Então era hora da música techno. Um dos seguranças encarregou-se de abrir a pista do The SS e todo mundo correu para lá dançar um pouco. E claro, a Ló e a Patty estavam loucas para irem. O Zac cochichou com um dos funcionários para que cuidasse da mesa deles e de seus pertences até que voltassem. O funcionário disse que sem problemas, que cuidaria como se sua vida dependesse disso, já que sabia que por ali, o Zackito mandava também. Era um Hanson. E Hanson era o sobrenome do The SS.

            Na pista, as meninas deixaram a música levar seus corpos. O Zac amava ver a Ló dançando. Para ele, nada enchia-lhe mais os olhos. E aproveitando que a garota estava empolgada, a Patty sentiu-se à vontade para mandar ver no requebrado. Jogava os cabelos para um lado, o quadril para o outro, os braços para cima, a cintura fazendo movimentos de oito. Por alguns segundos, a Patty se esqueceu até de onde estava. Mas ao levantar a cabeça e dar um pequeno giro com os olhos pela pista, avistou, não muito distante dali, o Taylor. Ele dançava com uma garota de cabelos longos e loiros, virada de costas para a Futemminha. Deveria ser a tal da Beatriz. E pelo jeito, o Cumprido já tinha visto a Patty por ali, pois no instante em que ela o enxergou, ele parecia estar olhando em sua direção. Rapidamente, o Taylor acenou para a Patty muito simpático, com o objetivo de retirar do momento o aspecto de "estou te encarando". Sorrindo também, a Patrícia retribuiu o aceno e continuou dançando.

            Agora a música que tocava era Better off alone de Alice Deejay. O povo parecia extasiado com a música, que apesar de bastante antiga já, continuava agradando. A Patty dançava, mas sendo lembrada pela sua mente a todo instante que Taylor estava ali perto. Vez ou outra, ela não agüentava e acabava dando uma olhadinha, daquelas sem pretensão nenhuma, só para ver se ele permanecia no mesmo lugar... Bom, desculpas esfarrapadas à parte, a Patty virava o rosto do jeito mais discreto que conseguia inventar, mas era sempre descoberta porque na maioria das vezes, o Taylor também a olhava. Ela desviava correndo, com vontade de morrer, jurando que não olharia mais pelo resto da noite. Não dava nem dois minutos, lá estava ela tentando virar o rosto em direção ao Cumprido sem que fosse pega. E se o Taylor não a olhava, a Patty permanecia observando-o até que este direcionava-lhe os olhos azuis, fazendo a Futemminha disfarçar rapidinho.

            Aquele ritmo quase polígono do techno faziam os quadris na pista mexerem de maneira sincrônica. O tum-tum forte que ecoava lá dentro, na região do peito, todo mundo fazendo movimentos geométricos, balançando as mãozinhas no ar. Só a Patty e a Ló que continuavam requebrando, movendo a cintura e todo o resto suavemente, em curvas, sem retas e esquinas quadradas.

            Porém nem esta empolgação fez a Patty parar de espiar o Taylor. Ela olhava, ele olhava, os dois desviavam. Já estava ficando patético. Isto aconteceu algumas vezes e lá pela quadragésima, a Patty virou-se para observar o Cumprido mais uma vezinha, mas não o encontrou em nenhum ponto de seu campo de visão. Aí bate aquele desespero, que faz a pessoa procurar como se houvesse perdido um filho. Então, quando disfarçar já não era mais preciso, pois Taylor parecia ter sumido mesmo, a Patty virou-se de costas para os amigos e deu aquela olhada geral pela pista.

- Tay, Bia! - a Ló comemorou. - Que bom que vocês vieram aqui com a gente.

            Tudo bem, como a Patty iria explicar aquela posição de busca sem que ficasse evidentemente gritante que o objeto procurado era o Taylor? Ainda de costas, ela pensou por rápidos segundos. E retornou a encarar a rodinha de amigos com uma fingida cara de preocupação.

- O que foi, Patty? - a Lynne perguntou.

- A Belle e a Lary sumiram. - Então olhou Taylor e Bia ali. - Oi, não tinha visto vocês. Tudo bem?

