Enquanto isso, no tablado de madeira clara e
brilhante, Taylor tocava Disagree, do Pushing Daisies. A ausência de conversa na mesa fez o rosto
da Patty voltar-se para o palco. Olhando para ele, a Futemminha refletia... Foi
exatamente como ela imaginou: o Taylor estava diferente. Os cabelos loiros
estavam mais curtos, porém continuavam caindo em seu rosto. Seu porte físico
havia evoluído de magro-saradinho para consideravelmente-forte. Os ombros, os
braços, as pernas... O Tay continuava malhando. O jeito de se vestir permanecia
o mesmo "arrumadinho e irresistível". Nossa, fazia tanto tempo... E que saudades
de namorar aquele garoto. Filho de uma puta... Por que tinha que nascer tão
bonito?
Cada vez que ele virava para o público e sorria, ou direcionava o olhar
para a Beatriz e mandava-lhe um beijinho, a Patty recordava-se de algum momento
do passado em que o Cumprido tinha demonstrado a mesma afeição e meiguice em
relação a ela.
Até aquele momento, a Patrícia escondia seu rosto sob os cabelos. Por
estar usando-os de lado, a franja comprida cobria quase metade do rosto. Em
outras palavras, o esconderijo perfeito. Porém, ao lembrar de tudo o que vivera
ali, das coisas boas e até mesmo das experiências ruins, a Patty não sentiu mais
vergonha de estar ali. E isso a proporcionou um alívio daqueles genéricos
mesmo.
Terminando a canção, Taylor foi aplaudido. Depois de cessarem os pedidos
de "toca aquela", ele começou a tocar a música Right Here Waiting For You, do Richard Marx. Canção antiga, romântica... Até piegas se
você quiser. Mas na voz do Taylor e no seu violão, a música transformou-se em
algo perfeito, que fazia os olhos dos mais sensíveis encherem-se de lágrimas. E
foi nessas que a Patty não segurou. Abrir o berreiro ela não abriu, até por que,
ela não podia fazer tal escândalo. Mas não teve como não dar uma choradinha.
Estava bonito demais.
E o Taylor tocou muitas outras músicas, cada uma passando pela
transformação suave do antes e depois de encontrar-se com a voz do Cumprido e
sua habilidade com o instrumento. Foram tantas outras músicas que a Patty
esquecia-se de vez em quando da presença dele ali na sua frente, e empolgava-se
a falar com o Zac e com a Ló. Tudo acompanhado de uma bebidinha aqui, outra
ali... A Lary e a Belle conversavam mais entre elas, mas nem por isso o ambiente
na mesa tornava-se menos interessante.
Até que o Taylor, entre uma música e outra, disse:
- Bom, agora, a última.
O público se manifestou com um "aaaaa" de lamento.
- Guys, I need to be with my girl, ok? -
Todos riram. - Eu vou terminar
hoje com uma música que tem um significado especial para mim porque... Porque me
trás lembranças muito legais.
As conversas paralelas cessaram e cada ácaro dentro do The SS
passou a prestar atenção no
loiro em cima do palco.
- Quando eu tinha 19 anos, eu me apaixonei
por uma garota. - O Taylor respirou fundo. - Pela primeira vez na minha vida eu
senti o que é se importar com alguém de verdade, o que é precisar tanto de uma
pessoa a ponto de você decorar o cheiro do cabelo dela e lembrar-se disso todas
as noites, antes de dormir.
- Oh God... - a Patty
sussurrou.
- E naquela época, eu me declarei para ela,
mas ela não me dava nenhuma resposta, não me dizia nada...
- Ele sabe que você está aqui - o Zac falou
para a Patty, sem tirar os olhos do irmão.
- Ah, meu Deus. Meu Deus, meu Deus, meu Deus
- a Patty repetia em voz baixa. - Mas coomo ele sabe? - perguntou para o Zac. -
Como? Não tem como ele saber.
