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Agosto de 2001

 
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Para Que Serve o Sexo? 

Referência Bibliográfica:
Flores, R.Z. (1999) Para que serve o sexo? In Sacchet, A. M. O. F. Genética, para que te quero? Porto Alegre: Ed. da UFRGS, pags 63-73.

 

Definitivamente, as coisas nem sempre são o que parecem.

Para que serve o sexo? Na Biologia é assim, uma pergunta tão simples pode levar a respostas muito, muito complexas.

Podemos encontrar, logo de início, dois tipos de respostas. O tipo mais freqüente, em um país de tradições religiosas, como o Brasil, é: Para ter filhos, para continuar a espécie, é óbvio!

Entretanto, não é tão óbvio assim. O sexo, tanto para animais como para os seres humanos, é um fenômeno múltiplo, que ultrapassa, em muito, estas visões errôneas, preconceituosas e restritas que aprendemos não só no catolicismo, mas em muitas outras religiões, cristãs ou não. Elas se baseiam, não em Deus, que não se manifestou sobre o tema, mas no que os homens de até 2.000 anos atrás acreditavam ser o correto em um assunto que não entendiam muito bem com a ciência de que dispunham: a função da sexualidade.

Por exemplo, a Igreja Católica condena a masturbação por achar que o único local correto para o esperma é uma vagina e, apenas, no período fértil do ciclo menstrual. Na época de Jesus, pensava-se que o esperma continha tudo que era necessário para formar um indivíduo e que o útero feminino era como um canteiro onde semeava-se o germe da vida, proveniente, exclusivamente, do homem.

O conjunto de crenças e mitos sobre sexualidade levou o Direito Canônico (conjunto de preceitos e normas que a igreja católica usa para determinar as regras a que seus discípulos estão submetidos) a muitos absurdos. Segundo os Canones Gregorii (cerca de 700 d.C.), a penitência por cometer assassinato é de sete anos de orações alimentadas apenas a pão e água. Já a pena por ter praticado sexo anal é mais que o dobro: 15 anos. Para o catolicismo, era preferível matar alguém do que praticar sodomia.

Como entender as justificativas para o celibato dos padres e freiras? É uma exigência tão artificial, absurda e cruel que pesquisas realizadas na Europa indicam que mais de 20% do clero católico masculino tem uma companheira fixa. No Brasil não deve ser muito diferente.

Por seguirem regras de comportamento cujas razões se perdem no tempo passado, muitas religiões gastam mais tempo interferindo na vida sexual de seus seguidores do que os ajudando a enfrentar os reais problemas de seu cotidiano.

O segundo tipo de resposta que podemos encontrar sobre para que serve o sexo é: Para dar prazer às pessoas, é claro! Qualquer adolescente de 11 anos já descobriu isso. Melhor do que a resposta anterior, esta é, pelo menos, correta. O problema é que perguntas que começam com para ou por que normalmente aceitam várias respostas corretas, cada uma referente a um nível de observação.

Veja: quando eu me pergunto por que me apaixonei por aquele(a) homem (mulher)? Posso responder que esta pessoa é agradável, sensual, gosta dos mesmos assuntos que eu e pode ser parecida (ainda que eu não note de imediato) com papai ou mamãe. Ao responder assim, eu estou avaliando, ou analisando, as causas da minha paixão no que elas tem de mais próximo, em seu contexto imediato.

Posso, entretanto, avaliar esta questão de maneira mais geral, com pesquisadores de nossa própria natureza, perguntando sobre o que há em comum entre todas as paixões humanas ou (se existir) entre todas as paixões dos mamíferos?

Há muitas informações interessantes quando examinamos aspectos da sexualidade humana como se fôssemos alienígenas, em um disco-voador, e que, olhando para dois seres humanos, ou dois animais quaisquer, envolvido em um relacionamento afetivo ou sexual, nos perguntássemos: Afinal, o que aqueles dois ali estão fazendo?

A não ser que você seja um assíduo freqüentador de jardins zoológicos provavelmente não se deu conta de como somos parecidos com outros animais, especialmente os mamíferos e mais especialmente ainda com toda a macacada.