- Prazer, eu sou a Beatriz. Namorada do Taylor.

            A Futemminha se apresentou com aquele sorriso amarelo:

- Prazer, Patrícia. A garota burrinha, pensou.

            Parado ao lado da Beatriz, o Taylor fazia o papel do namorado companheiro, com uma das mãos tocando a cintura dela com delicadeza.

- O Taylor estava me contando que você morava aqui há dois anos atrás e que só agora voltou para visitar - a Beatriz comentou.

- É, é isso mesmo - a Patty sorriu. - Pode parecer desculpa, mas nesse tempo todo eu não tive tempo de vir. As minhas amigas sempre insistiam para que eu viesse, mas nunca dava.

- E agora deu.

- Pois é.

            Não estava muito claro se a Beatriz sabia quem era a Patrícia ou não. A maneira com que a tratava poderia ser considerada simpática caso ela não estivesse sabendo da identidade secreta da Futemminha. Mas se a Bia estivesse ciente de que a Patty era a ex do atual namorado dela, então poderia se dizer que a Beatriz estava sendo cínica.

            E o Taylor quieto... Só observava e sorria.

- Cadê o pessoal, Beatriz? - a Ló perguntou.

- Estão para lá - apontando para um ponto da pista. Virou-se para Taylor. - Vamos até lá?

- Vamos, claro - o Taylor concordou.

- A gente se vê por aí - a Bia disse. - Patty, foi um prazer coonhece-la.

- O prazer foi todo meu.

            O casal 20 então deixou a rodinha.

- Viu como a Beatriz não é chata, Zachary? - a Ló falou.

- E o que é que tem se eu não vou com a cara dela, Alynne?

- Zachary, você nunca vai com a cara de ninguém. A garota não te fez nada, que horror.

- E só porque ela não me fez nada eu tenho que necessariamente ir com a cara dela? - o Zac argumentou. - E pra te provar que isso é problema meeu, a partir de agora eu gosto menos ainda da Beatriz só porque você ficou me enchendo.

            A Ló suspirou. E disse:

- Tá, Zachary, que seja - cruzou os braços.

            Aquela carinha da Lynne... Que medo que dava no Zac. Rapidamente a abraçou pela cintura e beijou-a no pescoço repetidas vezes.

- Você sabe que eu estou brincando.

- Claro que sei - ela sorriu. E o beijou na boca.

            Enquanto isso, a Patty digeria a tal da Beatriz e aqueles seus cabelos cor de mandioca. A Beatriz era linda. Muito mais bonita do que... Um monte de gente. Mas tudo bem, isso não era motivo para pânico. Quer dizer, a Patty tinha sido uma boa namorada, mesmo não sendo exatamente aquele modelo de beleza escultural e harmoniosa. Ok, Patty, sem ojeriza. Está tudo sob controle. E daí que ela tinha uns cabelinhos dourados, olhos amendoados e corpo esculpido em músculos e 0% de calorias? Isso não torna a Patty inferior, certo?

            A Patrícia até tentou, mas não teve como não se sentir diminuída. A tal da Beatriz parecia eternamente invicta, sem condições de competição. Ela não era apenas uma atleta vencedora, era um time campeão inteiro! A garota tinha sorriso Colgate, cabelos majestosamente ondulados, olhos que mais lembravam pedaço de pedra preciosa. Em outras palavras, a nova namorada do Taylor parecia a perfeição sobre um par de pernas lindas. Droga... Aquela vontade de ir embora de novo.

- Patty?! - a Ló berrou.

- Ããã, o quê?

- Nossa, finalmente. Você estava bem longe de Tulsa, pelo jeito.

- Desculpe, Ló, eu estava pensando umas coisas aqui...

- Como o quê? - o Zac perguntou, como se já soubesse o que era.

- Não, estava só pensando que... Que eu preciso tomar alguma coisa.

- Vamos voltar para a mesa? - a Ló ofereceu.

- Eu adoraria.

            Antes de deixarem a pista, a Patty procurou o Taylor com os olhos uma última vez. Não encontrou. E ficou feliz por isso.