- Não sei, mas ele sabe - o Zac respondeu. -
Ele nunca fez esse tipo de coisa.
O Taylor continuou:
- ...eu a procurei para conversar do assunto
e ela não me dizia nada.
- Que garota estúpida! - uma das fãs do
Taylor berrou lá de trás.
Então todos no The SS riram da tal garota burrinha da história do
Taylor que demorou tanto para aceitar o pedido de namoro. Mal sabiam eles que a
garota burrinha estava presente. E que estava sob os efeitos do álcool. E
adivinhem? A garota burrinha levantou espontaneamente e se manifestou:
- Ela não é estúpida! - gritou.
- Quando ela bebe, ela fica corajosa - a
Lary cochichou com a Belle.
Silêncio no bar. A Patty terminou:
- Ela só estava confusa, ué! Não sabia o que
sentia por ele!
A Beatriz ria em sua mesa, feliz da vida. Já gostava quando seu namorado
virava assunto principal de várias pessoas; de um bar inteiro então, era um
delírio para a menina. Às vezes a Beatriz mais parecia agir como assessora de
imprensa do Taylor do que como sua namorada. Gostava de vê-lo sendo badalado,
pois isso necessariamente queria dizer que ela também seria mencionada num
momento ou em outro. Coisas da Beatriz...
Então a Patty sentou. E após raciocinar alguns milésimos de segundo,
percebeu a cagada que tinha feito. Desde que chegara, havia se esforçado tanto
para ser confundida no meio do povo de Tulsa e não chamar a atenção... Agora
tinha estragado tudo porque era o mais novo destaque alcoolizado do lugar.
O Taylor no palco apenas sorriu. E continuou:
- Esclarecendo então: a garota não era
estúpida. Ela estava apenas confusa. Bom, depois de tentar por uma ou duas
semanas conversar com ela, eu decidi fazer uma serenata. E assim que eu terminei
a serenata, ela desceu para falar comigo e nós começamos a namorar aquela noite.
A música que eu toquei foi essa aqui.
E suavemente, passou a dedilhar as primeiras notas de Hanging by a Moment, do grupo Lifehouse.
- Cretino - a Patty sussurrou, olhando para
o Taylor. Ih, já estava brava de novo.
O Zac riu. E disse:
- E eu achei que nunca mais fosse te ver
alegrinha, dona Patoríxia.
- Eu não estou alegrinha. Inclusive, eu
estou muito da indignadinha.
- Calma, Patty, respira, vai - a Lary
pediu.
- Estúpida... Huh, imagina. Estúpida.
Estúpida é a mãe deles!
- Tudo bem, Patty, não liga para esse povo -
a Ló disse. - Bando de idiotas.
Então eles ali na mesa passaram a prestar atenção no Taylor cantando a
música da vida da Patty. Ela fechou os olhinhos puxados e lembrou-se da
serenata. Quanto tempo já havia se passado... Mas a alegria que enchia o peito e
a saudade continuavam tão recentes como se tudo estivesse acontecendo naquele
instante.
A Lary e a Belle não quiseram atrapalhar as reflexões da amiga e saíram
dar umas voltas sem avisa-la. A Ló queria porque queria batata-frita. O Zackito
levantou para providenciar para a sua amada de coquinhos. E quietinha, a Lynne
ficou observando a Patty assistir ao seu passado melódico. Sorrindo, colocou a
mão sobre o ombro da Futemminha, tirando-a de láááá da sua casa de telhado azul,
a rua escura e a voz do namorado ecoando pelos lares, fazendo-a retornar ao
The SS.
- Doce, não é? - a Ló disse.
- Doce...? - a Patty não entendeu.
- É. As suas memórias. Tudo o que você viveu
aqui.
A Patty sorriu e olhou para baixo. Direcionou o olhar para o Taylor no
palco e voltou-se para a Ló:
- Não cansa de lembrar. É bom recordar o
quanto eu fui feliz aqui.
