ANSIEDADE
TRANSTORNO DO PÂNICO
O Distúrbio do Pânico habitualmente se inicia depois dos 20 anos, é
igualmente prevalente entre homens e mulheres, portanto, em sua
maioria, as pessoas que tem o Pânico são jovens ou adultos jovens na
faixa etária dos 20 aos 40 anos e se encontram na plenitude da vida
profissional. Normalmente são pessoas extremamente produtivas,
costumam assumir grandes responsabilidades e afazeres, são
perfeccionistas, muito exigentes consigo mesmas e não costumam
aceitar bem os erros ou imprevistos.
Os portadores de Pânico costumam ter tendência a preocupação
excessiva com problemas do cotidianos, têm um bom nível de
criatividade, excessiva necessidade de estar no controle da
situação, têm expectativas altas, pensamento rígido, são competentes
e confiáveis. Freqüentemente esses pacientes têm tendência a
subestimar suas necessidades físicas.
Psicologicamente eles costumam reprimir alguns ou todos sentimentos
negativos, sendo os mais comuns o orgulho, a irritação e,
principalmente, seus conflitos íntimos.
Essa maneira da pessoa ser acaba por predispor a situações de stress
acentuado e isso pode levar ao aumento intenso da atividade de
determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um
desequilíbrio bioquímico e conseqüentemente o aparecimento do
Pânico.
Depois das primeiras crises de Pânico, durante muito tempo os
pacientes se recusam aceitar tratar-se de um transtorno
psicoemocional. Normalmente costumam ser pessoas que não se vêem
sensíveis aos problemas da emoção, julgam-se perfeitamente
controladas, dizem que já passaram por momentos de vida mais
difíceis sem que nada lhes acontecesse, enfim, são pessoas que até
então subestimavam aqueles que sofriam problemas psíquicos.
ATAQUES DE PÂNICO*
* texto extraído do DSM.IV (Classificação da Associação
Norte-Americana de Psiquiatria)
Os ataques de pânico são recorrentes (voltam) e caracterizam
essencialmente este distúrbio. Essas crises se manifestam por
ansiedade aguda e intensa, extremo desconforto, sintomas vegetativos
(veja a lista) associados e medo de algo ruim acontecer de repente,
como por exemplo da morte iminente, de passar mal, desmaiar, perder
o controle, etc. As crises de ansiedade no Pânico duram minutos e
costumam ser inesperadas, ou seja, não seguem situações especiais,
podendo surpreender o paciente em ocasiões variadas. Não obstante,
existem alguns pacientes que desenvolvem o episódio de pânico diante
de determinadas situações pré-conhecidas, como por exemplo,
dirigindo automóveis, diante de grande multidão, dentro de bancos,
etc. Neste caso dizemos que o Distúrbio do Pânico é acompanhado de
Agorafobia.
Uma vez que os Ataques de Pânico ocorrem em diversos quadros de
Ansiedade, o texto e o conjunto de critérios para um Ataque de
Pânico são oferecidos separadamente nesta seção.
A característica essencial de um Ataque de Pânico é um período
distinto de intenso medo ou desconforto acompanhado por pelo menos 4
de 13 sintomas físicos citados abaixo.
O ataque tem um início súbito e aumenta rapidamente, atingindo um
pico em geral em 10 minutos acompanhado por um sentimento de perigo
ou catástrofe iminente e um anseio por escapar. Os 13 sintomas
físicos são os seguintes:
1 - palpitações,
2 - sudorese,
3 - tremores ou abalos,
4 - sensações de falta de ar ou sufocamento,
5 - sensação de asfixia,
6 - dor ou desconforto torácico,
7 - náusea ou desconforto abdominal,
8 - tontura ou vertigem,
9 - sensação de não ser ela(e) mesma(o),
10 - medo de perder o controle ou de "enlouquecer",
11 - medo de morrer,
12 - formigamentos e
13 - calafrios ou ondas de calor.
Os ataques que satisfazem todos os demais critérios mas têm menos de
4 sintomas físicos são chamados de ataques com sintomas limitados.
Os indivíduos que buscam os cuidados médicos para Ataques de Pânico
inesperados geralmente descrevem o medo como intenso e relatam que
achavam que estavam prestes a morrer, perder o controle, ter um
ataque cardíaco ou acidente vascular encefálico ou "enlouquecer".
Eles também citam, geralmente, um desejo urgente de fugir de onde
quer que o ataque esteja ocorrendo.
A falta de ar é um sintoma comum nos Ataques de Pânico. O rubor
facial é comum em Ataques de Pânico ligados a situações relacionadas
à ansiedade social e de desempenho. A ansiedade característica de um
Ataque de Pânico pode ser diferenciada da ansiedade generalizada por
sua natureza intermitente (em crises) enquanto na ansiedade
generalizada a ansiedade não é em crises mas continuada e a
gravidade geralmente é maior nas crises de pânico que na ansiedade
generalizada.