            Para mais uma alegria da Futemminha, Lary e Belle a aguardavam sentadas, conversando, tomando aqueles drinks diferentes que só tinham no The SS.

- Meninas, que bom que vocês voltaram - a Patty comemorou. - Onde vocês estavam?

- A gente foi andar um pouco - a Belle respondeu.

- O movimento está interessante hoje para ficarmos apenas sentadas - a Lary explicou.

- É... Está interessantíssimo - a Patty ironizou.

            Começou a tocar uma música lenta qualquer.

- Gente, eu e o Zachary vamos dançar.

- Podem ir - a Patty sorriu.

- Vem, Zackito - a Ló puxou.

- Calma, Lynne, não precisa arrancar fora o meu antebraço - o Zac resmungou.

- E você, estava aonde? - a Belle perguntou. <

- Eu estava em algum lugar entre a inconveniência e o inferno - a Patty dramatizou.

- Nossa, e isso tudo é aqui dentro? - a Lary riu.

- Nós estávamos na pista dançando. E apareceu o Taylor com a namorada.

- O nome proibido, a palavra mágica, a essência da vida - a Lary filosofou. - Taylor.

- E aí? Como foi? - a Belle perguntou.

- Eu não sei direito... Quer dizer, ela é legal.

- Legal? Patty, estamos falando da namorada do Taylor - a Lary observou. - A concorrência, o lobo fantasiado com cachos dourados e seios grandes. O inimigo que te odeia por um dia você ter estado no cargo que ela hoje ocupa e que se diz sua amiga e confidente simplesmente por também menstruar.

- Você está inspirada hoje, hein? - Elas riram. - Bom, vendo por esse ângulo... - a Patty concordou. - Tá, vai. Eu não gostei dela.

- E você não precisa nem dizer o por quê - a Belle sorriu.

- Não preciso? - a Patty estranhou.

- Não. Patty, eu também menstruo. - Elas riram de novo. - Eu sei o que você está sentindo. Você a odeia porque ela é mais bonita que você, porque ela é a maior responsável pelo Taylor não estar solteiro e porque o Taylor parece gostar dela. E mesmo que não gostasse tanto... Bom, ela é linda.

- Ela foi simpática comigo. Foi atenciosa, agradável... - a Patty disse.

- Isso não a torna menos filha da puta - a Lary observou.

- Pá, nós somos suas amigas. E estamos aqui por você - a Belle sorriu. - Não precisa fingir estar aceitando tudo do modo mais maduro possível porque nem sempre sentimento tem a ver com maturidade.

- Pode falar tudo, Patty. E também... - A Lary se aproximou para cochichar. - A gente estava louca para saber de você em relação ao Taylor. Você não falava nunca!

            As três riram.

- Eu preciso me divertir. E daí que o Taylor está namorando? Que se dane. Eu vou mais é aproveitar - a Patty se revoltou.

- Isso aí, Pá! - a Lary e a Belle gritaram juntas.

            E finalmente, a música lenta acaba.

- Eu vou até o bar dar um oi para o George - a Patty disse. - Já venho aí.

            Como se fosse a rainha do universo, a Futemminha se levantou e foi caminhando até desaparecer na multidão.

- E essa é Patrícia Futemma - a Lary riu, tomando um gole de sua bebida.

            O George estava falando no celular. Parecia conversar com alguém bem chegado, pois ria e fazia comentários no telefone do estilo "e aí, queridão, como que tá essa força?". A Patty parou na frente dele e ficou o encarando. Quando o George a viu, disse para a pessoa no outro lado da linha:

- Cara, eu tenho que ir porque parou uma gata aqui. Sabe como é, não dá pra deixar esperando.

            A Patty riu. Pelo jeito, ele não a tinha reconhecido.

- Falo com você depois. Tchau. - Guardou o celular no bolso do blazer. - Olá - sorriu, daquele jeito conquistador-fajuto impregnado no olho, na voz e na respiração do George.

- Estou vendo que você não lembra de mim.

            Enrugando a testa, com o dedo no queixo, o George observou-a com cuidado. Assim que ele fez aquela cara de quem tinha visto falecido levantar do túmulo, a Patty percebeu que ele então se recordou.