- Eu entendo... Eu também sentiria o mesmo
se tivesse ido morar em outro lugar, voltasse tanto tempo depois e desse de cara
com o Zachary. - Pausa. - Bom, tudo bem que ele JAMAIS teria feito uma serenata
para mim, mas enfim...
A Patty riu.
- Vocês estão felizes?
- Muito - a Ló respondeu. - Tanto que às
vezes me dá até medo.
- Por quê?
- Ah, coisa de garota mala sem alça... - a
Ló brincou. - O Zac é uma pessoa linda, Patty. Ninguém podia me fazer mais feliz
do que ele.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro, Patty, o que você quiser.
- Alguma vez, durante o namoro de vocês,
alguma garota obcecada no Zac tentou...
- ...me agredir?
- Isso.
- Não - a Ló respondeu, sorrindo com
carinho. - Eu sei tudo o que você passou quando namorava o Taylor... E juro,
fiquei com medo que acontecesse comigo também. Mas graças a Deus, não
aconteceu.
- E por quê? Por que só aconteceu comigo?
Quer dizer, não que eu queira que tivesse ocorrido algo de ruim com você, mas...
Poxa, eu não entendo! Na época, eu lembro que nunca sequer olharam torto para a
Isadora. E você e o Zac viviam juntos pra cima e pra baixo e nenhuma garota
mexia com você.
- Eu não sei explicar direito, Patty, mas eu
acho que o número de garotas que veneravam o Isaac e o Zac na época era
ridiculamente menor que a quantidade infinita de meninas que eram obcecadas pelo
Taylor. E mesmo assim, ainda tinha o detalhe de que eram grupos de perfis
diferentes. Quer dizer... O Taylor sempre foi... Ahm, conquistador, entende? - A
Ló falava cuidadosamente para não acontecer de a Patty se magoar.
- É, eu sei...
- E isso alimentava nas mulheres daqui uma
esperança, um sentimento de "ele é nosso". O Isaac é mais na dele. O Zac então,
não conversa nem com a mãe direito. Por isso, os dois não passavam tanta
confiança, como o Taylor passava e passa até hoje.
- Eu fui namorar justo com o mais
complicado...
- Acredite, Patty. Esse cargo é meu.
A Patty riu. E perguntou:
- O Zac não é muito romântico, é?
- O Zackito? Jamais.
- E você não sente falta de romantismo?
- Não é o romantismo que faz você gostar de
alguém, Patty. Se o Zachary fosse romântico, talvez eu não gostaria tanto
dele.
- Entendo.
- E é engraçado porque quando ele diz
qualquer coisinha diferente, demonstra do jeitinho dele que gosta de mim,
nossa... Pra mim é tudo. É como se ele tivesse feito mil serenatas.
A Patty sorriu. A Ló continuou:
- Como o dia que ele disse "eu te amo" para
mim pela primeira vez. Eu esperava até um alienígena gordo, de bolinhas pretas
cuspindo moedas, mas não esperava que ele fosse dizer tudo aquilo naquele
momento.
- Como foi?
- A gente tinha saído para passear aquele
dia à tarde. Quer dizer, o Zachary foi meio que obrigado, tadinho, porque eu
resolvi que queria andar de mãos dadas com ele pela cidade. E lógico, nós fomos
a pé. Depois de uns quinze minutos reclamando, ele até que entrou no espírito e
esqueceu de ficar emburrado. Quando a gente já estava bem longe da minha casa e
da dele, começou um toró. Patty, eu achei que fosse cair o céu. Chovia tanto,
mas tanto... E nós começamos a correr para voltar para casa.
- Ai, merda de
chuva!
- Pára de reclamar
e corre, Zachary! - a Ló berrava por causa do barulho alto da água batendo na
superfície.
E corriam, corriam... Até que o Zac empacou:
- Pára! Pára
tudo!
