CLARA DOS ANJOS

(Filha de Graciliano Ramos)

Esses artigos foram escritos no Diário Oficial do Estado de Alagoas em edição comemorativa do Centenário de Nascimento do escritor Graciliano Ramos - (1892-1992).

ÍNDICE DE COMENTÁRIOS

 

Petrona D. Rodrigues Pasqués
Vera Lúcia de Carvalho Csa Nova
Ivete Lara Camargos Walty
Maria Zilda Ferreira Cury
Maria A. Graça Paulino

 

     “Vamos ao que importa, ao seu Ritual para o mito da seca.É uma das boas coisas que já li sobre o Vidas Secas. Parece que estamos associados no interesse por esse livro e pelos mitos, que sempre me fantasiaram. Leio o seu trabalho, recordo os debates do Centro de Estudos Junguianos de Nise da Silveira _ e me pergunto se papai estaria acordado para os rituais do homem primitivo ou se eles lhe surgiram inconscientemente, durante a elaboração do livro. Talvez não tenham surgido. Há uma crônica do José Lins, narrando as circunstâncias em que  o conheceu, intitulada “ O homem que sabia mitologia”. Não creio que o Velho Graça tenha se limitado aos deuses do Olimpo. Esse assunto suscita uma enormidade de cogitações. Seria bom aprofundá-lo”.

     “ A idéia de transformar o Diário Oficial num Centro Cultural Graciliano Ramos me parece muito boa inclusive pelas perspectivas de intercâmbio com os centros de estudos literários do resto do país.Se o Sr. Governador conseguir concretizá-la poderá estabelecer ligações também com o exterior. Papai está sendo lido no mundo inteiro; houve uma época em que era mais lido em Portugal que no Brasil. Havia na Biblioteca Nacional um painel

 ( incompleto) das traduções, lembra-se?”

     ( CLARA RAMOS em carta ao professor Ubireval Alencar)

 


PETRONA D.RODRIGUES PASQUÈS,

Doutora em Letras. Professora da Universidade de Buenos Aires, Argentina.

 

     “ El escritor alagoano há realizado em esta obra, singular y profunda ( Vidas Secas)  un ejemplo magnifico de subjetividad e intersubjetividad recurriendo consciente o subcoscientemente al discurso indirecto libre (DIL), llevado em principio por Flaubert y luego por los más recientes novelistas contemporáneos a expresiones artisticas insospechadas”.

     “ Mucho se há repetido con respecto a Vidas Secas su característica de estrutura circular y el montaje de los capítulos intercambiables. Algo más profundo alienta en esa dualidad del lenguaje/ silencio, que intetamos penetrar”.

     Esse juego dialéctico entr la palabra y la mirada asume em los personajes de Vidas Secas uma dimensión que la coloca entre las grandes obras narrativas. EL DIL se ubica entre lo dicho y lo inefable. Mirada y palabra se enfrentan como a través de um espejo y muchas veces la mirada ennudece a la palabra. El monólogo interior los conjuga a ambos y así el supuesto autor omniscente no es tal sino que al expresarse em DIL se posesiona del personaje”.

 “ La  ‘ Imaginación constructiva’ sugerida modernamente por Collingwood y adoptada por Hayden White para la História y la ficción cobra em Graciliano Ramos um notable vigor”.

     “El caso particular de Baleia resume um cuadro de antropomorfismo. El aninal no sólo siente, también a y ésta es una característica no decir único literatura”.

 


VERA LUCIA DE CARVALHO CASA NOVA

Doutora em Teoria da Literatura e Semiótica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

     “As cartas de Graciliano Ramos são vistas a partir de um recorte que trata de Literatura e História, ao mesmo tempo que o corpo aí  inserido. A partir de excertos das Cartas a amigos e familiares, seleciono alguns temas teóricos, como a questão da  História Geral, da enunciação e do corpo na Literatura moderna, tentando mostrar as relações existentes entre esses temas”.

 


     IVETE LARA CAMARGOS WALTY

Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada.

 

“  O discurso do avesso_ uma leitura de Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos”.

“ Desgosta-me usar a primeira pessoa. Se se tratasse de ficção, bem; fala um sujeito mais ou menos imaginário; fora daí é desagradável adotar o pronomezinho irritante, embora se façam malabarismos por evitá-lo. Desculpo-me alegando que ele me facilita a narração. Além disso não desejo ultrapassar o meu tamanho ordinário. Esgueirar-me-ei para os cantos obscuros, fugirei às discussões, esconder-me-ei prudente por detrás dos que merecem patentear-se” ( RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere . Rio de Janeiro, Record, 1987, p.37v.1).

Comentário: “ Esgueirar-se, fugir, esconder-se _ três verbos revelados de um jogo montado pelo eu textual: um jogo a (des) velar suas regras. O que pretendo, com minha leitura, é participar do jogo, na busca desse eu atrás dos outros, desse narrador escondido, posto em plano secundário”, no dizer de Nelzon Werneck Sodré.

“ O que me interessa, pois, é a construção do texto, a posição do narrador assim como as formas escolhidas para elaborar os fatos narrados, considerando o discurso enquanto lugar social, lugar de interação entre o social e o individual, donde eus diversos circulam entre a lei da sintaxe e a sintaxe da lei”.

 


MARIA  ZILDA FERREIRA CURY,

Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo.

“ Infância: a memória em fragmentos”

“ A partir da análise de Infância, de Graciliano Ramos, intenta o trabalho refletir sobre a reconstrução do sujeito das memórias_ sempre uma infância ficcional _ enquanto empresa destina à falência. Procurará, também, evidenciar as burlas do narrador através dos pactos  de leitura que estabelece no texto, bem como  a inevitabilidade do par eu/outro quando se ocupa o espaço das memórias. O eu que o narrador intenta ficcionalmente recuperar continuamente se desloca, para constituir-se, para outras personagens de cujo olhar depende sua recuperação passa – o espaço da infância - presente - o espaço de explicitação de uma poética”.

 


MARIA A GRAÇA PAULINO

Doutora em Teoria da Literatura.

 

“Interação dialógica em São Bernardo

“Proponho-me analisar o modo de inserção de Paulo Honório nas esferas publicas e privadas burguesas para determinar em que medida tal processo se relaciona a posturas políticas e estéticas de Graciliano Ramos”.

“Tal análise evidencia o funcionamento dialógico das várias instâncias enunciativas atuantes em São Bernardo, para além das marcas do enunciado ficcional. Por isso, demonstro como essa interação teria efeitos na história da recepção da obra, a ponto de já se terem sedimentado estratégias de leitura crítica que não se voltam para o mero reconhecimento de sentido nesse romance, mas passam, quase sempre, pela reconstrução da polissemia do seu trabalho de criação literária: erudito/rude; distanciador/sedutor; mítico/crítico”.

 

Artigos extraídos do Diário Oficial do Estado de Alagoas

Maceió, 27/10/1992.

"D.O. DOCUMENTO"