Os Ataques de Pânico podem ocorrer em uma variedade de Transtornos
de Ansiedade, tais como:
1 - Transtorno de Ansiedade,
2 - Fobia Social,
3 - Fobia Específica,
4 - Transtorno de Estresse Pós-Traumático,
5 - Transtorno de Estresse Agudo.
Na determinação da importância diagnóstica diferencial de um Ataque
de Pânico, é crucial considerar o contexto no qual ocorre o Ataque
de Pânico. Existem três tipos característicos de Ataques de Pânico,
com diferentes relacionamentos entre o início do ataque e a presença
ou ausência de ativadores situacionais:
1 - Ataques de Pânico Inesperados (não evocados), nos quais o início
do Ataque de Pânico não está associado com um ativador situacional
(isto é, ocorre espontaneamente, "vindo do nada");
2 - Ataques de Pânico Ligados a Situações (evocados), nos quais o
Ataque de Pânico ocorre, quase que invariavelmente, logo após à
exposição ou antecipação a um evocador ou ativador situacional (por
ex., ver uma cobra ou um cão sempre ativa um Ataque de Pânico
imediato);
3 - Ataques de Pânico Predispostos pela Situação, que tendem mais a
ocorrer na exposição ao evocador ou ativador situacional, mas não
estão invariavelmente associados ao evocador e não ocorrem
necessariamente após a exposição (por ex., os ataques tendem mais a
ocorrer quando o indivíduo está dirigindo, mas existem momentos em
que a pessoa dirige e não tem um Ataque de Pânico ou momentos em que
o Ataque de Pânico ocorre após dirigir por meia hora).
A importância dessa classificação quanto ao surgimento do ataque
prende-se ao conhecimento de que:
a - A ocorrência de Ataques de Pânico inesperados é um requisito
para o diagnóstico de Transtorno de Pânico (com ou sem Agorafobia).
b - Ataques de Pânico ligados a situações são mais característicos
da Fobia Social e Fobia Específica.
c - Os Ataques de Pânico predispostos por situações são
especialmente freqüentes no Transtorno de Pânico, mas às vezes podem
ocorrer na Fobia Específica ou Fobia Social.
O diagnóstico diferencial de Ataques de Pânico é complicado pelo
fato de nem sempre existir um relacionamento exclusivo entre o
diagnóstico e o tipo de Ataque de Pânico. Por exemplo, embora o
Transtorno de Pânico por definição exija que pelo menos alguns dos
Ataques de Pânico sejam inesperados, os indivíduos com Transtorno de
Pânico muitas vezes relatam ataques ligados a situações,
particularmente no curso mais tardio do transtorno. As questões
diagnósticas para casos limítrofes são discutidas nas seções
"Diagnóstico Diferencial" dos textos para os transtornos nos quais
podem aparecer Ataques de Pânico.
Normalmente, depois do primeiro ataque as pessoas com Pânico
experimentam importante ansiedade e medo de vir a apresentar um
segundo episódio. Trata-se de extrema insegurança e por muito tempo
essas pessoas continuam achando que sofrem do coração ou, quando se
tenta afastar essa possibilidade mediante uma série de exames
cardiológicos negativos, pensam ser eminente um derrame cerebral.
A ansiedade é tanta que os pacientes ficam ansiosos diante da
possibilidade de virem a ficar ansiosos. Por causa disso esses
pacientes passam a evitar situações possivelmente facilitadoras da
crise, prejudicando-se socialmente e/ou ocupacionalmente em graus
variados. São pessoas que deixam de dirigir, não entram em
supermercados cheios, evitam aventurar-se pelas ruas
desacompanhadas, não conseguem dormir, não entram em avião, não
freqüentam shows, evitam edifícios altos, não utilizam elevadores e
assim por diante. De qualquer forma a mobilidade social e
profissional de tais pacientes encontra-se prejudicada de alguma
maneira.
Os pacientes com Transtorno do Pânico podem necessitar sempre de
companhia quando saem de casa e, posteriormente, podem até se
recusar a sair de casa devido ao medo de passar mal na rua, de
morrer subitamente ou enlouquecer ou perder o controle de repente.
Eles também citam, geralmente, um desejo de fugir urgente de onde
quer que o ataque possa ocorrer. Algumas vezes podem apresentar
ansiedade antecipada diante da possibilidade de ter que sair de
casa. Normalmente esses pacientes têm muita dificuldade em dormir
desacompanhados, procuram insistentemente o cardiologista e recorrem
ao auxílio religioso com entusiasmo.
