, pois precisam lidar com um grande
número de diferenças genéticas para poderem continuar parasitando. O sexo teve um sucesso tão grande entre os seres vivos apenas por que, ao
aumentar a diferenças entre os filhos, fez com que a sobrevivência de, pelo
menos, alguns deles ficasse mais fácil. Pode parecer meio difícil de entender, mas você verá que tem lógica. Talvez você já tenha visto ou lido sobre doenças que dizimam
comunidades inteiras, como epidemias de resfriado comum que matam a maioria dos índios de uma tribo. Os que sobrevivem, são
resistentes ao resfriado. Nós, não índios, não temos este problema. Por quê?
Porque somos os filhos de pessoas resistentes a esta doença. São diferenças
como estas que o sexo aumenta, fazendo com que, dificilmente morramos, todos nós, da mesma doença. A grande vantagem do sexo, então, é aumentar a diversidade genética. Uma das conseqüências desta idéia, por exemplo, é que nem todas as
pessoas expostas ao vírus HIV, que causa a AIDS, vão morrer desta grave doença.
Ainda que numa proporção bastante discreta, podemos ter certeza que pessoas
com imunidade ao HIV existem. Vários candidatos ao título de resistente a AIDS
já estão sendo estudados nos Estados Unidos, para tentarmos aprender com o
organismo deles como defender aqueles que não são resistentes. Outra conclusão é que cada indivíduo é uma salada de genes de
diferentes pessoas, seus antepassados, que se misturaram através do sexo. Não
são genes quaisquer, são os genes de pessoas suficientemente sedutoras para
terem conseguido parceiros sexuais. Você descende de uma linhagens de centenas
de gerações de pessoas muito interessadas em sexo. Aqueles que não eram tão
interessados assim, não deixaram descendentes e seus genes desapareceram O sexo é muito antigo, mais antigo que os dinossauros e começou antes
dos animais saírem do mar para a terra. Por isso, quando uma estranha capacidade, única dos seres humanos, a
consciência, apareceu no mundo, o sexo já estava muito bem organizado. A
consciência e sexualidade funcionam em partes diferentes do sistema nervoso
central e, por isso, podem até chegar ao extremo de não concordarem entre si sobre o que é melhor para você. O resultado você já conhece, as partes não chegam a um acordo. Na
maioria das vezes, o seu bom senso diz : — Vá por aqui. — Mas outra voz,
mais sensual, replica, dentro do seu crânio: — A opção racional até pode
ser por ali, mas, por este outro caminho aqui, é muito mais gostoso... E lá
vamos nós, comandados pelas partes mais antigas do cérebro! É no cérebro, e
não os genitais, que sentimos prazer e planejamos nossa vida afetiva e
emocional. Ele é o nosso órgão sexual! A parte lógica de nossa mente, aquela que cuida de organizar nossa vida
cotidiana, deve ser muito cansativa. Podemos perceber isso porque conhecemos
pessoas que a usam só muito de vez em quando. Seu dia-a-dia é ser atirada de
uma paixão a outra, de um forte sentimento a outro e, usualmente, de um
problema emocional para uma anarquia na vida pessoal Não apenas na esfera
sexual ou afetiva, mas nos demais aspectos, profissional, financeiro, etc., suas
decisões são tomadas com base exclusiva nas emoções e sentimentos. Tudo isso
por usar preferencialmente as partes do cérebro mais primitivas. Não se iluda: nosso comportamento sexual é tipicamente de primata,
ajustado para sua ecologia cultural. Sem dúvida, a vida social contemporânea
é muito mais complexa (e perigosa) do que a de uma colônia de babuínos, por
exemplo, exigindo mais cuidado para sobreviver nas cidades do que estes animais
necessitam nas florestas, mas temos muito a aprender com eles. Possuímos
capacidades cognitivas aumentadas, que nos possibilitaram o desenvolvimento das
artes plásticas e da literatura mas também da pornografia e do comercio do sexo. Possibilita até uma capacidade única entre os
primatas: fingir um orgasmo. Bonobos e outros bichos Uma das espécies de chimpanzés, Pan
paniscus, conhecidos como bonobos, é a que mais se parece conosco em
aspectos sexuais. Para nós, seres humanos, o sexo é, entre suas múltiplas funções,uma forma de comunicação entre pessoas. Qualquer um que já tenha
usufruído de uma atividade sexual intensa com alguém de quem goste e
compartilhe intimidade sabe do que estou falando. Este animais, os bonobos, apresentam um padrão de vida social diferente.