- Que foi,
Zachary?
- O que adianta a
gente correr? Nós já estamos ensopados mesmo.
- Mmm... É, faz
sentido.
- Vamos andando,
vai. Não adianta gastar energia à toa. Até nós chegarmos na minha ou na sua
casa, nós já vamos estar morrendo. Está longe ainda.
- Tudo bem.
Silêncio. Eles então foram andando debaixo da chuva, calmamente... Até
que: outra parada.
- Zackito! - a Ló
teve uma idéia. - Liga para os seus irmãos virem buscar a gente de carro.
- Puxa, Malinha,
você até que funciona de vez em quando.
- Obrigada - ela
sorriu, faceira.
O Zac pegou o seu celular para ligar, porém estava completamente cheio
d'água.
- Eu nunca ia
poder jogar "Jóquei Pô" com essa merda de celular.
- O que houve? - a
Ló perguntou.
- Olha aí, parou
de funcionar. Isso porque é só água. Imagine quando vier a tesoura ou a
pedra...
- Ai, e não tem
nem um telefone público por aqui...
- Celular
inútil.
- E agora?
- Ah, agora a
gente senta, toma um cafezinho, pede uns brioches... - o Zac satirizou. - Você
vê opções por aqui, Lynne? Vamos andar, o que mais?
- Tá bom, tá
bom...
Depois de mais alguns minutos de caminhada, eles finalmente chegaram na
casa da Ló. Tocaram a campainha, tocaram, tocaram... E genialmente perceberam
que não havia ninguém em casa.
- Ai... E eu não
trouxe a chave - a Lynne confessou.
- Você não trouxe
a chave da sua própria casa? - o Zac se indignou.
- Ai, Zachary, não
briga comigo... Eu esqueci de trazer.
O Zac respirou fundo. E disse:
- Tudo bem, a
gente senta aqui esperar o seu pai chegar. Ele não vai demorar muito, vai?
- Acho que
não.
- Se ele demorar
demais, a gente anda mais um pouco e vai para a minha casa.
- Tá...
Sentaram-se na varanda da casa, encharcados, cabelos pingando, sapatos
fazendo "blósh" quando os pés pisavam no chão.
Envergonhada, a Ló não falava nada. Ela não queria ter esquecido a chave
em casa, mas é que na correria de ver o Zac logo, acabou deixando seu chaveiro
sobre a escrivaninha. "Burra, burra, burra", ela pensava. Percebendo que a
namorada tagarela estava quietinha e estava sentindo-se mal, o Zac sentiu-se
também.
- Lynne,
olha...
Ela parou e o olhou.
- Foi legal até
você ter esquecido a sua chave em casa. É, foi bom. Pense. Se você não tivesse
esquecido, nós não poderíamos estar aqui... Ahm... Olhando para a chuva e...
Curtindo a natureza e... Bom, se você quiser, nós podemos até discutir a nossa
relação. Quer dizer, eu sei que mulher adora essas coisas e...
A Ló olhou para ele e riu:
- Obrigada,
Zackito. Você é um amor, sabia?
- Eu tento.
Ela segurou a mão dele. Silêncio de novo.
- Zackito...?
- O que foi?
- Eu estou com
frio.
- Dança o xaxado
que passa.
- Zachary!
- É brincadeira, é
brincadeira - ele riu. - Quer sentar no meu colo?
- Quero sim.
A Ló sentou nas coxas do Zac e se aninhou no namorado, deitando com a
cabeça em seu ombro, encostando a pontinha do nariz no pescoço do Zac. Ele a
envolveu inteirinha com os braços e a apertou junto de seu corpo, desejando de
todo o coração poder esquenta-la e fazer aquele frio passar.
- Desculpe por ter
te obrigado a passear comigo hoje - ela disse.
- Tudo bem... O
seu resfriado amanhã vai ser a minha vingança.
Rindo, ela deu um tapinha de leve no peito dele.
