- Ah, pois é... Pra você ver... - ela riu,
sem graça.
- Vim te salvar mais uma vez então.
- Acho que sim.
- Eu estava vindo na intenção de te tirar do
Isaac só uns minutinhos. Mas então vi ele saindo e te deixando aqui... Bom,
poupei os meus argumentos para convence-lo de te emprestar um pouco para
mim.
A Patty só sorriu. Preferiu não dizer nada para evitar aquelas pérolas
frasais que normalmente a gente solta quando está nervoso.
- Posso? - o Taylor perguntou, referindo-se
a envolvê-la pela cintura.
- Claro.
Dado o alvará, o Taylor contornou a Patty com seus braços e a puxou para
mais pertinho. O saltão da Futemminha permitia que eles ficassem quase da mesma
altura, rostos próximos, olhos nos olhos. Sem jeito, a Patty colocou o cabelo
atrás da orelha. O Taylor avistou novamente aquilo que o fez sorrir da primeira
vez que viu a Patty naquela noite.
- Você ainda os usa - ele disse.
- Uso quem?
- Os brincos.
- Que brincos?
- Os brincos que eu te dei quando você foi
embora de Tulsa.
Automaticamente, a Patty levou as mãos às orelhas. Meu Deus, ela estava
usando os brincos com os sóis simpáticos! Ela não tinha nem sequer reparado que
os tinha colocado aquela noite.
- Ah, pois é... - A Futemminha ficou sem
graça. - É que combinava com a minha roupa e...
- Achei que você nem os tinha mais.
- Por que eu não teria? Eles são
lindos.
- Obrigado. Eu mesmo que escolhi.
A Patty sorriu. Silêncio. Perguntou:
- E a Beatriz?
- Está com as amigas. É aniversário dela
então não tem como exigir atenção só pra mim.
- Lógico...
- E você? Está namorando?
Ai, a língua coçou de novo. A historinha perfeita sobre um namorado que
surgiu do horizonte em um cavalo malhadinho veio instantaneamente à cabeça da
Patty.
Vai, Patrícia,
mente. O que é que tem? Ele nunca vai saber mesmo que você está mentindo.
- Não,
sem namorados no momento - ela respondeu, sorrindo. Merda! Eu odeio ser honesta!
- Hmm...
Silêncio. A música então acabou.
- Você não quer ir até a minha mesa um
pouco? - o Taylor convidou.
- Eu prometi para o Isaac esperar por ele
e...
- Mas você pode fazer isso lá comigo.
Como que se recusa um convite de alguém que não se tem mais
intimidade?
- Esperar na sua mesa? Com os seus amigos e
a sua namorada... - a Patty falava. O Taylor ia concordando com a cabeça. -
Claro...
- Isso foi um sim?
- Não! Quer dizer, é que eu estou pensando
que...
Do fundo do coração, a Patty esperava que algo a salvasse.
- Está pensando...? - o Taylor pediu que ela
continuasse.
É, nada de salvações por agora. O negócio era falar mesmo:
- Estou pensando que talvez não seja uma
idéia tão boa assim.
- E por que não?
Aquela cara do Taylor de "se você está falando do fato de nós já termos
namorado, meu Deus, você está atrasada. Eu agora sou um novo homem" fez a Patty
se decepcionar um pouquinho. Não que ela esperasse que ele sentisse o mesmo, mas
pelo menos uma compreensão ela jurava que existiria.
- Porque... Ah, eu não quero atrapalhar. É
aniversário da sua namorada, estão todos os seus amigos lá... E eu sou uma
desconhecida e...
- Patty, nada a ver. Ninguém vai te olhar
deste jeito.
Como que não? A Patty era a garota estúpida que não aceitou namorar o
Taylor de primeira há dois anos atrás. Claro que a olhariam meio torto. E a tal
da Beatriz-perfeita estaria lá, o Taylor ficaria com ela o tempo todo e a Patty
teria de se virar um pouco sozinha, forçar conversas com aquele pessoal
desconhecido... Ui, só de pensar na cena, a Patty tinha calafrios.
- Taylor... Eu acho melhor não.
- Por favor, só um pouquinho.
- Ai, Taylor, melhor não...
- Por que não? - olhou-a, de braços
cruzados.
- Porque eu acho que o momento é seu com a
Beatriz. Não tem nada a ver eu aparecer lá - explicou cautelosa.
- Porra, como mulher é fresca. Vem, Patty,
vamos - falou, puxando-a pela mão.
- Taylor, Taylor, pára, eu não quero.
- Mas que merda, Patrícia - ele parecia
impaciente.
- Eu não vou me sentir bem.
- Engraçado, com o Isaac você parecia estar
se sentindo ótima.