Pois é, os cientistas demonstraram que somos iguais a um chimpanzé em mais de 95% das substâncias que nos compõem. Olhando não parece, mas é. Talvez pudéssemos aprender alguma coisa sobre as funções do sexo com estes animais. Podemos procurar respostas para perguntas "Por que o sexo..." olhando de mais longe, com, digamos, mais distanciamento crítico.

Sexo é bom para quem?

Nem todos os seres vivos têm sexo. Os micróbios que habitam nossos intestinos, da boca ao ânus, e que colaboram na nossa digestão, apenas dividem-se ao meio a cada 20 minutos e se transformam em dois. É muito prático e rápido. Pode até ser que seja muito gostoso, mas não há, até o presente, nenhum indício de que as bactérias se divirtam no processo, apesar do afinco com que se dedicam a ele.

Como existem milhões de vezes mais micróbios do que animais maiores, visíveis a olho nu, podemos concluir que o sexo não apareceu para termos filhotes, pois estes microrganismos fazem isso melhor do que nós, sem sexo. Por isso, qualquer religião que proponha que relações sexuais só devam ocorrer com fins reprodutivos necessita, urgentemente, atualizar seus ensinamentos. Neste aspecto, pelo menos, está completamente ultrapassada.

Você pode não acreditar, mas os cientistas também descobriram que a verdadeira função do sexo é misturar características de dois indivíduos em um só, o filho. A vantagem deste processo é que aumenta muito a diferença entre os membros de um bando, quer seja de pessoas ou de bichos. Nenhum animal é igual a outro e isso é o resultado prático do sexo. Mesmo quando examinamos vários irmãos, cada um deles recebeu de seus pais informações genéticas diferentes, por isso não são completamente semelhantes. Os tais microrganismos de seu intestino são todos muito iguais, como se fossem irmãos gêmeos. Por isso, quando você toma um antibiótico que mate um deles, certamente matará todos e (usualmente) fica curado da doença.

Mais importante, ainda, parece ter sido o fato de que ao misturar apenas parte dos nossos genes com os de outro membro da espécie, criamos um terceiro indivíduo com um sistema de defesa para infecções diferente daquele dos pais, tornando a vida de nossos parasitas muito mais difícil, pois precisam lidar com um grande número de diferenças genéticas para poderem continuar parasitando.

O sexo teve um sucesso tão grande entre os seres vivos apenas por que, ao aumentar a diferenças entre os filhos, fez com que a sobrevivência de, pelo menos, alguns deles ficasse mais fácil. Pode parecer meio difícil de entender, mas você verá que tem lógica.

Talvez você já tenha visto ou lido sobre doenças que dizimam comunidades inteiras, como epidemias de resfriado comum que matam a maioria dos índios de uma tribo. Os que sobrevivem, são resistentes ao resfriado. Nós, não índios, não temos este problema. Por quê? Porque somos os filhos de pessoas resistentes a esta doença. São diferenças como estas que o sexo aumenta, fazendo com que, dificilmente morramos, todos nós, da mesma doença.

A grande vantagem do sexo, então, é aumentar a diversidade genética.

Uma das conseqüências desta idéia, por exemplo, é que nem todas as pessoas expostas ao vírus HIV, que causa a AIDS, vão morrer desta grave doença. Ainda que numa proporção bastante discreta, podemos ter certeza que pessoas com imunidade ao HIV existem. Vários candidatos ao título de resistente a AIDS já estão sendo estudados nos Estados Unidos, para tentarmos aprender com o organismo deles como defender aqueles que não são resistentes.

Outra conclusão é que cada indivíduo é uma salada de genes de diferentes pessoas, seus antepassados, que se misturaram através do sexo. Não são genes quaisquer, são os genes de pessoas suficientemente sedutoras para terem conseguido parceiros sexuais. Você descende de uma linhagens de centenas de gerações de pessoas muito interessadas em sexo. Aqueles que não eram tão interessados assim, não deixaram descendentes e seus genes desapareceram

O sexo é muito antigo, mais antigo que os dinossauros e começou antes dos animais saírem do mar para a terra.