- Mas foi legal,
não foi? - a Ló disse. - Até a parte em que começou a chover, estava
divertido.
O Zac ficou em silêncio um tempão. Quando a Lynne já até tinha esquecido
do que havia dito, ele comentou baixinho, um pouco sem jeito:
- Para mim, a
parte mais legal do dia está sendo agora.
A Lynne abriu um sorriso no rosto e deu um beijinho no pescoço do Zac.
Silêncio de novo. Ai, estava tão gostoso ali... Tudo bem que estava frio, eles
estavam molhados, mas o momento era perfeito. O barulhinho da chuva forte, os
ping-ping's mais altos que escorriam da calha e caíam na calçada, o cabelo do
Zac tocando a testa da Ló, a mão dele segurando forte a mão da namorada, ele a
abraçando firme para espantar o frio da garota que ele gostava. Definitivamente,
a Lynne estava apaixonada por aquele menino grosseiro e gordinho.
- Lynne?
- O quê? -
ansiosa, pois já sabia o que ele ia dizer.
- Cara... -
suspirou. - Eu estou com uma fome, sabia?
E o prêmio de brochada do ano vai para... Alynne Lóide Green!
- Fome, Zachary?
Fome?!
- É, ué. Fome.
Ausência de comida no estômago. Carência de nutrientes. F-o-m-e. - Ele deu de
ombros, não compreendendo. - Pela sua cara, parece que eu disse "eu tenho uma
clínica ilegal de aborto".
- Deixa pra lá...
- Então se levantou do colo dele.
- O que foi? - o
Zac perguntou. - Por que saiu?
- Não, nada.
- Eu não sei se
ficou muito claro, mas... Eu não tenho uma clínica ilegal de aborto.
- Ai, eu sei.
- Então por que
ficou brava de repente?
É, não tinha jeito de enfiar na cabeça do Zac os sentimentos femininos. E
a Ló não podia querer que ele entendesse, de um dia para o outro, que o mais
desejado por ela naquele relacionamento era descobrir como o Zac se sentia em
relação a ela. O problema é que se dependesse da boa vontade do Zackito, isso ia
dar uma demorada.
- Desculpe, eu
acho que eu devo estar com fome também.
- Você ficou brava
comigo por que está com fome também?
- Ahm... Acho que
sim.
- Mas... Calma.
Foi por que eu fiquei com fome antes de você?
- Não, Zachary -
riu. - Esquece, vai... - a Ló disse, sentando-se ao lado dele novamente.
- Eu não gosto
quando você fica brava comigo assim, do nada - ele confessou. - Sei lá, eu fico
preocupado.
- Com o quê?
- Lynne, eu tenho
noção de como eu sou. Eu tenho noção de que eu não sou exatamente o cara mais
meloso com quem você já namorou. E... Bom, eu nunca sei quando eu fiz algo que
te deixou triste.
- Tudo bem,
esquece isso - a Ló falou, tentando deixa-lo o mais tranqüilo possível.
Silêncio.
- Quer dizer, você
sabe... - o Zac então continuou. - Ás vezes eu falo demais, acabo te deixando
puta comigo, mas eu juro que é sem intenção de te deixar brava...
- Tudo bem,
Zachary. Esquece isso - ela repetiu, sorrindo.
- Eu sei que eu
deveria dizer as coisas certas em certas horas, mas eu acho que elas
simplesmente não vêm à minha cabeça por eu ser assim como eu sou e...
A Ló não interrompeu mais porque percebeu que ele queria chegar a algum
lugar. Não era sempre que dava esses ataques no Zac de falar o que estava
pensando. Era preciso aproveitar. Porque outro igual a este, só no próximo ano
bissexto.