- O quê?
- Você
desfilar com ele pelo The SS, se abrindo e dando risadinhas pra esse monte
de gente que você nunca viu na vida, isso não te faz se sentir mal. Agora ir até a
minha mesa conversar um pouco com os meus amigos, aí já é desconfortável pra
você - disse, nervoso.
Silêncio. A Patty ficou olhando para o Taylor chocada.
Com a música Champagne
High, do grupo Sister Hazel
tocando alta de fundo, a Patrícia foi um pouco para trás assustada. Em
rápidos segundos, a conversa restrita e formal deles havia se tornado um
bate-boca com motivos absurdamente cretinos para acontecer. As cinco últimas
frases saíram estranhas, com um aspecto de discussão e ela não tinha idéia do
por quê. Olhou para os lados perdida e saiu fora, sem dizer nada, sem nem olhar
para a cara dele. Foi andando, andando... Nem sabia para onde estava indo. Andou
por entre as pessoas e foi sair no banheiro feminino. Entrou. Havia algumas
meninas ali, mas já estavam de saída. Ela lavou o rosto, respirou fundo e se
olhou no espelho.
- E quando você acha que já viveu tudo,
acontece mais uma coisinha que te surpreende - a Patty falou sozinha, olhando
para seu reflexo.
Respirou fundo mais uma vez e saiu do w.c. como quem não queria ser vista
por ninguém. Sentiu seu celular vibrar em sua cintura. Olhou na telinha, era o
Isaac. Entrou novamente no banheiro e atendeu:
- Oi, Ike.
- Onde você está?
- No banheiro. E você?
- Estou aqui no meio da pista te procurando,
dona Patrícia.
A Patty riu.
- Não saia daí. Eu estou chegando - ela
disse, já saindo do banheiro.
- Tudo bem, eu não saio - ele prometeu. -
Quem vê nós nos falando pelo celular, até pensa que esse negócio aqui é
enorme.
Ela riu de novo.
- Tchau, Isaac.
E desligou. Infiltrou-se no meio dos casais na pista, procurou um
pouquinho e o achou com as mãos na cintura, batendo os pés, olhando em sua
direção. A Patty sorriu de longe e se aproximou, dizendo:
- Desculpe. Sabe como é, né? O xixi
prevaleceu.
- Sei, sei... Xixi, né... Desculpa! Você
estava é querendo me punir só porque eu não assisti ao show com você.
- Isaac, eu tenho 22 anos e não 11.
Ele riu.
- Vem, vamos até o bar. Está todo mundo
lá.
- Todo mundo quem? - a Patty freou.
- O Zac, a Ló, o George, a Lary e a Belle.
Por quê?
- Não, nada. Vamos?
...
- Du-vi-do!
- Você duvida?
- Duvido.
Sentindo-se desafiado pela Patty, o Zac encheu as mãos de azeitonas
pretas que o garçom havia providenciado para eles e enfiou tudo na boca.
- Ai, Zachary, que coisa nojenta! - a Ló
exclamou.
Rapidamente, quem estava por perto deu licença e deixou livre a linha
reta entre o Zac e o copinho de licor sobre o bar.
- Vai, Zac, quero ver - a Patty gritou.
- Ah, meu Deus - a Ló falou, olhando para
cima. - O meu namorado além de grosseiro, é porco.
- Calma, Ló... - o Isaac a tranqüilizou. -
Você ainda encontra alguém melhor.
Enchendo o peito de ar, o Zac foi para trás com a cabeça, preparando-se.
E ao sinal do George, que estava adorando aquilo tudo, começou a arremessar as
azeitonas na tentativa de acertá-las dentro do copinho. O mais engraçado é que
das 17 que o Zac enfiou na boca, apenas uma atingiu seu objetivo.
- YES! - o Zac comemorou. - Está vendo, Patrícia
Futemma? Nunca desafie Zachary Walker Hanson. Você pode se dar muito mal.
- Tá, mas você acertou só uma - a Patty
rebateu.
- Você duvidou que eu acertasse pelo menos
uma. Se você tivesse duvidado sobre duas, eu teria acertado duas.
- Então vai lá, quero ver. Duvido que você
acerte pelo menos três.
- Não, agora eu estou apresentando claros
sinais de fadiga - o Zac disse, sério, fazendo todos rirem. - E se eu fizer mais
uma dessas, a Lynne é capaz de terminar comigo.
- Pode apostar que sim - ela confirmou.
- Tudo bem, Zac - a Patty falou. - Desta
vez, você escapou.
E todo mundo caiu
na risada relembrando a nojeira do episódio.