Por isso, quando uma estranha capacidade, única dos seres humanos, a consciência, apareceu no mundo, o sexo já estava muito bem organizado. A consciência e sexualidade funcionam em partes diferentes do sistema nervoso central e, por isso, podem até chegar ao extremo de não concordarem entre si sobre o que é melhor para você.

O resultado você já conhece, as partes não chegam a um acordo. Na maioria das vezes, o seu bom senso diz : — Vá por aqui. — Mas outra voz, mais sensual, replica, dentro do seu crânio: — A opção racional até pode ser por ali, mas, por este outro caminho aqui, é muito mais gostoso... E lá vamos nós, comandados pelas partes mais antigas do cérebro! É no cérebro, e não os genitais, que sentimos prazer e planejamos nossa vida afetiva e emocional. Ele é o nosso órgão sexual!

A parte lógica de nossa mente, aquela que cuida de organizar nossa vida cotidiana, deve ser muito cansativa. Podemos perceber isso porque conhecemos pessoas que a usam só muito de vez em quando. Seu dia-a-dia é ser atirada de uma paixão a outra, de um forte sentimento a outro e, usualmente, de um problema emocional para uma anarquia na vida pessoal Não apenas na esfera sexual ou afetiva, mas nos demais aspectos, profissional, financeiro, etc., suas decisões são tomadas com base exclusiva nas emoções e sentimentos. Tudo isso por usar preferencialmente as partes do cérebro mais primitivas.

Não se iluda: nosso comportamento sexual é tipicamente de primata, ajustado para sua ecologia cultural. Sem dúvida, a vida social contemporânea é muito mais complexa (e perigosa) do que a de uma colônia de babuínos, por exemplo, exigindo mais cuidado para sobreviver nas cidades do que estes animais necessitam nas florestas, mas temos muito a aprender com eles. Possuímos capacidades cognitivas aumentadas, que nos possibilitaram o desenvolvimento das artes plásticas e da literatura mas também da pornografia e do comercio do sexo. Possibilita até uma capacidade única entre os primatas: fingir um orgasmo.

Bonobos e outros bichos

Uma das espécies de chimpanzés, Pan paniscus, conhecidos como bonobos, é a que mais se parece conosco em aspectos sexuais.

Para nós, seres humanos, o sexo é, entre suas múltiplas funções,uma forma de comunicação entre pessoas. Qualquer um que já tenha usufruído de uma atividade sexual intensa com alguém de quem goste e compartilhe intimidade sabe do que estou falando.

Este animais, os bonobos, apresentam um padrão de vida social diferente. Não vivem em famílias nucleares, vivem em bando, como se fosse uma grande família de muitos maridos e esposas e filhos em comum. Ao observá-los, temos a impressão de uma anarquia sexual: sexo entre adultos e crianças, entre mais de dois indivíduos, a qualquer hora e em posições inimagináveis ( no alto de uma árvore, pendurado em cipós e de cabeça para baixo, por exemplo) e uma aparente ausência de pares fixos. Não é anarquia, entretanto, é comunicação. De todos os grandes primatas, nossos parentes mais próximos, estes são os menos agressivos. Nestes animais, a função social da agressividade foi substituída por algo mais agradável, o sexo. Em vez de uma discussão, uma cópula. Do mesmo modo que os seres humanos, as fêmeas aceitam os machos durante todo o seu ciclo ovariano.

As fêmeas do Pan paniscus têm outra semelhança com a fêmea do Homo sapiens. Ambas tem a vagina em posição maisventral (mais para a frente do corpo) quando comparadas as demais macacas, o que permite manter relações sexuais face-a-face. Isto é parte da comunicação.

Nossa sexualidade guarda algumas semelhanças com a deles. Uma delas é a relação inversa entre satisfação sexual e violência. Pessoas normais mentalmente, e com vida sexual e afetiva agradáveis, não são violentas.