Não vivem em famílias nucleares, vivem em bando, como se fosse uma grande família
de muitos maridos e esposas e filhos em comum. Ao observá-los, temos a impressão de uma anarquia sexual: sexo entre
adultos e crianças, entre mais de dois indivíduos, a qualquer hora e em posições
inimagináveis ( no alto de uma árvore, pendurado em cipós e de cabeça para
baixo, por exemplo) e uma aparente ausência de pares fixos. Não é anarquia, entretanto, é comunicação. De todos os grandes
primatas, nossos parentes mais próximos, estes são os menos agressivos. Nestes
animais, a função social da agressividade foi substituída por algo mais agradável,
o sexo. Em vez de uma discussão, uma cópula. Do mesmo modo que os seres
humanos, as fêmeas aceitam os machos durante todo o seu ciclo ovariano. As fêmeas do Pan paniscus têm outra semelhança com a fêmea do Homo
sapiens. Ambas tem a vagina em posição maisventral (mais para a frente do corpo) quando comparadas as demais
macacas, o que permite manter relações sexuais
face-a-face. Isto é parte da comunicação. Nossa sexualidade guarda algumas semelhanças com a deles. Uma delas é a
relação inversa entre satisfação sexual e violência. Pessoas normais
mentalmente, e com vida sexual e afetiva agradáveis, não são violentas. Como pensamos ser indivíduos conscientes e auto-determinados durante
todo o dia, costumamos pensar que as escolhas
de parceiros sexuais é feita por que sabemos
muito bem o que queremos e
desejamos. Somos os senhores do nosso desejo. Bem, de certo modo é assim mesmo.
Ao folhar, por exemplo, revistas eróticas, nem todas as mulheres (ou homens)
parecem igualmente sedutores. Quanto mais folheamos a revista, mais a discriminação
aparece: algumas pessoas são, indiscutivelmente, mais atraentes que outras. Imagino que, se pudessem falar, os camundongos usados em laboratório, os
hipopótamos ou os pavões dos jardins zoológicos diriam a mesma coisa sobre
seus livres-arbítrios sexuais. Para nós, entretanto, eles parecem simplesmente
máquinas de fazer filhotes. Não tentam construir casas elaboradas, acumular
riquezas ou dedicarem-se aos seus prazeres e passatempos preferidos. Os
camundongos, por exemplo, criados em uma caixa, terão filhotes e filhotes até
que a falta de alimentos ou a falta
de espaço leve a uma superpopulação. Então, a competição extrema
estabilizará o número de nascimentos igual ao de mortes. Estes animais
simplesmente não conseguem evitar de terem muitos filhos. Entre os seres humanos, alguns poucos conseguem controlar sua reprodução,
mas a maioria não consegue evitar de sentir-se atraído sexualmente por alguém
e não tem muito controle sobre este desejo. As fêmeas de pavão, por seu lado, sentem-se sexualmente atraídas pela
exuberância da cauda dos machos. Um pobre pavão macho que, por alguma razão
da natureza, nasça sem a cauda, por maior que seja sua virilidade e boas intenções
como marido, dificilmente conseguirá encontrar uma companheira. Ele perdeu seu mecanismo de excitação de fêmeas, seu lindo conjunto de
penas caudais. Os pacatos hipopótamos são herbívoros como os bois,
carneiros e cavalos. Talvez você não tenha a oportunidade de olhar os dentes deles, mas se o fizesse, ficaria surpreso com o
desenvolvimento dos caninos do hipopótamo. São maiores do que os de um tigre. Bem, por que o hipopótamo tem uns dentões tão grandes se come o mesmo
que outros herbívoros, nossos conhecidos, que não necessitam deles? Para
brigar por fêmeas, é a resposta! Brigaram tanto, gerações após gerações,
que os que tinham dentes maiores acabaram levando vantagem, conseguindo mais
esposas e, conseqüentemente, tendo mais filhos do que os machos com dentinhos
mixurucas. Leões, assim como outros animais que têm poucos predadores, podem se
dar ao luxo de copular, de maneira lânguida e tranqüila, mais de 150 vezes em
três dias durante o período fértil das fêmeas. Já os coelhos necessitam de
cópulas bastante rápidas, pois seu universo existencial é mais perigoso do
que os dos leões. Coelhos que copulavam demoradamente não deixaram muitas cópias
de seus genes. Transformaram-se em alimento de animais maiores. A cópula costuma tomar muita atenção dos indivíduos envolvidos, o que
os deixa desprotegidos a ataques externos. Por isso, a estratégia de muitos
animais é bastante recatada, preferindo um local mais isolado para relações
sexuais, não por moralismo, mas por sobrevivência. Outra razão da privacidade é que, para muitos mamíferos, a visão da cópula
de outros indivíduos aumenta a vontade de copular. Por isso, revistas e vídeos
são afrodisíacos. Logo, quem