O The SS já
estava praticamente vazio. Tirando um grupo de casais em uma mesa e o pessoal do
Taylor lá mais no canto, não tinha mais uma viva alma.
- Nossa,
já é quase cinco e meia da manhã - a Lary informou, assustada.
- Eu
acho melhor nós irmos embora - a Belle aconselhou.
- Já,
meninas? - a Patty reclamou.
- Eu
estou caindo de sono - a Belle disse.
- Ah,
tudo bem... - a Patty acabou concordando.
- Patty,
fica mais um pouco. Depois eu te deixo em casa - o Isaac ofereceu.
Nem um "mas não vai ter problemas, Isaac?" a Patty soltou. Já saiu
comemorando. A Lary e a Belle se despediram da amiga e foram embora. A conversa
continuou animada ali entre o Zac, a Ló, o George e o Isaac.
Dez minutos depois, o grupo do Taylor se aproxima, com ele e a Beatriz na
frente abraçados, como se liderassem o bando.
- Nossa,
mas a conversa está animada por aqui - a Beatriz comentou.
- Tomara
que ela permaneça assim - o Zac disse, grosseiro.
- Bom,
eu já vou indo. Só vim me despedir de vocês - ela falou, não dando a mínima para
o Zac.
Todos falaram um "tchau" em coro.
- Feliz
aniversário, Bia - a Ló desejou, sorrindo.
-
Obrigada, Ló. Se cuidem. E Patty, foi um prazer conhece-la.
Todos olharam para a Futemminha, na expectativa de ver o que ela
responderia.
- Digo o
mesmo - a japonesinha sorriu.
O resto do bando se despediu daquele jeito generalizado e parou na porta
esperar pelo casal 20. A Beatriz virou-se para o Taylor, cochichou algumas
coisas que não puderam ser entendidas por eles ali no bar e o beijou.
- Boa
noite, Tay. Me liga amanhã, tá? - ela falou, já na porta.
- Boa
noite, sweetheart - ele
disse, acenando.
A Beatriz mandou um beijo e falou que o amava. O Taylor retribuiu ambos
os gestos. Depois que o grupo saiu junto da Beatriz, o Isaac perguntou:
- Não
vai leva-la para casa, Tay?
Este respondeu, se aproximando:
- Não.
Ela está de carro.
- Então
chega mais, parceiro - o George gritou desafinado, típico de quando estava
liberando álcool pelas unhas.
Parada ao lado do Isaac, a Patty chegou ainda mais perto dele. Não
sabendo dos motivos da aproximação, o Isaac a abraçou e lhe deu um beijo no
rosto. Saiu logo a seguir para dispensar os funcionários, deixando-a ali,
vulnerável, disponível para perguntas, conversas e aproximações de outros.
- E
agora? O que nós vamos beber? - o George disse.
- Você
não vai beber mais nada - a Patty falou.
- Como
assim eu não vou beber mais nada? - ele reclamou. - Por que essa censura
agora?
- Porque
mais uns goles e você vai encarnar o Galbi Peixoto aqui - a Ló respondeu.
- Quem?
- todos perguntaram ao mesmo tempo.
- Um
cantor brasileiro... Vocês não conhecem - a Ló explicou.
- Esse
cara, o Tom Jones, não importa quem ele encarne - o Zac se revoltou. - A questão
é que o George cantando bêbado não é exatamente a minha idéia de fim de
noite.
- Tudo
bem, tudo bem... Eu já entendi - o George se rendeu. - Já estou vendo que está
na minha hora de ir embora.
- Você
já vai? - a Ló perguntou.
- Já
sim. Eu sei quando não sou bem-vindo em algum lugar - dramatizou o pinguço.
- Você
nem pense que você vai dirigir assim - a Ló disse. - Eu e o Zachary vamos te
deixar em casa.
- Nós
vamos? - o Zac olhou espantado.
- Vamos
sim, Zachary. Eu vou com o seu carro e você vai dirigindo o do George, com ele
dentro - a Ló explicou do jeito dela. - Aí a gente volta com o seu carro e o do
George você põe na garagem dele, bem guardadinho, livre de acidentes.
- Mas eu
não quero sair daqui agora - o Zac reclamou.
-
Zachary, larga de ser egoísta! Olha o estado do George. Se ele dirigir assim,
ele pode sofrer um acidente, ficar paralítico ou perder os dois braços ou ficar
cego, surdo... Ou o que é pior: bater a cabeça com força contra o vidro e os
olhos dele pularem para fora e o cérebro dele sair pelo ouvido com a força do
impacto e...
- Ai, tá
bom, Lynne, tá bom - o Zac se encheu. - Que coisa mais nojenta!
Ela riu, satisfeita. E saíram do The SS ajudando o George a andar, com o Zac
resmungando de fundo.