Como pensamos ser indivíduos conscientes e auto-determinados durante todo o dia, costumamos pensar que as escolhas de parceiros sexuais é feita por que sabemos muito bem o que queremos e desejamos. Somos os senhores do nosso desejo. Bem, de certo modo é assim mesmo. Ao folhar, por exemplo, revistas eróticas, nem todas as mulheres (ou homens) parecem igualmente sedutores. Quanto mais folheamos a revista, mais a discriminação aparece: algumas pessoas são, indiscutivelmente, mais atraentes que outras.

Imagino que, se pudessem falar, os camundongos usados em laboratório, os hipopótamos ou os pavões dos jardins zoológicos diriam a mesma coisa sobre seus livres-arbítrios sexuais. Para nós, entretanto, eles parecem simplesmente máquinas de fazer filhotes. Não tentam construir casas elaboradas, acumular riquezas ou dedicarem-se aos seus prazeres e passatempos preferidos. Os camundongos, por exemplo, criados em uma caixa, terão filhotes e filhotes até que a falta de alimentos ou a falta de espaço leve a uma superpopulação. Então, a competição extrema estabilizará o número de nascimentos igual ao de mortes. Estes animais simplesmente não conseguem evitar de terem muitos filhos.

Entre os seres humanos, alguns poucos conseguem controlar sua reprodução, mas a maioria não consegue evitar de sentir-se atraído sexualmente por alguém e não tem muito controle sobre este desejo.

As fêmeas de pavão, por seu lado, sentem-se sexualmente atraídas pela exuberância da cauda dos machos. Um pobre pavão macho que, por alguma razão da natureza, nasça sem a cauda, por maior que seja sua virilidade e boas intenções como marido, dificilmente conseguirá encontrar uma companheira. Ele perdeu seu mecanismo de excitação de fêmeas, seu lindo conjunto de penas caudais.

Os pacatos hipopótamos são herbívoros como os bois, carneiros e cavalos. Talvez você não tenha a oportunidade de olhar os dentes deles, mas se o fizesse, ficaria surpreso com o desenvolvimento dos caninos do hipopótamo. São maiores do que os de um tigre.

Bem, por que o hipopótamo tem uns dentões tão grandes se come o mesmo que outros herbívoros, nossos conhecidos, que não necessitam deles? Para brigar por fêmeas, é a resposta! Brigaram tanto, gerações após gerações, que os que tinham dentes maiores acabaram levando vantagem, conseguindo mais esposas e, conseqüentemente, tendo mais filhos do que os machos com dentinhos mixurucas.

Leões, assim como outros animais que têm poucos predadores, podem se dar ao luxo de copular, de maneira lânguida e tranqüila, mais de 150 vezes em três dias durante o período fértil das fêmeas. Já os coelhos necessitam de cópulas bastante rápidas, pois seu universo existencial é mais perigoso do que os dos leões. Coelhos que copulavam demoradamente não deixaram muitas cópias de seus genes. Transformaram-se em alimento de animais maiores.

A cópula costuma tomar muita atenção dos indivíduos envolvidos, o que os deixa desprotegidos a ataques externos. Por isso, a estratégia de muitos animais é bastante recatada, preferindo um local mais isolado para relações sexuais, não por moralismo, mas por sobrevivência.

Outra razão da privacidade é que, para muitos mamíferos, a visão da cópula de outros indivíduos aumenta a vontade de copular. Por isso, revistas e vídeos são afrodisíacos. Logo, quem deseja exclusividade, necessariamente procura sair da vista alheia.

Nosso órgão erótico é, sem dúvida, o cérebro. Durante milhares de gerações, indivíduos cujo órgão erótico funcionou com mais eficiência deixaram um número maior de filhos. Cada espécie de animal, todavia, seguiu então seu próprio caminho evolutivo com resultados, às vezes, bastante pitorescos.

Os elefantes, por exemplo, além de sua forma simpática e incomum, desenvolveram algumas soluções originais para lidar com seus problemas de tamanho. Como se pode imaginar, o gasto de energia com movimentos copulatórios seria muito grande nestes animais. Além disso, há uma questão física de que seus ossos estão próximos ao limite de sua resistência. Em um movimento copulatório como o dos seres humanos, toda a energia do movimento do macho seria transferida para a fêmea no momento de maior penetração. Ou seja, é preciso ser muito forte para agüentar um elefante excitado nas costas.

