Em
1953, surge o primeiro dos quatro volumes de “Memórias do Cárcere”.
A metáfora da tirania (...) é superlativa de toda sua obra, além de
definir a noção que o autor formou do homem e seu destino trágico.
Ampliando nossa análise, digamos que os acontecimentos trágico-políticos,
nos quais ele se envolveu, e sem saber por quê, tenham servido para
quê sua visão de mundo ainda mais pendesse para a certeza da
dramaticidade. Desnecessário traçarmos limites rígidos entre
confissão biográfica e testemunho histórico nesse momento. A
unidade final sempre cairá no realismo. Eis o Brasil de 1930, sob a
vista de quem o viveu em porões imundos: misérias, torturas e
degradações perpetradas pelo, ironicamente chamado, ESTADO NOVO. O
discurso é realista também porque acolhe o real e desdobra-o em duas
formas: do documentário ao psicológico, e do particular ao
universal. Claro, tudo isso sob a égide da opressão. Veja o seguinte
trecho da obra: “O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que
futuro nos reservariam? Provavelmente não havia lugar para nós, éramos
fantasmas, rolaríamos de cárcere em cárcere, findaríamos num campo
de concentração. Nenhuma utilidade representávamos na ordem nova.
Se nos largassem, vagaríamos tristes, inofensivos e desocupados,
farrapos vivos, fantasmas prematuros; desejaríamos enlouquecer,
recolhermo-nos ao hospício ou ter coragem de amarrar uma corda ao
pescoço e dar o mergulho decisivo. Essas idéias, repetidas,
vexavam-me; tanto me embrenhara nelas que me sentia inteiramente
perdido.”