deseja exclusividade, necessariamente procura sair da vista alheia. Nosso órgão erótico é, sem dúvida, o cérebro. Durante milhares de
gerações, indivíduos cujo órgão erótico funcionou com mais eficiência
deixaram um número maior de filhos. Cada espécie de animal, todavia, seguiu
então seu próprio caminho evolutivo com resultados, às vezes, bastante
pitorescos. Os elefantes, por exemplo, além de sua forma simpática e incomum,
desenvolveram algumas soluções originais para lidar com seus problemas de
tamanho. Como se pode imaginar, o gasto de energia com movimentos copulatórios
seria muito grande nestes animais. Além disso, há uma questão física de que
seus ossos estão próximos ao limite de sua resistência. Em um movimento
copulatório como o dos seres humanos, toda a energia do movimento do macho
seria transferida para a fêmea no momento de maior penetração. Ou seja, é preciso ser muito forte para agüentar
um elefante excitado nas costas. A solução encontrada pela natureza foi a de desenvolver nos elefantes
um pênis com movimento próprio. Em termos de energia, é mais barato mover
apenas o pênis do que o elefante inteiro. Quando este monta a fêmea, o pênis
sai procurando o orifício vaginal. Eventualmente pode enganar-se e penetrar o
ânus. A cópula anal, aliás como a maioria das variações sexuais, não é
privilégio da espécie humana. Até mesmo a existência de castas de não
reprodutores podem ser encontradas em insetos sociais. Tem mais sobre elefantes. Como a vulva da elefanta é mais ventral,
apenas poucos centímetros do pênis conseguem penetrar na vagina. Assim o colo
do útero fica muito distante do pênis, o que obrigou os machos a desenvolverem
um sistema de propulsão de alta pressão para ejacularem, de modo explosivo, a
longa distância. Segue-se depois, provavelmente, uma gestação de cerca de 22
meses. A vida é mesmo muito estranha e alguns comportamentos ritualizados de
corte são mais estranhos ainda. Chamam-se comportamentos de corte a um
conjunto, relativamente padronizado, de ações que visam a escolha de um
companheiro ou companheira. Destaque especial para os rinocerontes.
Segundo nossos padrões sociais, estes animais como namorados, deixam muito a
desejar. São tão violentos que seus proprietários hesitam em tentar
reproduzi-los, em Jardins Zoológicos, pelo receio de que um deles morra na
paquera. Quando a fêmea entra no período fértil emite ruídos para informar os
machos de que se encontra mais ou menos receptiva. A corte é feita de encontrões
e pancadas e dura mais de hora ou o tempo necessário para deixar a fêmea exausta. Finalmente, ela permitirá, então, a cópula, que dura outra
hora com o macho ejaculando a cada dez minutos, cada vez com uma penetração
maior, até que acaba montado, literalmente na fêmea, com as quatro patas no
ar. O caso de comportamento sexual animal mais estudado desde o século
passado é este: Existe na Oceania uma família de aves, Paradisaeidae, conhecidas como aves-do-paraíso devido à sua
beleza. Os machos possuem penas longas e coloridas e caudas exuberantes,
denominadas de plumagem nupcial. Algumas penas chegam a ter mais de dois metros
de comprimento. As fêmeas apresentam plumagens muito circunspectas, com as
cores de um pardal. Nestes animais, são as fêmeas que escolhem os machos como
companheiros. Diversos deles se apresentam e ela escolhe o que mais lhe agrada.
Aparentemente, o tamanho e a cor das plumas é o fator determinante para a atração
sexual. Um pesquisador registrou 26 cópulas em pesquisa, 25 delas foram feitas
por um único macho, tal o sucesso da plumagem com as fêmeas. Como no caso do pavão, a única função destas penas enormes ou
vistosas que só aumentam a chance de ser caçado, é fazer-se escolhido por uma
fêmea discretas de tons marrons. Em uma das
espécies o macho é negro com um grupo de penas brancas azuis e amarelo metálicas
no peito. Em outra, sua cabeça é amarela, com o papo verde-metálico e uma
longa cauda rosa. Um leitor astuto poderia perguntar: Conheço muitos bichos, como cães,
por exemplo, nos quais os machos se apresentam e a fêmea escolhe um deles para
copular. Por que os cachorros não ficaram tão bonitos e coloridos? A resposta é a seguinte: pavões e aves do paraíso desenvolveram-se em
locais sem predadores. Apenas em um local sem riscos de destruição um animal
pode dispor de penas tão chamativas sem correr o risco de desaparecer. Imagine,
por exemplo, uma mutação genética que transformasse uma zebra em um animal
multicolorido. Em uma savana africana, este pobre animal exuberante não duraria
muito. Seria uma tentação para leoas e guepardos. As fêmeas de
aves do paraíso e pavões, em contrapartida, são de cores e tamanho discretos.
