“O uso de
medicamentos para combate à obesidade infantil deve estar sempre
associado à mudança no estilo de vida dos pacientes”. Esta é a
opinião da especialista paulista Zuleika Halpern, secretária-geral da
ABESO (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade). Em simpósio
realizado no Congresso Brasileiro, ela defendeu o uso de medicamentos de
ação central, combinados à reeducação alimentar e comportamental,
no tratamento a casos de obesidade infantil e fez ressalvas à prática
aleatória da intervenção cirúrgica, conhecida como cirurgia bariátrica,
em pacientes obesos. Leia a entrevista que a Dra. Zuleika concedeu à
Folha da SBEM Online:
Folha da SBEM - Em quais casos é preferível
o tratamento farmacêutico?
Dra. Zuleika - É importante dizer que tanto o
tratamento por medicamentos quanto o cirúrgico são medidas de exceção
para aqueles casos de obesidade severa. Isso ocorre onde você não
obteve sucesso na orientação quanto à alimentação adequada,
incentivo à atividade física e modificações comportamentais. Você só
vai utilizar um medicamento se essas medidas não funcionarem, mas isso
não faz com que você as abandone ao utilizar o remédio. O
procedimento usado é a adoção de um medicamento que ajude a pessoa,
com genética à obesidade, aderir ao tratamento.
Folha da SBEM - O que seria essa mudança no
estilo de vida no caso da obesidade infantil?
Dra. Zuleika - Não comer assistindo televisão,
ou enquanto está em frente ao computador, por exemplo. O crescimento da
obesidade se deve, principalmente, ao aumento de consumo de gordura,
associado ao sedentarismo. A violência e o avanço tecnológico fazem
com que as crianças fiquem confinadas dentro de casa. Não levantam nem
para atender telefone, por exemplo, com inúmeras extensões telefônicas
dentro de casa, ou com o uso do celular. Além disso, acabam consumindo
uma quantidade muito grande de alimentos inadequados, o que é mais
grave.
Folha da SBEM - Sem essa reeducação
alimentar e comportamental, a ação dos remédios não é eficaz?
Dra. Zuleika - Não vai funcionar em
absolutamente nada. Esses medicamentos só vão ajudar a quem adote
estas medidas. Não existe uma fórmula mágica. As pessoas querem isso,
e acham que um medicamento vai resolver o problema delas. Porém não é
assim que acontece.
Folha da SBEM - Em que os remédios de ação
central podem ajudar?
Dra. Zuleika – No caso dos compulsivos.
Pessoas que, por exemplo, comem porque estão deprimidas ou ansiosas,
podem usar o medicamento para combater a depressão. Pacientes com tendência
ao diabetes e com um peso muito acima do normal podem utilizar algumas
outras drogas que diminuiriam a absorção da glicose.
Folha da SBEM - Quais os casos em que realmente é
necessária a cirurgia bariátrica?
Dra. Zuleika - Nos casos de obesidade mórbida,
isto é, quando o peso está 40% acima do normal.
A obesidade pode aumentar a chance de hipertensão, diabetes, doenças
coronarianas, doença ortopédicas e câncer. Pode ser adotado também
com aqueles pacientes com obesidade grave, e nada fazem para a doença
seja controlada. Nenhum medicamento funciona. No caso de risco de vida a
cirurgia, também, deve ser recomendada.
Folha da SBEM – O médico analisa primeiro
se é possível fazer um tratamento a base de remédios ou solicita a
intervenção cirúrgica?
Dra. Zuleika - Perguntas como há quanto tempo
ele é obeso, se a família é geneticamente obesa, ou quantos tipos de
tratamento ele já fez podem definir o tratamento.
O importante é ressaltar que nem todo obeso mórbido está preparado
para essa cirurgia. Ele tem que estar preparado psicologicamente e
precisa ser informado que a vida dele vai mudar drasticamente. O médico
tem que realizar uma avaliação psicológica do paciente.
Infelizmente há muitos grupos fazendo a cirurgia de uma maneira aleatória,
sem uma indicação precisa. E há também grupos muito sérios, que
realmente só fazem essa cirurgia quando é a única medida possível.
Mas é importante dizer que isso não é uma panacéia.
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