As pessoas que sofrem deste mal costumam fazer uma verdadeira
via-sacra a diversos especialistas médicos e, após uma quantidade
exagerada de exames médicos negativos, recebem o frustante
diagnóstico de que não têm nada, aumentando ainda mais a insegurança
e desespero.
Durante as crises de Pânico alguns médicos tentam confortar o
paciente fazendo-o entender que não está em perigo mas isso pode,
inclusive, aumentar ainda mais sua angústia. Podem até julgar que o
médico está sendo displicente e não estar valorizando devidamente
seu grave estado. Portanto, quando o médico usa expressões como "não
é nada grave", "é um problema de cabeça" ou "não há nada para se
preocupar", isso pode até piorar as dificuldades do paciente. Pode
dar a falsa impressão de que não há problema real ou de que não
existe tratamento entretanto, na realidade. A maioria dos médicos
deveria dizer que não há nada de grave fisicamente ou organicamente
mas sim, um sério problema emocional que deve ser tratado.
Depois de uma crise de Pânico - por exemplo, enquanto dirige,
fazendo compras em uma loja lotada, dentro de um elevador ou na fila
do banco - a pessoa pode desenvolver medos irracionais, chamados de
fobias à estas situações e, daí em diante, começa a evitar as
circunstâncias supostamente capazes de desencadear novas crises. O
nível de ansiedade e o medo de uma nova crise vai gradativamente
aumentando, até atingir proporções onde a pessoa pode se tornar
incapaz de dirigir ou mesmo de pôr o pé fora de casa. Desta forma, o
distúrbio do Pânico pode ter um impacto tão grande na vida cotidiana
da pessoa como qualquer outra doença grave.
INCIDÊNCIA E CAUSAS DE PÂNICO
No mundo inteiro, existem pessoas que sofrem de Síndrome do Pânico.
De acordo com as pesquisas, de 2 a 4% da população mundial é
acometida por este mal, o qual já é considerado um sério problema de
saúde. O Pânico ou as diversas formas de Fobias é, certamente, uma
das causas mais freqüentes de procura a psiquiatras e podemos
considerá-lo o segundo lugar de todas as queixas emocionais,
precedido apenas pela Depressão. Mesmo assim, é demasiadamente
freqüente a associação do Pânico com a Depressão.
Qual seria a causa desse grande aumento do número de casos?
Possivelmente deve-se ao aumento da ansiedade patológica na vida
moderna. A cronificação dessa ansiedade patológica irá desencadear
estados de stress continuado. Tanto eventos desagradáveis,
profissionais ou extra-profissionais, quanto eventos agradáveis,
também em ambos os campos, podem se constituir em agentes
estressores: morte de ente querido, nascimento de filho, despedida
ou promoção no emprego, casamento ou separação, todos são
potencialmente estressores.
Sabemos hoje que a síndrome do Pânico está biologicamente associada
a uma disfunção dos neurotransmissores a qual criaria um fator
agravante na sensação de medo. De acordo com uma das teorias, o
sistema de alerta normal do organismo - um conjunto de mecanismos
físicos e mentais que permite que uma pessoa reaja à alguma ameaça -
é desencadeado desnecessariamente na crise de Pânico, sem que haja
um perigo iminente a desencadeá-lo de fato, como naturalmente se
espera da fisiologia normal do ser humano.
O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores,
responsáveis pela comunicação entre os neurônios (células do sistema
nervoso). Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a
execução de todas as atividades físicas e mentais de nosso organismo
(ex: andar, pensar, memorizar, etc). Um desequilíbrio na produção
destes neurotransmissores pode levar algumas partes do cérebro a
transmitir informações e comandos incorretos. Daí o organismo
desencadearia uma reação de alerta indevidamente, como se houvesse
realmente uma ameaça concreta.
Seria isto, exatamente, o que ocorreria numa crise de Pânico: uma
informação incorreta, decorrente de uma disfunção dos
neurotransmissores, alertando e preparando o organismo para uma
ameaça ou perigo que na realidade e concretamente não existe. No
caso do Distúrbio do Pânico os neurotransmissores que se encontram
em desequilíbrio são os mesmos envolvidos na Depressão: a Serotonina
e a Noradrenalina. Vem daí a idéia de aplicar-se ao transtorno do
Pânico o mesmo tratamento medicamentoso da Depressão.
Constata-se também que o Pânico ocorre com maior freqüência em
algumas famílias, significando haver uma participação importante de
fatores hereditários na determinação de quem está sujeito ao
distúrbio. Apesar dessa concordância, muitas pessoas desenvolvem
este distúrbio sem nenhum antecedente familiar.
Vale ressaltar ainda que alguns medicamentos como anfetaminas
(usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha,
crack, ecstasy, etc.), podem aumentar a atividade e o medo
promovendo alterações químicas que podem levar ao Pânico.