Como são mais importantes para a sobrevivência dos filhotes do que os machos,
não devem correr riscos desnecessários. Assim, através de diferentes caminhos podemos perceber que cada espécie
de animal traz em seu corpo e em seu cérebro as marcas de seu comportamento
sexual. Não seria diferente conosco, seres humanos. Examinando o Homo sapiens com um olhar zoológico o resultado é bastante
surpreendente. Ainda que os membros da espécie costumem se avaliar
esteticamente com muito otimismo, trata-se de um animal de forma muito peculiar. Chama a atenção inicialmente a presença de pêlos apenas em algumas
partes, cabeça, axilas e sobre a genitália. Entre os macacos, é sem dúvida,
um padrão inédito. Não sabemos por que esta espécie perdeu a maioria dos pêlos.
Alguns cientistas sugerem que eles foram perdidos por que não eram necessários
nas savanas e prejudicavam a sudorese, que é nosso principal mecanismo de perda
de calor. Quando as condições climáticas pioravam, a confecção de roupas fornecia uma proteção corporal adicional.
Sugere-se
que este pitoresco padrão, em tufos, seja um modo de identificar quem são os
membros da mesma espécie. Existe , ainda, a proposta de que alguns pêlos
restantes foram mantidos por seleção sexual: a barba e os pêlos genitais.
Eles seriam a nossa plumagem nupcial exuberante. Serviriam para os membros do
outro sexo avaliarem as qualidades de um eventual pretendente, como o seu
desenvolvimento hormonal ou o estado nutricional, por exemplo. E os seios? Nenhuma espécie de primata acumula tanta gordura ao redor da
glândula mamária como a fêmea humana. Este
depósito de gordura tem um efeito erótico muito grande sobre os machos de
nossa espécie, cedendo importância, apenas, para os quadris. Mas, para que
tanta gordura? Não é para ajudar a produção de leite ou para a proteção da
glândula, caso contrário as fêmeas de orangotangos, chimpanzés ou gorilas
teriam dificuldade em amamentar seus filhotes, por falta de adiposidades, o que
não acontece na vida real. Para amamentar, bastam glândulas mamárias e mamilos. Para que, ainda, um pênis tão grande? Proporcionalmente, o órgão
genital humano tem o dobro do tamanho dos outros grandes macacos. Ainda que o
tamanho possa agradar as mulheres, este não deve ser o fator fundamental, pois
muitas espécies de macacos se reproduzem muito bem com instrumentos muito mais
discretos. Qual seria o motivo, então, de sua evolução para um tamanho maior
no Homo sapiens? E os testículos? Por que os temos externos e pendentes como nos touros e
não internos como os dos macacos e na maioria dos vertebrados? Convenhamos, da
maneira como estão colocados, apresentam um risco enorme de lesão traumática.
Poderíamos fazer a hipótese de que estas características sejam nossas
plumas nupciais, que, apesar do alto custo e pouca praticidade, têm o
encantador efeito de nos interessar pelo sexo e podem acabar por produzir um
filhote. É uma questào de charme animal, tempo e alguma probabilidade estatística. Assim, é razoável pensar que sucesso sexual é tão importante em nossa
vida como na dos animais. fazemos tudo e mais um pouco para alcançá-lo, até
mesmo ignorar riscos óbvios. Como me disse um amuado senhor de 75 anos acusado
de adultério pela esposa: — Sexo serve, mesmo, para dar problemas. Bibliografia recomendada Fisher, H. A
anatomia do amor. Editora Eureka, Rio de Janeiro, 1995. Ranke-Heinemann, U. Eunucos pelo reino de Deus, Editora Rosa
dos Tempos, Rio de Janeiro, 1996. Taylor, T. A pré-história
do sexo. Editora Campus, Rio de Janeiro, 1997. Wrangham, R
& Peterson, D. O macho demoníaco. Editora Objetiva, S.Paulo,. 1998. Minicurriculum Renato Z. Flores
é médico, mestre e doutor em Ciências (Genética e Biologia Molecular) pela
UFRGS. Desenvolve pesquisas em
sociobiologia das relações familiares e violência interpessoal.
Acredita, como Darwin, que os bons sentimentos dos seres humanos são mais
devidos a sua natureza gregária de primata do que da educação religiosa que
alguém tenha recebido.
Publicado em: 01/08/01 |
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