- ...eu me
esforço. E... Olha, eu não quero que você pense que, sei lá, eu não estou
gostando de estar com você. Não é porque eu sou assim e não é porque eu talvez
demonstre menos do que você espera, que eu não estou curtindo o que está
acontecendo. - Ele respirou fundo. - E também, eu nunca namorei por mais de um
mês. Se eu ainda estou com você é porque o que eu sinto é sincero. É sério, é
sério. Eu estou explicando isso porque eu não quero deixar nenhuma dúvida. Eu
sei o que eu sinto e mesmo não estando pronto pra dizer o tempo todo, eu queria
que você soubesse. Afinal, você pode até chegar a pensar que está namorando um
cara que te deixa na dúvida e, bom, não é isso. Você está entendendo? Não é
isso. - A Ló sorria ouvindo ele falar tanto. - Não é mesmo, é sério. Agora você
pode estar se perguntando "o que afinal ele sente por mim?". E eu te digo que o
que eu sinto é... É muito legal. É legal e eu gosto de sentir... Isso que eu
sinto.
- Ahan...
- E sei lá... Eu
poderia até resumir isso tudo que eu estou falando, eu estou falando demais?,
mas eu acho que é melhor deixar tudo explicado para que você fique sem dúvida
alguma sobre o que eu sinto. Antes eu dizia que era afim de você, que gostava de
estar com você... Mas hoje, se me perguntassem agora "E aí, Zac, o que você
sente pela Lynne?" eu com certeza responderia na hora, sem pensar. Eu
responderia bem rápido mesmo, sem gaguejar. Eu diria para esta pessoa "O que eu
sinto pela Lynne é muito, muito legal". E diria: "Porque eu acho que...", não,
eu não diria "eu acho", eu diria com certeza que eu amo a Lynne. Que eu amo a
Lynne e amo muito. Aí a pessoa poderia perguntar...
Então, a Ló o interrompeu com um beijo. E disse:
- Tudo bem,
Zackito. Você já disse o que eu queria ouvir. Não precisa explicar mais
nada.
- Sério?
- Sério. Eu já
entendi tudo.
- Que bom. Eu já
estava me sentindo idiota falando tanto.
- Será que ao
invés de dizer para a "pessoa" - ela fez aspas com os dedos. -, você poderia
dizer para mim o que você sente?
O Zac riu. E disse:
- Dizer o quê? Que
eu amo você?
- E foi assim, Patty - a Ló sorriu. - Pra
você ver que esses momentos importantes na vida de uma garota nunca acontecem no
momento em que ela quer. Eu jamais imaginei ouvir do Zachary o que eu sempre
quis ouvir dele, naquele hora: eu encharcada, morrendo de frio, descabelada e
presa para fora de casa. Aquele toró, sem pôr-do-sol, sem música de fundo, sem
jantar à luz de velas.
- Eu não sei se sou eu que estou muito
sensível estes dias, mas eu achei lindo, Ló - a Patty sorriu.
- Aqui está a sua batata-frita - o Zac já
chegou falando.
- Obrigada, Minha Tortinha de Limão - a Ló
agradeceu, dando um beijo no Zac.
- Pô, Lynne, não fala isso na frente dos
outros.
- Eu estava aqui justamente falando de você,
sabia?
- Você adora falar de mim - ele sorriu, todo
metido.
- Eu estava contando do dia em que você
disse pela primeira vez que me amava.
Nossa, o Zac ficou imóvel. E começou a resmungar um monte de coisas, que
traduzindo na linguagem do Zackito, queria dizer que ele estava envergonhado. A
Patty só ria. E enquanto o casal se resolvia, ela voltou a prestar atenção no
show do Taylor.
Após mais algumas músicas, o Taylor agradeceu e parou de tocar. O pessoal
fez um coro de aaaaa's decepcionados, mas o Cumprido precisava ficar com a sua
namorada aniversariante, não tinha jeito. Porém, antes de sair do palco, ao que
tudo indicava, o Taylor pararia alguns minutinhos para conversar com a Patty e
revê-la. Ela até já começou a ajeitar os cabelos, arrumar a saia, limpar os
dentes... Mas que nada, o Taylor passou foi é muito reto. Para ser mais
específica, ele não chegou nem a passar perto. Ai, que desânimo que deu na
Futemminha...
