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A Três anos escrevi esse texto e
infelizmente continua atual |
Centúrias
dos Anjos da Guerra
por
Cari Lopez março de 2003
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Porque
choras anjo menino?
Porque te arrancam a alma no exílio do adeus; roubam teus
domingos, teu Deus de paz, a grama verde, os quadrinhos, tua mãe,
teu pai, teus sonhos pousados sobre a democracia em asas de águia, teu
irmão, o respeito, as flores na lapela em dias de festa, teu melhor
amigo, a primavera de teus dias, teus ideais, tua amada, teus
poemas secretos trancados em teu diário, que agora espera, não é
mesmo? Te converteram em tirano, ensinando-te a matar pra não morrer. Teu Super - Man passou a defender com sangue e balas de verdade, aquilo
que nem tu acreditas!
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Revestido de caros
brinquedos, para assegurar tua alma missionária, quiseram te
transformar ainda em homem aranha, pra arranhar os céus escrevendo
"SANGUE" em letras garrafais.
Não era isso! Mudaram o
roteiro das histórias em quadrinhos sem permissão de ninguém! E fizeram de ti o
vingador mais temido, o que leva; não as boas novas, mas as más, não
o alento, mas a guerra. Se viveres, guardarás para o resto de tua vida
as imagens que passarão diante de tuas retinas, o medo, a morte, a
humilhação de ter que esconder vida debaixo de teu uniforme, de ter
que esconder a vontade de consolar quando a ordem é matar . Contar a
teus filhos a vergonha e arrependimento de um fato sem escolha, como
exemplo. Menino! Que triste sina ...
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Levarás
numa mão a morte e com a outra alento. Isso dará forças pra
acordar no outro dia, mas o fará mais relutante ao disparar tuas balas
contra quem alimentou no dia anterior. Tua alma gritará de dor tão
alto, que tudo em ti se anestesiará. As emoções terão que dar
espaço ao teu chip programado.
Diante dos pesadelos que te perseguirão
virá a imagem de mãos pedindo pão e água. A controvérsia rendida
aos apelos instintivos da tua sobrevivência e a esperança do regresso
próximo, te porão de joelhos todos os dias de tua vida, pois te
arrependerás em ter conhecido de perto a tua outra face no espelho do
vil cenário.
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Nos
flashs diários conhecerás a face de tua mãe na face envelhecida pela
dor e miséria de outras mulheres, que clamam em meio à morte e
desolação; a vida, a paz, a trégua, pelos filhos mortos, pelos
maridos mortos ou inválidos. Verás a imagem de tua mãe quase que como
uma holografia de dor, e assim mesmo, terás de ser o motivo das
lamentações que serão diárias.
Chorarás na solidão de tua barraca
pelas lágrimas daquela que também se tornou tua mãe, mãe de homens
meninos, mãe da terra. Rogarás misericórdia! Para que essa dor acabe
logo e voltes a sentir o cheiro de tua casa, a fala doce de tua mãe que
te espera todos os dias, todas as noites, agarrando-se à tua foto e ao
teu travesseiro que descansara tua fronte fresca, nas noites em que
delineava teus sonhos em ter uma linda família e ser um homem de bem. |
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Todas
as crenças todas as religiões, toda a vergonha e revolta do mundo
recairá sobre tuas costas cansadas, terás calos e bolhas nos pés, a
princípio perseguindo teus supostos inimigos, e logo depois para
encontrar, o mais rápido possível, o caminho de volta. Que bom seria
levar as boas novas de paz e de luz, a bíblia, o alcorão, o livro de
mórmon, ou outra coisa qualquer que trouxesse esperança de dias
melhores, ao invés de tecnologia de extermínio, revestindo teu corpo
frágil. |
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Para
isso temos braços longos? Para enterrar nossos mortos? - diz nosso
poeta
Mulheres esperam seus meninos no afã da
volta sem danos. Dias, semanas, meses de espera. Não vem! Vários
outros chegam! Mas ele não.