A solução encontrada pela natureza foi a de desenvolver nos elefantes um pênis com movimento próprio. Em termos de energia, é mais barato mover apenas o pênis do que o elefante inteiro. Quando este monta a fêmea, o pênis sai procurando o orifício vaginal. Eventualmente pode enganar-se e penetrar o ânus. A cópula anal, aliás como a maioria das variações sexuais, não é privilégio da espécie humana. Até mesmo a existência de castas de não reprodutores podem ser encontradas em insetos sociais.

Tem mais sobre elefantes. Como a vulva da elefanta é mais ventral, apenas poucos centímetros do pênis conseguem penetrar na vagina. Assim o colo do útero fica muito distante do pênis, o que obrigou os machos a desenvolverem um sistema de propulsão de alta pressão para ejacularem, de modo explosivo, a longa distância. Segue-se depois, provavelmente, uma gestação de cerca de 22 meses.

A vida é mesmo muito estranha e alguns comportamentos ritualizados de corte são mais estranhos ainda. Chamam-se comportamentos de corte a um conjunto, relativamente padronizado, de ações que visam a escolha de um companheiro ou companheira.

Destaque especial para os rinocerontes. Segundo nossos padrões sociais, estes animais como namorados, deixam muito a desejar. São tão violentos que seus proprietários hesitam em tentar reproduzi-los, em Jardins Zoológicos, pelo receio de que um deles morra na paquera.

Quando a fêmea entra no período fértil emite ruídos para informar os machos de que se encontra mais ou menos receptiva. A corte é feita de encontrões e pancadas e dura mais de hora ou o tempo necessário para deixar a fêmea exausta. Finalmente, ela permitirá, então, a cópula, que dura outra hora com o macho ejaculando a cada dez minutos, cada vez com uma penetração maior, até que acaba montado, literalmente na fêmea, com as quatro patas no ar.

O caso de comportamento sexual animal mais estudado desde o século passado é este: Existe na Oceania uma família de aves, Paradisaeidae, conhecidas como aves-do-paraíso devido à sua beleza. Os machos possuem penas longas e coloridas e caudas exuberantes, denominadas de plumagem nupcial. Algumas penas chegam a ter mais de dois metros de comprimento. As fêmeas apresentam plumagens muito circunspectas, com as cores de um pardal. Nestes animais, são as fêmeas que escolhem os machos como companheiros. Diversos deles se apresentam e ela escolhe o que mais lhe agrada. Aparentemente, o tamanho e a cor das plumas é o fator determinante para a atração sexual. Um pesquisador registrou 26 cópulas em pesquisa, 25 delas foram feitas por um único macho, tal o sucesso da plumagem com as fêmeas.

Como no caso do pavão, a única função destas penas enormes ou vistosas que só aumentam a chance de ser caçado, é fazer-se escolhido por uma fêmea discretas de tons marrons. Em uma das espécies o macho é negro com um grupo de penas brancas azuis e amarelo metálicas no peito. Em outra, sua cabeça é amarela, com o papo verde-metálico e uma longa cauda rosa.

Um leitor astuto poderia perguntar: Conheço muitos bichos, como cães, por exemplo, nos quais os machos se apresentam e a fêmea escolhe um deles para copular. Por que os cachorros não ficaram tão bonitos e coloridos? A resposta é a seguinte: pavões e aves do paraíso desenvolveram-se em locais sem predadores. Apenas em um local sem riscos de destruição um animal pode dispor de penas tão chamativas sem correr o risco de desaparecer. Imagine, por exemplo, uma mutação genética que transformasse uma zebra em um animal multicolorido. Em uma savana africana, este pobre animal exuberante não duraria muito. Seria uma tentação para leoas e guepardos.

As fêmeas de aves do paraíso e pavões, em contrapartida, são de cores e tamanho discretos. Como são mais importantes para a sobrevivência dos filhotes do que os machos, não devem correr riscos desnecessários.