- Não quer beber alguma coisa, Patty? - o
Zac perguntou, meio rindo.
- Não, obrigada. Depois deste ponto, eu
passo de engraçada para desagradável.
- Tudo bem - ele riu. - Está gostando
daqui?
- Está muito legal. Muito mesmo. Eu só
queria saber onde é que está o Isaac...
-
Provavelmente emitindo uns 700 "sejam bem-vindos" por segundo em algum lugar
daquela entrada - o Zac falou, apontando para a porta principal do The SS.
- Ele disse que assistiria ao show comigo,
mas o show já acabou, já passou outro show e nada dele.
- Espera aí, Patty - a Ló disse, levantando.
- Eu vou procura-lo pra você.
- Ló, imagina, não precisa.
- Eu sei que não, mas eu quero.
- Você vai sozinha? - o Zac perguntou, não
gostando muito.
- Vou sim.
- Bom, então você já sabe do esquema.
- Sei sim. - Beijou-o na boca. - Já venho
aí, gente.
- Que esquema seria esse?
- Caso algum idiota dê em cima dela, ela
liga no meu celular, eu vou até lá e mato o desgraçado.
- Simples assim? - a Patty se assustou.
- Simples assim.
- Ela já precisou dos seus serviços de
namorado-extra-ciumento alguma vez?
- Não, nunca. Mas eu tenho que admitir que,
quando ela finalmente precisar, será bem interessante.
- Sabe, Zac, Você de vez em quando me
assusta.
- Eu não sou uma gracinha? - disse sério,
tomando um gole da bebida.
- Ô...
- É por isso que ninguém nesta cidade ousa
chegar perto dela.
- Ela não te chama porque ela sabe se virar
sozinha.
- Como assim?
- Ora, Zac. Uma garota ser assediada num
lugar assim é bastante comum.
- Não a minha garota. E outra, se isso
estivesse acontecendo, ela teria me ligado.
- Pra te ver quebrando os caras do bar do
seu irmão? Acho que não, Zac.
O Zac encarou a Patty por alguns segundos, pensando no que ela tinha
dito.
- Merda - ele levantou. - Eu já volto,
Patty. - E saiu correndo por entre as pessoas.
- Ah, que ótimo. Sozinha no bar onde estão
simplesmente todas as pessoas que eu mais tenho medo de dar de cara no mundo
inteiro. Perfeito. A minha vida não poderia estar mais cintilante - falou
consigo mesma.
Bom, já que a situação pedia medidas urgentes, a Patty resolveu fazer
cara de paisagem e fingir-se de garota descolada que não entra em crise de
identidade quando é deixada sozinha pelos amigos. Respirou fundo e continuou
bebendo sua água sem gás.
- Tudo bem, Patty, ninguém está te olhando.
Todos pensam que você está feliz. O que é que tem ficar sozinha? As pessoas
ficam sozinhas nos bares lotados, é normal. Principalmente quando elas se
mudaram da cidade há dois anos atrás, têm um ex-namorado mal superado zanzando
por aí e ainda não conseguiram falar com ele desde que pisaram em terra firme. -
A Patty suspirou, escondendo o rosto nas mãos. - Ai, por favor, alguém volta
logo pra essa mesa antes que eu desfaleça sozinha, amargurada e completamente
covarde.
- Com licença?
A Patty olhou em direção à alma divina que chegara para lhe salvar,
totalmente afobada.
- Oi, oi, oi, oi, oi, oi - ela dizia
rapidinho, até que fez contato visual com Taylor ali em pé, com uma das mãos
sobre as costas da cadeira, pedindo para sentar. - Oi...
- Posso...?
- Pode o quê?
