JP Veiga
Para se amar uma gordinha, antes de mais nada
Faz-se necessário achá-la!
Não, não se acham gordinhas por aí!
Gordinhas são como um vinho muito raro,
Fruto de uma colheita precisa,
No tempo certo,
Da uva perfeita,
Da maturação exata.
Procure, converse com quem sabe,
Peça ajuda a quem tem!
E com toda a calma, achando uma,
Com o coração na mão,
Declare-se apaixonadamente!
Uma vez resolvido este problema,
Trate de aprender algumas coisas:
A diferença entre a sacarose e a sacarina,
Entre um almoço e um lanchinho,
Mas, principalmente,
Aprenda a diferenciar,
O "amor vamos comer uma coisinha!"
Do "querido, vamos fazer uma boquinha!"
Procure não misturar,
O ato com o prato,
O teso com o peso,
O come com a fome,
E trate de viver feliz e em paz!
JP Veiga
jpveiga@uol.com.br
Renascer às
avessas
Femina
No turbilhão do tempo
Me peguei mais solto
Sem perceber os dias,
deixei sem obstáculos, que
levassem meu viço.
Acentuam-se meus sulcos,
acentuam-se defeitos e as virtudes
agrupam-se na conformidade.
Mais experiente, preciso agora ser
tenaz e resistir aos lapsos de memória, para que seja útil meu
banco de dados.
Pareço ser duas pessoas distintas,
já não sei mais exatamente onde me fiz no que sou hoje.
Forjada no tempo e agora na
hipocrisia humana, sinto não poder ter essa magia de poder fazer
com que as pessoas vivam, pelo menos um dia, nesse corpo solto de
interesses vários, onde o sexo ocupa o lugar exato, nem mais, nem
menos.
Onde grito meu espaço.
Amo em segredo, num misto de menina
e anciã: pelo espelho, pela vida, pela escada do ônibus, pelo
descaso, pelo desacato, pela droga do preço da droga que me mantém
viva, pelo atendimento público mal feito,
serelepe ou conformista, não há
quem não tenha passado por isso uma vez, seja velha, ou menina.
Estás viva! Bebamos da fonte da
vida, tudo o que dela vir, como sempre foi.
Tire a roupa que se vê no espelho,
flácida e viva com a alma
desse ser perseverante e apaixonado que acaba de nascer.