- Patrícia! A ex-mulher do Taylor!

- E agora, a mais honorária gata-que-parou-aqui.

            O George riu. E disse:

- Se o Taylor sabe desse meu fora e da minha cantada, me mata.

- E aí, continua trabalhando de caixa no The SS?

- Continuo. E não pretendo sair disso aqui tão cedo. - O George se aproxima para cochichar. - Dá status.

            A Patty riu. Ele continuou:

- É sério. Você tem que ver como é a reputação do Isaac com as garotas. E como o George aqui trabalha com ele...

- Acaba pegando o que ele dispensa - a Patty completou.

- Poxa, Patrícia, colocando nestas palavras soa meio mal... Eu prefiro dizer que o sucesso se estende.

- Se te faz se sentir melhor...

            Os dois riram.

- E o Isaac? Cadê?

- Está lá dentro terminando de ver um problema aí com um cheque de um cliente. Mas logo ele está...

- Patty! - o Isaac gritou.

- ...aqui - o George sussurrou.

- Finalmente eu te encontrei - a Patty disse, sorrindo.

- Desculpe, Patty... Mas é que está tudo tão corrido por aqui.

- Tudo bem, eu entendo.

- Mesmo?

- Claro. Eu nem fiquei brava por você ter me dado os canos no show da banda.

- Ah, pois é... Tem isso também - o Isaac coçou a nuca, envergonhado. - Eu juro que não deu e...

- Ike, não se preocupe. Eu estou só brincando.

- E ela estava aqui conversando comigo - o George falou. - Não poderia estar em melhores mãos.

- Ele deu em cima de você? - o Isaac perguntou.

- É, ele até tentou... Mas as cantadas dele não são das melhores - a Patty brincou.

- Você diz isso porque eu não usei todo o meu charme e encanto com você.

- Eu imagino o quanto você deve ser encantador - a Patty riu.

            Então, a pausa das brincadeiras que o Isaac precisava para dar um aviso ao George:

- Sobre aquele negócio, você precisa ligar para aquele cara.

- Qual cara?

- O cara do negócio.

- Ah, aquele negócio?

- É, o negócio daquele dia.

- Mas e aquele outro negócio?

- Já foi resolvido com o outro cara.

- Mas foi resolvido no dia?

- Foi.

            A Patty arregalou os olhos e cruzou os braços, não entendendo nada.

- Eu vou no escritório fazer as ligações - o George disse, saindo.

- Isaac, você por acaso está traficando drogas?

- Não, calma - o Isaac riu. - Se quiser, eu posso te explicar.

- Tudo bem, não precisa.

- Senta aí - o Ike apontou para um banquinho de alumínio do bar.

- Como estão as coisas? - a Patty perguntou. <

- Estão bem. Agora estão bem.

- Ike, e a Isadora?

- A Isadora? Você não soube o que aconteceu?

- Não.

- Ela foi embora mais ou menos na época em que você terminou com o Taylor. Foi morar com o pai do filho dela. Da última vez que conversamos pelo telefone, ela me disse que estava bem.

- Nossa... Mas eu achei que vocês fossem...

- Namorar? - O Isaac riu. - Não. Eu nunca ia conseguir dar para a Isadora o que ela queria. Ela queria uma família. E eu não estou preparado para esse tipo de mudança ainda.

- Que doideira...

- Pensei que você tivesse ficado sabendo.

- Não... Na época eu estava terminando com o Taylor. Eu não estava exatamente concentrada em problemas alheios. Estava ocupada sofrendo e tentando superar.

- E conseguiu? - o Isaac perguntou, cauteloso.

- Depois de uns dois meses, sim, consegui - ela sorriu, orgulhosa.

- Dois meses? - ele se assustou.

- Eu amava o seu irmão mais do que tudo, Ike.

- Na verdade essa minha cara de espanto não foi porque... Bom, até o final do ano passado, o Taylor ainda pensava em você.

            Assombro na expressão da japonesa.

- Final do ano passado?

- Ele demorou um pouquinho mais do que uns dois meses para superar você.

