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Obesidade X Estilo de Vida
Dra. Zuleika Halpern

reportagem  realizada durante o 25º Congresso Brasileiro de
Endocrinologia e Metabologia, em Brasília.

“O uso de medicamentos para combate à obesidade infantil deve estar sempre associado à mudança no estilo de vida dos pacientes”. Esta é a opinião da especialista paulista Zuleika Halpern, secretária-geral da ABESO (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade). Em simpósio realizado no Congresso Brasileiro, ela defendeu o uso de medicamentos de ação central, combinados à reeducação alimentar e comportamental, no tratamento a casos de obesidade infantil e fez ressalvas à prática aleatória da intervenção cirúrgica, conhecida como cirurgia bariátrica, em pacientes obesos. Leia a entrevista que a Dra. Zuleika concedeu à Folha da SBEM Online:

Folha da SBEM - Em quais casos é preferível o tratamento farmacêutico?

Dra. Zuleika - É importante dizer que tanto o tratamento por medicamentos quanto o cirúrgico são medidas de exceção para aqueles casos de obesidade severa. Isso ocorre onde você não obteve sucesso na orientação quanto à alimentação adequada, incentivo à atividade física e modificações comportamentais. Você só vai utilizar um medicamento se essas medidas não funcionarem, mas isso não faz com que você as abandone ao utilizar o remédio. O procedimento usado é a adoção de um medicamento que ajude a pessoa, com genética à obesidade, aderir ao tratamento.

Folha da SBEM - O que seria essa mudança no estilo de vida no caso da obesidade infantil?

Dra. Zuleika - Não comer assistindo televisão, ou enquanto está em frente ao computador, por exemplo. O crescimento da obesidade se deve, principalmente, ao aumento de consumo de gordura, associado ao sedentarismo. A violência e o avanço tecnológico fazem com que as crianças fiquem confinadas dentro de casa. Não levantam nem para atender telefone, por exemplo, com inúmeras extensões telefônicas dentro de casa, ou com o uso do celular. Além disso, acabam consumindo uma quantidade muito grande de alimentos inadequados, o que é mais grave.

Folha da SBEM - Sem essa reeducação alimentar e comportamental, a ação dos remédios não é eficaz?

Dra. Zuleika - Não vai funcionar em absolutamente nada. Esses medicamentos só vão ajudar a quem adote estas medidas. Não existe uma fórmula mágica. As pessoas querem isso, e acham que um medicamento vai resolver o problema delas. Porém não é assim que acontece.

Folha da SBEM - Em que os remédios de ação central podem ajudar?

Dra. Zuleika – No caso dos compulsivos. Pessoas que, por exemplo, comem porque estão deprimidas ou ansiosas, podem usar o medicamento para combater a depressão. Pacientes com tendência ao diabetes e com um peso muito acima do normal podem utilizar algumas outras drogas que diminuiriam a absorção da glicose.

Folha da SBEM - Quais os casos em que realmente é necessária a cirurgia bariátrica?

Dra. Zuleika - Nos casos de obesidade mórbida, isto é, quando o peso está 40% acima do normal. A obesidade pode aumentar a chance de hipertensão, diabetes, doenças coronarianas, doença ortopédicas e câncer. Pode ser adotado também com aqueles pacientes com obesidade grave, e nada fazem para a doença seja controlada. Nenhum medicamento funciona. No caso de risco de vida a cirurgia, também, deve ser recomendada.

Folha da SBEM – O médico analisa primeiro se é possível fazer um tratamento a base de remédios ou solicita a intervenção cirúrgica?

Dra. Zuleika - Perguntas como há quanto tempo ele é obeso, se a família é geneticamente obesa, ou quantos tipos de tratamento ele já fez podem definir o tratamento.

O importante é ressaltar que nem todo obeso mórbido está preparado para essa cirurgia. Ele tem que estar preparado psicologicamente e precisa ser informado que a vida dele vai mudar drasticamente. O médico tem que realizar uma avaliação psicológica do paciente.
Infelizmente há muitos grupos fazendo a cirurgia de uma maneira aleatória, sem uma indicação precisa. E há também grupos muito sérios, que realmente só fazem essa cirurgia quando é a única medida possível. Mas é importante dizer que isso não é uma panacéia.

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Edição N° 01
Folha da SBEM Online - Edição comemorativa do 25° CBEM
dezembro de 2002