Muitas mulheres que têm
alterações menstruais e/ou não conseguem engravidar podem estar
diante de um distúrbio endócrino-ginecológico relativamente freqüente.
Outros sintomas comuns são a obesidade e o aparecimento de pêlos
espessos na face, tórax, abdome e coxas que podem incomodar bastante. O
que pode estar acontecendo com você mulher? O que pode ser feito para
que todas essas alterações deixem de fazer parte do seu dia-a-dia,
para que você viva sua sexualidade e maternidade com mais saúde e
felicidade?
Introdução
A síndrome do ovário policístico é uma das desordens endocrinológicas
mais comuns afetando aproximadamente 6% da população feminina em idade
reprodutiva. É a causa mais comum de infertilidade anovolutória (sem
ovulação) sem, no entanto se saber a causa ou o defeito de base. É
uma síndrome importante por acometer um grande número de mulheres em
plena idade fértil. Novas descobertas e conhecimentos sobre a desordem,
sua relação com outras alterações endócrinas e com repercussões
cardiovasculares têm sido feitas. Um estudo de revisão foi feito pelos
Drs. Melissa H. Hunter e James J. Sterrett, ambos da Universidade de
Medicina da Carolina do Sul – Charleston, EUA. Nesse estudo são
apresentados os diversos aspectos dessa desordem, bem como seus sintomas
e as alterações no organismo, seu diagnóstico, seu tratamento e suas
complicações. Um resumo desse estudo foi publicado na revista médica
American Family Physician deste ano.
O Que é
Síndrome do Ovário Policístico (SOP)?
A SOP é um distúrbio que se manifesta de diversas formas. A presença
de amenorréia (ausência de menstruação por mais de três ciclos ou
seis meses), de hirsutismo (aparecimentos de pêlos mais grossos em
locais dependentes da ação de andrógenos como o tórax, o queixo,
entre o nariz e o lábio superior, o abdome inferior e as coxas) e o
aumento dos ovários ocorrem somente nos casos avançados. As mulheres
afetadas têm sintomas de aumento de andrógenos (hormônios
masculinizantes), irregularidades menstruais e amenorréia. A síndrome
se inicia na puberdade e é progressiva.
O desenvolvimento de técnicas mais apuradas de ultra-sonografia tem
possibilitado maior detalhamento do aumento dos ovários. Há vários
estudos sendo conduzidos sobre as alterações endócrino-metabólicas
relacionadas com a síndrome e, no momento, o tratamento visa a diminuição
das complicações futuras relacionadas com a anovulação(ausência de
ovulação) e com a exposição às alterações hormonais.
Qual é a sua Causa?
O mecanismo preciso ainda não é conhecido. No entanto, já é
sabido que há um aumento na produção de insulina devido a uma diminuição
de sua ação nas células do organismo. Esse aumento leva a uma maior
produção de andrógenos (hormônios masculinizantes) pelos ovários.
Além disso, há uma disfunção no equilíbrio de dois hormônios da
hipófise responsáveis pelo controle dos ovários: LH X FSH.(LH-hormônio
luteinizante e FSH-hormônio folículo estimulante)
Seus Sintomas e Sinais Físicos
A anovulação, obesidade, hirsutismo e presença de múltiplos cistos
pequenos em ambos ovários são os sinais clássicos. No entanto, um
amplo espectro de alterações clínicas e laboratoriais também faz
parte do quadro. O instituto nacional de saúde norte-americano definiu
que o aumento de andrógenos e a anovulação são duas características
capazes de levar ao diagnóstico. É importante, no entanto, que se
descarte outras causas como tumores secretores de andrógeno, doenças
da glândula supra-renal e aumento da produção de prolactina (hormônio
produzido pela hipófise).
Os sintomas mais comumente queixados pelas mulheres são: irregularidades
menstruais, infertilidade, obesidade e sintomas
relacionados com aumento de androgênios – hirsutismo e acne.
A maioria das mulheres tem a primeira menstruação numa idade normal,
mas iniciam com ciclos irregulares que gradualmente se tornam mais
irregulares, geralmente levando a amenorréia.
Recentemente tem sido mostrado a associação da SOP à resistência
periférica à ação da insulina o que pode levar à intolerância à
glicose e ao diabetes mellitus tipo 2.
Quais são as
Possíveis Complicações da SOP?
A SOP não tratada tem progressão até a menopausa, quando devido
à falência ovariana, cessa a produção de estrógenos e andrógenos.
Estudos em andamento têm relacionado a SOP com um maior risco de doenças
cardiovasculares o que fica reforçado devido às alterações de
gorduras (colesterol total e frações e triglicérides) corporais também
presentes na SOP.
As outras complicações estão relacionadas com as alterações
resultantes da anovulação: infertilidade, irregularidades menstruais
variando de amenorréia a hemorragias uterinas, hirsutismo e acne. Mais
importante ainda é a exposição do endométrio (revestimento interno
uterino) contínua ao estrogênio, sem a presença da ação da
progesterona contrabalançando-o, por encontra-se ausente devido às
alterações hipófise – ovarianas. Essa exposição contínua pode
propiciar o aparecimento de câncer de endométrio cujo risco é três
vezes maior em mulheres com SOP. Além disso, há estudos sugerindo que
a anovulação crônica durante a idade fértil, está relacionada com
maior risco de câncer de mama após a menopausa.