- Não, você está brincando.

- Por que eu brincaria com isso?

- Nossa, eu estou até com vergonha dos meus dois meses fajutinhos.

- Não se sinta... Você fez o certo: superou e continuou vivendo.

- O Taylor não fez isso?

- Ele não entrou em uma depressão profunda, mas você fazia muita falta para ele. Quer dizer, ele se esforçava para te esquecer de uma vez, mas era perceptível que ele não estava conseguindo.

            O coração da Futemminha apertou.

- Eu não fazia idéia disso.

- De vez em quando, ele começava a falar de você e eu ficava ouvindo... Fazia bem para ele falar de quando vocês estavam juntos. Tinha vezes que ele não falava o dia todo. Ficava quieto, pensativo... Já outras vezes ele chorava...

- E por que ele nunca me ligou?

- Você não acha que isso só iria piorar?

- É, eu acho que sim...

- E você, Patty? Por que não deu mais notícias?

- Pelos mesmos motivos, eu acho.

- Agora ele está bem com a Beatriz.

- Ela parece ser legal.

- Ela é. O Zac não engole muito a Bia, mas é o Zac, então... Não dá pra levar tão em conta.

            A Patty riu.

- Ele me falou sobre isso.

- Ele fala pra todo mundo. A verdade é que o Zac morre de ciúmes do Taylor.

- Bobinho... - a Patty riu.

- E você? Está namorando?

            A língua da Patty coçou para inventar uma historinha perfeita sobre um namorado lindo, compreensivo, sensível e humano que surgiu do horizonte em um cavalo malhadinho e só veio trazer alegrias para a vida dela. Mas a Patty tinha 22 anos, não tinha nem cabimento ela passar uma lorota dessas para cima de um homem de negócios como o Isaac, que trabalhava com pessoas que tentavam lhe passar a perna o tempo todo. Esse inconsciente de menina insegura tem cada idéia...

- Não, eu não estou.

- Alguém em vista?

- Chega, agora você responde as perguntas.

            O Isaac riu.

- Bom, eu não estou namorando, ando mais concentrado no trabalho. Mas é claro que relacionamentos fazem parte.

            "Relacionamentos fazem parte"... Não sabia se era falta de atenção dela, mas a Patty não lembrava do Isaac falar de maneira tão adulta.

- Claro, fazem parte... - ela repetiu. - Bonito do jeito que voccê está... Deve estar chovendo mulher na sua hortinha.

            Rindo, o Isaac agradeceu:

- Obrigado pelo elogio, Patty. Mas sinceramente? Mulheres interessantes estão em falta nessa cidade.

- A Ló disse que tem muita mulher legal no Brasil.

- A Ló?

- É. Ela sempre fala do Brasil. Bom, não importa.

- A Ló é... a Ló. É natural dela falar coisas excêntricas - o Isaac brincou.

- Verdade - a Patty riu.

            Silêncio.

- Posso pedir uma bebida pra você? - o Isaac ofereceu. - E não se preocupe em pagar porque, bom, você deve saber que eu mando aqui.

- Nossa, como você é poderoso.

            O Isaac riu. Pediu um coquetel de frutas mais fraquinho, pois a Patty já tinha tomado umas aquela noite. Era melhor não abusar.

            E enquanto ele pedia, a Patty ficou observando... Seu amigão de anos atrás estava mesmo diferente. O Isaac estava tão bonito, que chegava a intimidar. Suas roupas estavam tão mais... Finas e sensuais. O porte dele, a maneira com que ajeitou os cabelos, o perfume...

- Sabe, eu estava pensando aqui... - a Patty começou. - Você acha que tem algum jeito de nós continuarmos amigos depois que eu for embora?

- Claro - o Isaac respondeu sorrindo, tentando chamar a atenção de seu barman, que simplesmente não o via acenando para que se aproximasse.

            Aquele "Claro" não poderia ser mais irreal. Era óbvio que após a partida da Patrícia, os laços se enfraqueceriam novamente. Mas estava legal ali, conversando. A Patty decidiu aproveitar os momentos e esquecer dos tais dos laços. O que tivesse de ser, seria.

