SITUATION AWARENESS

Um exemplo prático da guerra de informações é a (Situation Awareness -  SA). A SA é inerentemente local e pode ser bem exemplificada no combate aéreo. A SA é o pré-requisito mais importante para assegurar a vitória no combate aéreo moderno.

Na 1GM, Oswald Boelcke percebeu que era necessário outro par de olhos para cobrir a parte traseira com cobertura mútua. Surge então o conceito de Ala. Ele percebeu a importância de atacar com várias aeronaves coordenadamente, distribuindo os alvos entre as aeronaves, comunicando as opções de ataque para evitar engajar o mesmo alvo por várias aeronaves, coordenar lançamento de armas, voar continuamente sem perder contato e evitar fogo amigo. Antes isto era quase impossível e atulamente é rotineiro.

Os ases antigos eram habilidosos em manter a SA. Eles sabiam quando era o momento de atacar e quando voltar para base. Eles conheciam a capacidade do inimigo e detectavam o inimigo antes de serem detectados. Eles conheciam seu ala e sua posição o tempo todo e sempre tinham um plano de ataque.

A SA pode ser descrita em termos de 4 níveis progressivos:
Nível 1 - "Eu não sei onde ele esta ou o que esta fazendo mas ele sabe sobre mim";
Nível 2 - "Eu não sei onde ele esta ou o que esta fazendo mas ele também não sabe sobre mim";
Nível 3 - "Eu sei onde ele esta ou o que esta fazendo e ele também sabe sobre mim";
Nível 4 - "Eu sei onde ele esta ou o que esta fazendo e ele não sabe sobre mim".

O objetivo é atingir o nível 4 quando é conseguido surpresa e se tem a iniciativa e controle do combate. Isto foi conseguido em 1982 no Vale do Bekaa pela Força Aérea Israelense contra os sírios. Nos combates, foram coordenados 42 engajamentos com F-15, F-16 e F-4 contra os Mig-21 e Mig-23. Um nível mais sofisticado foi conseguido em 1991 pela a USAF contra os iraquianos com 34 vitórias para os aliados.

No Vale de Bekaa, a FAI usou interferência de comunicações e de radar e despistadores para debilitar a SA dos sistemas de alerta antecipado, vigilância e C2 dos Sírios. Os pilotos sírios eram "cegados" logo após decolarem só tendo consciência do que viram nos seus sensores e através cockpit não tendo a mínima chance contra os Eagles e Falcons. Os pilotos is
Israelenses relataram apenas 2 perdas de SA nos debriefings.

Resultados semelhantes foram conseguidos pela USAF no Iraque. Só ocorreu 1 perda de SA que resultou na derrubada de um F-18 por um Mig-25 na primeira noite da guerra. O grau de coordenação foi evidenciado pelo alto número de vitórias pelos AIM-7 Sparrows(e um míssil ramjet experimental secreto) que precisavam de coordenação pelos AWACS e identificação eletrônica.

Porém, é preciso lembrar que não é preciso conseguir o nível 3 de SA, também é necessário degradar a SA inimiga para conseguir o nível 4. O inimigo obviamente estará trabalhando para fazer o contrário.

A "bolha de SA" mudou desde a 1GM. Os 5-8 km, no limite do alcance visual, e a região crítica de 600 m atrás da aeronave(zona de engajamento crítica) foi mantida até a guerra da Coréia. Ela pode ser multiplicada por 100 na atualidade se for considerado os sensores externos da aeronave que fornecem dados ao piloto.

A bolha aumentou inicialmente para 35 km com o aparecimento dos radares e a zona de engajamento crítico foi multiplicada por um fator de até 5 com o aparecimento dos mísseis ar-ar. Os mísseis ar-ar guiados por calor com capacidade "all-aspect" e lançamento "off-boresight" mais os mísseis ar-ar de longo alcance, aumentaram a zona de engajamento crítico para um setor de 360 graus e aumentaram a bolha de SA para além de 100km.

Após a decolagem, a SA aumenta com a recepção de dados do GCI e sensores internos. Como encontro e contato visual é atingido o pico da SA. Após isso a SA desaparece. O radio se torna saturado e o ala desaparece.

Por que a SA é mais importante que outros fatores como manobra básicas de vôo, apoio mútuo ou armas letais?
A capacidade de combate aéreo pode ser determinada por 4 fatores:
1 - Conseguir surpresa e evitar ser surpreendido pelo inimigo;
2 - Trabalho de equipe;
3 - Habilidade de sobrepujar o adversário em manobras;
4 - Armas letais

O primeiro fator pode ser determinado pelo fato de 75% dos pilotos derrubados não saberem que estavam sendo atacados. Isto é verdade no passado. E no futuro? O que poderá ocorrer com o aumento da letalidade das armas como o AIM-9X, Python 4, ASRAAM, IRIS-T, A-DART, R-73, R-77, AMRAAM?