Outras Causas de Anovulação na Idade Reprodutiva
Atividades físicas extenuantes
Falência ovariana precoce
Tumor benigno hipofisário produtor de prolactina
Drogas com ação progestínica
Hiper ou hipotireoidismo
Desordens alimentares
Hiperplasia congênita da supra-renal
Tumores virilizantes da supra-renal
Tumores de ovário
Exames Laboratoriais
Vários exames devem ser solicitados para a avaliação do padrão
hormonal e a forma dos ovários. Inicialmente, deve-se fazer um teste de
gravidez, que necessita ser descartada em qualquer mulher em idade fértil
que esteja sem menstruar. Deve-se solicitar uma ultra-sonografia para
avaliar os ovários que, em caso de SOP, demonstrarão pelo menos oito
imagens periféricas com menos de 10 mm de diâmetro. O nível sangüíneo
de vários hormônios pode ser avaliado: testosterona, androstenediona,
LH, FSH, estradiol, estrona, prolactina, insulina em jejum além de
glicose em jejum. Outros exames poderão ser necessários para excluir
as outras causas mencionadas acima. Um exame de colesterol total e frações
também deve ser realizado para avaliar do padrão lipídico e a
necessidade de se tomar medidas modificadoras. A pressão arterial deve
ser medida anualmente para se descobrir precocemente uma hipertensão
arterial.
Tratamento
O tratamento é direcionado aos sintomas por não se saber, ao
certo, a causa da SOP. O objetivo é a manutenção de um endométrio
normal, a antagonização da ação dos androgênios nos tecidos alvos,
a diminuição da resistência à insulina e a correção da anovulação.
O desejo de fertilidade é importante e está relacionado com um
tratamento diferente.
Modificação Comportamental
Diminuição de peso, dieta e exercícios. São muito importantes
mesmo quando juntos ao tratamento medicamentoso. A diminuição de peso
diminui os níveis de testosterona, de insulina e de LH.
Medicamentos
Para mulheres que não querem engravidar, pode-se usar drogas com ação
progestínica, por 10 a 14 dias por mês, para contrabalançar a ação
estrogênica no endométrio. Não há supressão de produção de andrógenos
(Medroxyprogesterona ou Noretindrona).
Outra opção para essas pacientes é a pílula anticoncepcional de
doses baixas. As vantagens dessa terapia são: contracepção,
prevenção de crescimento e câncer endometrial, normalização dos
ciclos menstruais e tratamento da acne e hirsutismo (melhora seis meses
após uso). Drogas antiandrogênicas podem ser associadas para o
tratamento do hirsutismo com maior rapidez (Espironolactona,
etc).
Drogas análogas aos hormônios liberadores de gonadotropinas devem ser
usadas em pacientes que não respondem ao tratamento acima. Cuidado com
seus efeitos colaterais ósseos e vaginais.
Para as pacientes que desejam engravidar, deve-se utilizar indutores de
ovulação (Citrato de Clomifeno). Tais mulheres devem procurar um serviço
especializado em infertilidade.
Uma nova forma de tratamento tem sido o uso de Metformina, uma droga que
aumenta a sensibilidade da insulina, utilizada no tratamento da diabetes
mellitus tipo 2. Estudos preliminares demonstraram um retorno à
atividade menstrual em 68% a 98% das mulheres com SOP que utilizaram-na.
Não é o tratamento padrão, mas pode ser uma possibilidade real
futura.
Em fim, a importância da descoberta dessa desordem por uma mulher não
tem como ser mais enfatizada. O seu controle influi drasticamente em
toda a saúde feminina, desde suas raízes sexuais mais profundas, sua
fisionomia e imagem corpórea e também na prevenção de doenças sérias
que possam vir a aparecer.
Fonte: Am Fam Physician 2000;62:1079-88,1090.
Tratamentos
O tratamento dos Ovários
Policísticos depende dos sintomas que a mulher apresenta e do
que a mesma pretende.
A pergunta mais frequente do
médico é saber se a paciente pretende engravidar ou não.
Anticoncepcionais
Orais
Não havendo desejo de
engravidar, grande parte das mulheres se beneficiam com um tratamento a
base de anticoncepcionais orais ou seja a pílula.
De fato a pílula melhora os
sintomas de aumento de pelos, espinhas, irregularidades menstruais, cólicas
e, em alguns casos, do aumento excessivo do peso.
Não há uma pílula específica
para o controle dos sintomas. As de baixa dosagem tem sido as mais
prescritas pelos ginecologistas. Existem pílulas que tem um efeito
melhor sobre a acne, espinhas e pele oleosa.
Mulheres que não podem
tomar a pílula se beneficiam de tratamentos à base de progesterona.
Dietas com baixas calorias e
pouca gordura melhoram o aumento de peso contribuindo para o bem estar
da paciente.
Em alguns casos medicamentos
que são usados no tratamento da diabetes também tem sua aplicação.
Leia também: Benefícios
e usos terapêuticos da pílula anticoncepcional
Cirurgia
Cada vez mais os métodos
cirúrgicos para esta síndrome tem sido abandonados em função da
eficiência do tratamento com anticoncepcionais orais.
Indução da Ovulação
Se a paciente pretende
engravidar o médico lhe recomendará um tratamento de indução
da ovulação não sem antes afastar as outras
causas de infertilidade.
Não se deve fazer este
tratamento em mulheres que não estejam realmente tentando engravidar.
O fato da mulher conseguir
ovular com medicamentos não significa que a síndrome foi curada.
É necessário
tratar ?
A decisão sobre o
tratamento passa pela orientação por parte do médico e a decisão da
mulher.
Muitas mulheres se sentem
bem melhor com o tratamento.
De qualquer maneira a síndrome
dos ovários policísticos não é uma doença grave portanto não há
necessidade de preocupação.
Atualizado e revisado em
20 mar 2006
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