            Já com a bebida em mãos, o Isaac voltou-se para a Futemminha continuando a conversar:

- Sabe... Eu sinto falta da época em que você morava aqui e nós saímos ou ficávamos em casa mesmo assistindo filmes ou conversando... Era bom.

- Era sim. Na verdade, o que eu sinto falta mesmo é da amizade. Eu não tenho amigos em Albuquerque como eu tive aqui.

- Entendo...

- Agora as coisas estão melhores. Bem melhores. No começo foi mais difícil porque eu tinha muitas saudades de vocês.

            Silêncio.

- Você está diferente, sabia? - o Isaac falou.

- Estou?

- Muito. Está mais bonita.

- Obrigada - ela sorriu.

- Eu gostei do se cabelo. Essa cor ficou ótima também.

- O Zac que não gostou muito.

- Ele falou isso pra você?

- Falou, assim que me viu.

- Puxa, por que será que eu não estou espantado?

- Tudo bem. Eu gosto da sinceridade do Zac.

            Então, chega o George reclamando:

- Ê trabalheira! Essa vida de contador não é fácil. Isaac, eu exijo um aumento.

- Me processe - o Isaac rebateu.

- Eu trabalho aqui como um camelo. E sempre esses clientes problemáticos você deixa pra mim. Esse último, por exemplo. O cara é um puta frustrado e eu que tive de cuidar do cheque do homem e ouvir ele falando dos problemas psicológicos dele.

- George, pare de reclamar tanto. Você está na frente de uma dama - o Isaac referiu-se a Patty.

- Imagina - a Patty ficou sem jeito.

- Nossa, é mesmo, a ex-mulher do Taylor - o George falou. - Desculpe, Patrícia, eu prometo não cometer tal grosseria novamente - e se curvou, como os cavalheiros de antigamente.

- Com o Zac é que esse homem não está andando - a Patty brincou sobre o George tomar atitudes corteses.

- Quer dar uma volta por aí comigo? - o Isaac ofereceu.

- Ih, lá vai ele se achar o dono do The SS - o George reclamou.

- Eu adoraria - a Patty aceitou.

            E lá foram eles, a Patty enganchada no Isaac, andando para lá e para cá como se fosse a primeira dama. As pessoas paravam para conversar com ele e, educadamente, a Patty era apresentada como "uma grande amiga de anos". Assim, ela acabou trocando rápidas idéias com várias pessoas. Em um determinado momento, avistou o Taylor mais ao longe. Conversava com Beatriz e mais alguns amigos. Quando percebeu a presença da Futemminha ali perto com seu irmão mais velho, o Taylor passou a olha-los. Sorrindo, a Patty acenou. O Taylor retribuiu o cumprimento, mas não parou de observa-los. Segurando um copo com tônica, limão e gelo, o Cumprido os encarava, girando levemente o objeto, fazendo com que a bebida chegasse perto de derramar algumas vezes. Enquanto isso, a Patty recuperava a sua auto-estima, caminhando pelo bar com um dos caras mais disputados no momento pela mulherada. Não tinha como não se sentir especial, pois ela era tratada por aqueles desconhecidos com muita simpatia e respeito. Algo como "está com o Isaac, está com a gente". Era um ambiente confortante.

            E o Taylor olhando...

            A Patty nem percebia os olhos azuis sobre ela e Ike porque estava realmente interessante aquele momento com o amigo.

- E aí, Patty? Gostando? - o Isaac perguntou.

- Adorando. Está divertido.

- Que bom - ele sorriu, todo meigo. - Eu quero que você se sinta bem.

- Estou ótima, não se preocupe.

            Depois de cumprimentarem umas 726 pessoas, o Isaac e a Futemminha se sentaram um pouco em uma mesa mais reservada, numa espécie de mini-camarote, em uma varandinha mais alta a qual se chegava através de uma escadaria de alguns degraus. Lá o Isaac costumava subir para observar o movimento de seu estabelecimento.

            Pediram uma água e continuaram conversando animadamente.

            E o Taylor olhando...

- Tay, está tudo bem? - a Beatriz o cutucou.