O Isaac ainda não tinha voltado. Só restava a Patty e o Taylor ali. Êta
mundo véio sem portêra...
O Taylor se aproximou dela devagar, a olhou uns segundos e disse, bem
direto:
- Será
que haveria alguma possibilidade de você me desculpar pelo o que eu disse?
- Sem
problemas - ela sorriu meio amarelo.
- Eu não
queria ter falado aquilo daquele jeito.
- Tudo
bem, eu não fiquei tão chateada assim. Fiquei um pouco assustada só.
- Eu
também - ele disse, apertando os lábios.
Silêncio.
- Cadê
todo mundo? - o Isaac chegou perguntando.
- O Zac
e a Ló foram levar o George para casa de carro - a Patty respondeu.
- E eles
vão voltar?
- Acho
que sim.
- Nós
vamos ficar aqui esperando? - o Taylor perguntou.
- Não
sei... - o Isaac pensou. - Acho melhor irmos para casa. Está tarde.
- Não
quer ajuda para arrumar as coisas no escritório? - o Taylor perguntou.
- Vou
fazer isso amanhã. Estou muito cansado hoje. O dinheiro todo pode esperar um
pouco. - O Isaac olhou ao redor para certificar-se de que estava tudo em ordem.
- Vamos então?
- Vamos
- a Patty sorriu.
No caminho até o carro, a Futemminha ficou refletindo na tentativa de
descobrir quem a levaria para casa. O combinado era o Isaac fazer isso, mas
depois daquela do celular, de ele avisar o Taylor da presença da Patty no bar,
ela não duvidava de mais nada.
O Taylor também estava de carro. No estacionamento de funcionários nos
fundos do The SS, o Isaac desativou o alarme do chaveiro e já foi
entrando no carro. Da janela do motorista, disse para o Taylor:
- Liga
para o Zac e avisa que nós estamos indo para casa.
- Tudo
bem - o Taylor concordou.
- Vamos, Patty?
- Claro.
A japonesinha olhou para o Cumprido e ficou sem saber o que fazer. Como
se despedir do Taylor? Um aperto de mão seria muito frio? Ai, que situação.
-
Então... Até - a Patty sorriu.
- A
gente se vê amanhã? - o Taylor perguntou.
- É,
acho que sim.
- Ok -
concordando com a cabeça, com as mãos dentro dos bolsos.
-
Tchau.
A Patty deu só um aceninho rápido e entrou no carro do Isaac. Vendo que
era só aquilo mesmo, o Taylor entrou em seu carrão preto e deu a partida.
- Está
tudo bem? - o Isaac perguntou antes de girar a chave na ignição.
- Está
tudo ótimo. Por quê?
- Não
sei... Vocês dois pareciam um pouco tensos.
-
Imagina, Ike. Impressão sua.
Ainda desconfiado, ele deu a partida no carro e saíram seguidos por
Taylor. Em um determinado ponto, os veículos tomaram caminhos diferentes e se
separaram.
- Você
sabe explicar como chega na casa das suas amigas?
- Sei
sim. Continua por aqui e vai reto.
Chegaram então ao prédio onde ficava o apartamento de Belle e Lary.
- Está
entregue - o Isaac sorriu.
-
Obrigada pela carona, Ike. Aliás, obrigada por tudo.
- Tudo o
quê?
- Por me
fazer se sentir bem, por ter me feito companhia, por ter me feito rir, por ter
me apresentado aos seus amigos, por ter me convidado para morar com você...
- A
proposta ainda está valendo.
A Patty sorriu.
- E
amanhã? Nós vamos nos ver? - ele perguntou.
- Claro.
Eu quero sair com vocês. Mas eu tenho que administrar meu tempo porque eu também
preciso ficar com as minhas amigas.
-
Lógico, eu entendo.
Silêncio.
- Estava
tudo bem mesmo entre você e o Taylor?
-
Estava.
- Vocês
não pareciam muito naturais um com o outro.
- É que
é meio estranho encontra-lo depois de tanto tempo.
- Eu
imagino.
- Mas
estava tudo bem sim. Era só um pouco de timidez, eu acho.
- Que
bom que já está tudo acertado entre vocês dois - o Isaac sorriu.
- É...
Que ótimo.
- Bom,
então a gente se vê amanhã.
- Ok.
Você me liga ou eu te ligo?
- Vamos
ver quem liga primeiro - o Isaac desafiou.
- Pode
apostar que serei eu.
- Isso é
o que nós vamos ver.
Sorrindo, a Patty o beijou no rosto e desceu. Esperou o carro do Isaac sumir no final da rua para só então entrar no prédio.