E tua mãe também esperará em lágrimas
e tu não chegas. Passas pelas covas rasas e vês que ao pó retorna o
guerreiro tão esperado. Sem honrarias, senão as lágrimas de amor
imenso que inundam o buraco frio de esperanças e sonhos vãos, de
coisas simples e boas que nunca serão realizadas.
Quisera sim, ter braços longos para abraços,
consolo e redenção desses mesmos sonhos afogados em covas rasas,
fadados ao calor estéril do deserto. Ressuscitar sorrisos em meio à
procissão de lágrimas, tristeza e desespero. |
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Verás também nos teus supostos inimigos a
mesma aflição, a mesma esperança. Anjos meninos do oriente, de costumes
tão diferentes e tão frágeis quanto tu, vítimas do mesmo ódio,
contaminados pelo poder e sentindo na alma mesma imensa dor.
Rejubilarte-ás
tão dentro como a dor, com abraços que não são teus, da alegria, do
calor de quem espera e encontra o irmão em meio a escombros da
mediocridade e frieza da batalha. |
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Terás
ordem de ter medo de anjos pequenos, que sem entender, como tu, o porquê
da guerra, indagam , através de seus olhos pequeninos, sobre esses
estranhos e ameaçadores aparatos recheados de gente como eles. O que
fazem?O que querem? Porque temos tanto ódio de quem nos dá pão e água,
desses seres saídos de filmes importados de ficção que entraram em
nossas vidas, ora saciando a sede e a fome e ora, matando meu pai e
irmãos, fazendo minha mãe chorar?
Não entenderás como eles, mas
continuarás roboticamente seguindo teu chip programado.
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Verás meninos pequeninos
e lembrarás de tua infância. Constatarás que muitos não a
tiveram. Prontamente se tornam homens, oferecendo suas vidas frágeis por um
ideal que não entendem. A honra de defender a Pátria fazendo-se tão
importante quanto a água, o sol, a lua: quanto Maomé.
Mais do que revistas em quadrinhos e
auto-identificação com seus heróis, são eles os protagonistas, almas
puras, pequeninas, violadas pelo medo. Ideais de tamanho gigante por
questões inteligíveis de poder incauto.
Terás imensa vontade de
oferecer caramelos coloridos, entradas para os jogos de futebol, de circo,
sorrisos, estórias bonitas, mas verás que somente a guerra ganha vida
nessa fábula real de vítimas pequeninas, que já aprenderam matar
e até o que tu ainda não consegues; estão prontos para morrer e ser
mártires, não tendo vivido o suficiente para aprender o valor imenso da
paz, do respeito e a alegria de ter direitos para ser criança de
verdade.
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Chorarás
junto, ao lado, chorarás dentro. Tudo o que te ensinaram de bom até
então tem um sentido maior. Um sentido tão profundo quanto tuas
feridas reais, mas muito mais dolorosos e vis.Um sentido que valeria tua
própria vida, pela vida de muitos, De tantos quantos tu podes alcançar
com tua restrita visão ou até em pensamentos, mas em vida.
Descobrirás que em vida e pela vida de
todos em igualdade e exatidão, preservarás teus preceitos de honra e
humanidade, teus contatos íntimos com tua melhor metade, a metade
semelhante a esse Deus que aprendestes a amar.
E por Quem aprenderás a orar mais e mais
até que Ele o escute e escute a voz de vários outros anjos que semeiam a
paz.
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O Deus que cura, o Deus de amor, de
fraternidade e misericórdia...
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O Deus
de Milagres , o Deus do impossível.
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O Deus da alegria e justiça misericordiosa
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O Deus
da paz
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O Mesmo Deus de muitos, de vários nomes. |
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O
Provedor
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O Redentor!
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O
Mesmo que chora pelos filhos, que vigia os moribundos, que prega a
bondade e igualdade, que revela a glória aos justos e puros de coração.
Nosso Pai o Criador! |
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