- Está, Bia - ele sorriu.

- Você está tão distante... Aconteceu alguma coisa?

- Não, não aconteceu nada.

- Certeza? Tay, você sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?

- Sei sim, sweetheart. Não se preocupe, eu estou ótimo. Só estou com um pouco de sono, é isso.

            Mulheres, quando o seu namorado disser que está com sono, suspeite. Junto com o cansaço, o tal do sono é a melhor desculpa já inventada pela raça masculina quando eles querem esconder alguma coisa.

- Sono? - a Beatriz questionou. - Mas você não fez nada hoje.

- Fiquei ajudando o Ike com as coisas por aqui e... - O Taylor freou a explicação. - Não importa. Eu estou bem.

- Se você diz, eu acredito - ela sorriu e o beijou.

            Lá na varandinha...

- Isaac, o seu bar é lindo.

- Obrigado.

- Não, é sério. Aqui dentro é tão bonito... E o povo é tão animado... Parecem gostar mesmo daqui.

- É, eles gostam sim - o Isaac sorriu.

- A decoração branquinha, o teto de vidro... Lindo.

- Que bom que você gosta.

            Silêncio.

- Patty, por que você não volta a morar aqui?

- Voltar a morar em Tulsa?

- É. Você poderia trabalhar comigo aqui fazendo a mesma coisa que você faz no restaurante dos seus pais. Você poderia morar comigo ou com as suas amigas...

- Você falando assim parece tão simples...

- Você gostaria de vir?

- Não sei... Acho que sim. Talvez. Depende. - O Isaac riu. - É complicado... Se tem uma coisa que eu sempre tive muito claro sobre mim é não gostar de mudanças muito bruscas na minha vida. E pôr tudo de cabeça pra baixo de novo para mudar de cidade uma segunda vez... Ai não, muito obrigada.

- Certeza? Porque seria tão legal. Você seria a minha roommate e...

- Ike, pára. Eu sei o que você está tentando fazer. Você quer me deixar com vontade até eu resolver vir de uma vez - O Isaac riu. - Não dá, Ike... Eu já tenho uma vida em Albuquerque.

            Então começou a tocar uma música mais lenta.

- Quer dançar? - o Isaac convidou.

- Claro.

            Os dois encaminharam-se para a pequena pista em frente ao palco. Na verdade, era mais um espaço entre as mesas do que uma pista. Havia alguns casais já abraçados, dançando aqueles passinhos pequenos no ritmo suave da música. O Isaac e a Patty juntaram-se a eles, com o Ike segurando-a pela cintura e mantendo a mão da Patty junto de seu peito. Conversavam normalmente, rindo, fora daquele clima de romance que pairava no restante dos dançarinos. Então, logo no comecinho da música, o celular do Isaac vibrou.

- O que foi, George. Estou ocupado agora. - Pausa. - Merda. Não acredito. Não tem como você fazer isso pra mim? Tudo bem, estou indo. - Desligou. - Patty, eu...

- Já sei, já sei. Pode ir. Eu fico aqui esperando.

- Você vai ficar... Aqui? - o Isaac apontou com o dedo para o chão e olhou ao redor.

- Vai demorar para resolver o seu probleminha?

- Não muito, eu acho.

- Então vai, eu espero. Se eu não estiver aqui, você me procura. Se vira. Eu já dei muita canja pra você hoje.

            O Isaac riu e disse:

- Tudo bem, eu corro atrás de você a noite toda para me redimir. Mas deixa só eu resolver isso.

- Tá, vai logo.

            Correndinho, o Isaac saiu. Na hora em que proferiu, a idéia não havia soado tão pateta. Mas agora que estava ali sozinha, no meio da pista, entre aqueles casais, a Patrícia estava se sentindo o ser humano mais imbecil do planeta.

Não, eu tenho cada idéia. Só pra minha cara mesmo que eu ia esperar o Isaac aqui sozinha, no meio dessa gente toda dançando... Ah, meu Deus... Eu me lembro de já ter sido um pouquinho mais esperta...

- Sozinha de novo?

            Ai. Taylor.

 

Adivinha??? Sim, vá para a continuação!!