Durante os testes do míssil AMRAAM, um dos fatores encontrados que influenciava de forma determinante o resultado dos engajamentos era a SA, sem considerar a aeronave ou arma empregada e quem pilotava. O míssil se mostrou melhor do que outros como o AIM-7, mas alguns pilotos sempre obtinham melhores resultados que outros e a experiência(horas voadas, medalhas, etc) não influenciava. Outros fatores foram estudados como instrutor e ultima missão voada, mas nada se relacionava com a razão de vitórias. O problema só se tornou claro quando foi definido em termos de SA. Os pilotos que tinha a melhor SA durante os testes eram os que tinham o maior número de "vitórias" e sobrevieram por mais tempo. Os que tinham pouca SA morriam rápido e primeiro. A aeronave não influenciava(F-14, F-15 e F-16) e nem o lado em que jogavam(time azul e vermelho).

Dados antigo mostram que os 10 maiores ases da Luftwaffe obtiveram 2.568 vitórias e os 300 melhores pilotos destruíram mais de 30.000 aviões russos. Os pilotos aliados voaram por bem menos tempo, mas seus scores foram semelhantes. De 5.000 pilotos de caça que voaram pela 8a Força Aérea entre 1943-45 na Europa, apenas uma dezena se tornou Ás. 2.156 pilotos (40% do total) obtiveram 5.284 vitórias. 13,7% obtiveram 5 ou mais vitórias e 2,6% conseguiram mais de 10.

Os resultados se repetiram na Coréia onde 1.000 vitórias foram conseguidas, sendo 900 pela USAF. Menos de 5% dos pilotos conseguiram abater outra aeronave. 42 ases obtiveram 329 ou 36% das vitórias. 11 ases(26%) conseguiram mais de 10 vitórias e apenas 5 foram derrubados e 1 capturado.

A guerra do Vietnã tem poucos dados(200 vitórias) e 5 ases não tem significância estatística. 1 piloto conseguiu 6 vitórias e 13% dos 205 pilotos que conseguiram vitórias conseguiram derrubar 2 ou mais aviões e 5 tripulantes conseguiram 5 vitórias.

Na Guerra do Yom Kippur, 30% dos pilotos conseguiram a maioria das vitórias e 5% conseguiram mais de 10.

Na guerra de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão durante a ocupação russa, 5 pilotos paquistaneses de F-16(6% dos pilotos) conseguiram 12 vitórias entre os 80 pilotos destinados a voar missões na área. Os mesmos 5 pilotos estavam no ar na maioria das 30 oportunidade de engajamento.

Tecnologia

Num ambiente de combate aéreo onde a bolha de SA pode ser de mais de 100km, a tecnologia dos aviônicos, comando e controle, informações(data link seguro e IFF) e eletrônicos de combate(radar, IRST, EW) esta se tornando cada vez mais importante.

Para se obter melhora na SA é importante investir em 4 áreas: seleção dos pilotos, tecnologia, treinamento e táticas. A tecnologia é fácil de se conseguir através de aviônicos avançados para ajudar o piloto a gerenciar informações e reduzir a carga de trabalho.


Os caças atuais são equipados com sistemas de apoio a decição, geralmente a tela do centro, que sintetiza dados dos sistemas internos e informações recebidas por data links de maneira a facilitar a tomada de decisão pelo piloto. Na foto mostra o cockpit do F-22.

A tecnologia dos MFDs esta disponível desde 1985 mas ainda esta em fase inicial de implantação. O Gripen é o caça em operação mais avançado em termos de aviônicos. Os aviônicos e sistemas do Gripen, internos e externos, aumentam em muito a SA do piloto.

Os caça atuais de 4a geração se caracterizam por terem  todos os sistema de bordo se comunicam um com o outro por via de infraestrutura digital, de modo que  a efetividade do piloto e sua SA seja maximizada assim como o manuseio e performance da aeronave. A base do poder do Gripen seria o seu sistema de data-link. Os dados obtidos dos sensores da aeronave e de sensores externos(Erieye, radares no solo e outros caças p.e.) são mostrados numa tela com um mapa móvel no fundo. É possível saber as condições de outras aeronaves da formação como combustível. As "kill" zones dos armamentos amigos e inimigos são mostradas para auxiliar em táticas e engajamentos e disparar armas apontadas por outras aeronaves fora do alcance do inimigo. Uma imagem de radar do solo pode ser transmitida para uma segunda onda de aeronaves atacantes que pode ter uma melhor visão do alvo e saber quais alvos já foram atacadas.  Esta mesma imagem pode ser transmitida para o centro de comando para formar um quadro mais geral da situação e decidir quais seriam os próximos passos.

Sistemas equivalente poderão ser encontrados futuramente em todas as plataformas além dos navios e aeronaves. Já estão sendo instalados em tanques e até mesmo em combatentes terrestres.


Marine 2010. Os soldados do futuro também terão um sistema de C2 integrado.


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