Assim, através de diferentes caminhos podemos perceber que cada espécie de animal traz em seu corpo e em seu cérebro as marcas de seu comportamento sexual. Não seria diferente conosco, seres humanos.

Examinando o Homo sapiens com um olhar zoológico o resultado é bastante surpreendente. Ainda que os membros da espécie costumem se avaliar esteticamente com muito otimismo, trata-se de um animal de forma muito peculiar.

Chama a atenção inicialmente a presença de pêlos apenas em algumas partes, cabeça, axilas e sobre a genitália. Entre os macacos, é sem dúvida, um padrão inédito. Não sabemos por que esta espécie perdeu a maioria dos pêlos. Alguns cientistas sugerem que eles foram perdidos por que não eram necessários nas savanas e prejudicavam a sudorese, que é nosso principal mecanismo de perda de calor. Quando as condições climáticas pioravam, a confecção de roupas fornecia uma proteção corporal adicional.

Sugere-se que este pitoresco padrão, em tufos, seja um modo de identificar quem são os membros da mesma espécie. Existe , ainda, a proposta de que alguns pêlos restantes foram mantidos por seleção sexual: a barba e os pêlos genitais. Eles seriam a nossa plumagem nupcial exuberante. Serviriam para os membros do outro sexo avaliarem as qualidades de um eventual pretendente, como o seu desenvolvimento hormonal ou o estado nutricional, por exemplo.

E os seios? Nenhuma espécie de primata acumula tanta gordura ao redor da glândula mamária como a fêmea humana. Este depósito de gordura tem um efeito erótico muito grande sobre os machos de nossa espécie, cedendo importância, apenas, para os quadris. Mas, para que tanta gordura? Não é para ajudar a produção de leite ou para a proteção da glândula, caso contrário as fêmeas de orangotangos, chimpanzés ou gorilas teriam dificuldade em amamentar seus filhotes, por falta de adiposidades, o que não acontece na vida real. Para amamentar, bastam glândulas mamárias e mamilos.

Para que, ainda, um pênis tão grande? Proporcionalmente, o órgão genital humano tem o dobro do tamanho dos outros grandes macacos. Ainda que o tamanho possa agradar as mulheres, este não deve ser o fator fundamental, pois muitas espécies de macacos se reproduzem muito bem com instrumentos muito mais discretos. Qual seria o motivo, então, de sua evolução para um tamanho maior no Homo sapiens?

E os testículos? Por que os temos externos e pendentes como nos touros e não internos como os dos macacos e na maioria dos vertebrados? Convenhamos, da maneira como estão colocados, apresentam um risco enorme de lesão traumática.

Poderíamos fazer a hipótese de que estas características sejam nossas plumas nupciais, que, apesar do alto custo e pouca praticidade, têm o encantador efeito de nos interessar pelo sexo e podem acabar por produzir um filhote. É uma questào de charme animal, tempo e alguma probabilidade estatística.

Assim, é razoável pensar que sucesso sexual é tão importante em nossa vida como na dos animais. fazemos tudo e mais um pouco para alcançá-lo, até mesmo ignorar riscos óbvios. Como me disse um amuado senhor de 75 anos acusado de adultério pela esposa: — Sexo serve, mesmo, para dar problemas.

Bibliografia recomendada

  1. Fisher, H. A anatomia do amor. Editora Eureka, Rio de Janeiro, 1995.

  2. Ranke-Heinemann, U. Eunucos pelo reino de Deus, Editora Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro, 1996.

  3. Taylor, T. A pré-história do sexo. Editora Campus, Rio de Janeiro, 1997.

  4. Wrangham, R & Peterson, D. O macho demoníaco. Editora Objetiva, S.Paulo,. 1998.

Minicurriculum

Renato Z. Flores é médico, mestre e doutor em Ciências (Genética e Biologia Molecular) pela UFRGS. Desenvolve pesquisas em sociobiologia das relações familiares e violência interpessoal.  Acredita, como Darwin, que os bons sentimentos dos seres humanos são mais devidos a sua natureza gregária de primata do que da educação religiosa que alguém tenha recebido.


Publicado em: 01/08/01

 

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