- Sentar.
- Aqui? - a Patty perguntou, apontando para
a cadeira em que ele se apoiava.
- Não, na mesa - ele brincou.
- Ah, claro. - A Patty estava um pouco
nervosa. - Pode, claro que pode. Me desculpe, eu...
- Tudo
bem - ele sorriu.
O Taylor puxou a cadeira para mais perto da Patty e sentou-se de frente
para ela.
- Deixaram você sozinha aqui?
- Mais ou menos. - Desconfiado, ele
continuou olhando para ela. - É, deixaram sim - a Patty confessou, rindo. O
Taylor sorriu.
- Quando você chegou?
- Hoje - ela sorriu.
- E vai ficar quanto tempo?
- Quatro dias. - O Taylor ia perguntar algo,
mas a Patty adiantou-se em responder. - Sim, contando com hoje.
- Ah... - ele riu do adiantamento dela. - E
você está na casa da sua amiga, a... Como é mesmo é nome dela?
- A Belle e a Lary.
- Isso. Eu estava tentando lembrar o nome da
Belle.
Estava prestes a ficar um daqueles silêncios horríveis. A Patty não podia
deixar:
- O seu show foi... Muito legal.
Parabéns.
- Obrigado. Eu não faço isso sempre. Quer
dizer, tem se tornado mais freqüente...
- É aniversário da sua namorada, não é?
Parabéns. De novo - sorriu.
- Ah, a Beatriz. Obrigado.
Silêncio. A Patty colocou os cabelos totalmente atrás das orelhas. O
Taylor viu algo então que o fez sorrir. E ele ia apontar e dizer alguma coisa,
quando foi interrompido:
- Taylor, você está aqui - a Ló berrou
empolgada.
- Oi, Ló, tudo bem? - ele sorriu, a beijando
no rosto.
- Pode ir tirando o seu traseiro magro e
exibido daí porque você está no meu lugar - o Zac reclamou.
- Foi mal, Zac - o Taylor disse,
levantando.
- Valeu.
O Taylor saiu da frente da Patty e foi sentar do lado oposto ao dela na
mesa. Ai, que longe que parecia para a Futemminha.
- Eu achei que você nunca fosse vir falar
com a Patty - a Ló disse.
- Como você sabia que ela estava aqui? - o
Zac perguntou.
- O Isaac me mandou uma mensagem pro
celular.
E a Patty quieta.
- Ele mandou uma mensagem pro seu celular?
Ele se deu ao trabalho de digitar letra por letra? - o Zac questionou,
indignado. - É, Patty, considere-se importante porque para o Isaac fazer isso...
Só por coisas realmente relevantes.
O Taylor ficou completamente sem jeito. A Patty então, nossa, não sabia o
que fazia com a cara dela. Silêncio total. O Zac nem tinha percebido que havia
causado aquele constrangimento todo na galera.
- Bom, mas eu acho que eu vou indo para lá -
o Taylor disse. - Patty, depois a gente conversa mais, ok?
- Claro - ela sorriu.
- Eu acho que daqui a pouco a Beatriz já vai
para casa, aí... O que eu estou querendo dizer é que agora eu preciso ficar com
ela.
- Eu entendi, Taylor, não se preocupa, não -
a Patty sorriu de novo.
- Que
bom - sorriu, apertando os olhos azuis. - See you later then?
- Sure.
- Ok, bye.
E lá foi o Taylordôncio
caminhando até a mesa da namorada Beatriz, a única amante no planeta que
demonstrava amor sincero cuidando da reputação e da popularidade do
namorado.
A Patty ficou olhando ele ir, sentindo-se um pouco melhor por finalmente ter feito um primeiro contato com o Taylor. Tudo que é primeira vez sai uma merda. Porém na segunda, o índice de acertos são maiores. E tudo flui que nem suco.
Continuação (é, esse
capítulo é bem longo... mas vc está gostando, não está?)