Para referir:
Ballone GJ - Síndrome do Pânico - in. PsiqWeb, Internet - disponível
em <http://www.psiqweb.med.br/panitext.html> revisto em 2002
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Segundo palavras de
Sérgio Valle, ... "Existem pessoas, não importa de que classe
social, vagam pelos consultórios e clínicas do mundo inteiro sem que
ninguém seja capaz de lhes dizer qual a verdadeira origem de seus
males. A pessoa passa por uma série interminável de consultas e
exames, em boa parte pagos com dinheiro público, acaba entrando nas
estatísticas de certas doenças, mas não tem seu problema resolvido.
Três quartos das pessoas com distúrbio mental não estão onde
deveriam estar: no psiquiatra ou no psicólogo. Estão nas mãos do
cardiologista, do neurologista ou de outro especialista qualquer. É
uma multidão que não trata a sua doença de forma adequada, pois um
mau diagnóstico pode levar essas pessoas a conviver com enormes
desconfortos, que acabam se estendendo à toda a sua família" (veja
mais na página do autor).
Para os pacientes, selecionamos trechos do site de Marta Bonfante,
ex-portadora de Síndrome do Pânico, com quem estamos de pleno
acordo.
"Como ajudar:
A intenção dessa página é orientar as pessoas que convivem com
alguém que sofra de pânico a agir de maneira adequada para auxiliar
na sua recuperação. Aqui você encontrará algumas dicas básicas e
essenciais para entender melhor esse problema e saber até que ponto
e de que maneira ajudar.
Nunca menospreze o problema
A síndrome do pânico não é frescura, bobagem ou loucura. Nunca diga
a uma pessoa que apresenta sintomas de pânico que ela não tem nada
demais ou que é fraqueza dela. A síndrome do pânico é um problema
real que deve ser levado a sério. É importante saber que a pessoa já
sofre o bastante com os sintomas da doença, fazê-la se sentir fraca
ou perturbada mentalmente é muito cruel e absolutamente
desnecessário. A pessoa não é fraca nem covarde, apenas está doente
e precisa de ajuda.
Não exerça nenhum tipo de pressão
Se uma pessoa com esse problema diz que não tem condições de fazer
algo é porque realmente não tem. A síndrome do pânico não impede o
paciente de perceber suas limitações com relação à doença. Não fique
insistindo pra ela sair ou desencanar; acredite, ela quer muito
isso, mas não está em condições de enfrentar algumas situações sem
ter uma crise ou mal-estar. Tenha muita calma.
Evite formas de incentivo grosseiras ou agressivas
Evite tentar incentivá-la "dando um empurrãozinho" ou um "chacoalhão",
esperando que assim ela reaja. A pessoa está certamente muito
sensibilizada e esse tipo de incentivo pode soar como uma agressão
para ela, pois certamente se sentirá fraca diante dos outros. Gritar
ou dizer certas coisas em tom muito entusiástico para provocar uma
reação pode atrapalhar mais do que ajudar.
Evite contar histórias trágicas ou de enfermidades para quem tem
esse problema
Em geral, durante o período de crises, a pessoa fica muito
suscetível a incorporar sintomas às suas crises, tem medo de ter a
mesma doença que ouviu falar ou de sofrer um acidente como "aquele
que aconteceu com a vizinha..."
Mantenha a calma durante as crises
Embora seja difícil, procure manter a calma se a pessoa tiver uma
crise. Se você não se abalar , mostrar que está por perto para
ajudá-la e conseguir acalmá-la, dar segurança, dificilmente ela terá
outra crise perto de você. Se você se envolver no desespero do
paciente, dificilmente poderá ajudá-lo. As crises podem demorar um
pouco, mas elas passam.
Evite tratar quem tem o problema como um coitadinho
Qualquer ser humano se sente inferiorizado quando sentem pena dele.
Cuide da pessoa com confiança em sua recuperação e não como se ela
fosse uma vítima das circunstâncias.
Jamais indique medicamentos por conta própria ou por experiências de
terceiros
Deve-se sempre consultar um psiquiatra para saber qual o tratamento
mais indicado para cada caso.
Seja paciente com a pessoa e consigo mesmo
É preciso ter muita paciência e não é nada fácil entender o que se
passa nessa situação. Por isso, se você se sentir impotente ou
incapaz de entender e ajudar, saiba que isso é bastante comum. Você
jamais deve se sentir um inútil por não poder resolver o problema. A
melhor ajuda que você pode dar é manter a calma e confiar muito na
recuperação da pessoa, mostrando sempre que você está ali para
apoiá-la. Se for necessário, procure um dos grupos de ajuda que
estão na página "onde procurar ajuda". Eles também podem ajudar as
famílias dos pacientes e dar maiores informações sobre a doença"
(veja o site da autora).
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