Burn é bem diferente dos outros, mas de alguma forma, mais maduro. E mais típico do gênero Cyberpunk. Foi o último RCL, mas acho que ele fechou bem.
O telefone toca...pela quarta ou quinta vez, nem sei...foda-se, penso e me levanto...

Tomo um ducha gelada. Vou ver Narinha, ainda dormindo. Beijo seu rosto lindo e vou preparar minha comida. No caminho pego o jornal e leio sobre uma nova e ridícula lei sobre liberação de drogas alucinógenas não-viciantes para motoristas. Se o congresso aprovar vou morar na Argentina. O dia está um pouco quente, e desisto de vestir um perlet.

Na saída um vizinho reclama comigo sobre um assaltante que deixei fugir e me chama de covarde, eu o ignoro, mas não contenho um sorriso quando vejo seus novos pulmões artificiais, pelo movimento leve e constante no lado esquerdo de seu peito. O idiota nunca devia ter deixado seu carro na minha vaga, teve até muita sorte.

O trânsito esta maravilhoso como sempre. Dois cruzamentos de distância do meu apartamento, um imbecil tenta me assaltar. Deve ser novato na coisa, e não nota o aviso de vidros-lâmina que coloquei na porta. Bem, logo tenho mais duas mãos dentro do carro. Seus gritos são horríveis e coloco-os no "ignore sound list". A chuva atrapalha um pouco e seu cheiro é muito desagradável. Eu devia ter prestado atenção na previsão do tempo.Chuva ácida...e eu ri disso quando li um artigo fazem alguns poucos anos. E Recife é hoje uma das cidades mais atingidas. Quem diria...

Vou chegando para o trabalho e peço ao segurança do estacionamento para arranjar alguém que limpe o banco de passageiros. Minha calça ficou limpa sozinha, é, a nonatecnologia serve para alguma coisa afinal. Pego o elevador e em segundos estou na minha sala. Recebo os e-mail com cuidado, verifico os trabalhos pendentes, e passo uma hora tentando resolver tudo. Por volta das 10:00, sou informado de uma reunião de emergência, parece que as coisas não andam nada bem com um de meus clientes.

A reunião é tumultuada, e foram feitos dois atentados contra mim antes que eu chegasse a sala, uma logo na porta de minha sala, e outra no elevador, quando as coisas estão ruins para um exec, outros acham o momento perfeitamente propício para um assassinato. Uma faca no pescoço do primeiro e uma bem recolocado terceiro servical no segundo (o qual vejo deslizando pela parede com seu corpo retorcido) asseguram que chego a sala de reuniões com segurança. Logo que cheguei um outro exec da minha divisão tentou me acertar com uma pistola, e o presidente da empresa deve de intervir, fuzilando-o. A sala fica suja, e logo dois robôs vêm fazer a limpeza. Pena que Carlos estava no caminho, era um ótimo exec, e um dos poucos com os quais eu podia contar na empresa.

Resultado da reunião: estou indo para a Áfrika Branca (A antiga África do Sul), num salto trans-orbital de 15min. É um país complicado desde a contra revolução de 2004 e a imposição de um novo governo racista. A CELA tenta romper com seu governo e freqüentes atentados a bomba tem sido sentidos por todo país já fazem dois anos. Um segurança e outros dois execs vão comigo nesta viagem. Eles são clientes importantes graças ao baixo preço e alta qualidade de sua matéria prima. Lá as leis são diferentes, lógico, e estou proibido assim como os outros execs, de usar qualquer arma. Sinto-me nu e desprotegido, mas o segurança é melhor que todos nos juntos. Parece ser um estado que optou pelo lado estatal da navalha.

Logo que descemos somos "extremamente" revistados, o que é incômodo, mais sou bem pago para isso também. Os Afrikans são educados e frios, o que é um bom sinal. As ruas parecem ordenadas e sem violência (uma ou outra pichação, olhares acusadores quando enxergam a tarja da bandeira brasileira, mas nada além disso). Os poucos negros que vemos são muito mal tratados, e os brancos nos olham com desconfiança, e logo começo a amaldiçoar o banho de sol que tomei fim de semana passado (Ele já bastou para deixar minha pele bem escura, e bem mais do que o desejável quando se visita esse país).

A reunião é longa e muito intensa, em alguns momentos eu teria fuzilado pelo menos quatro deles se estivéssemos em Recife, mas aqui as coisas funcionam de maneira diferente. Mas, apesar de tudo, eles parecem querer um acordo, afinal, não é todo lugar que parece interessado em negociar com o novo apartheid.

Em quatro horas terminamos a reunião e vamos para o carro que nos conduzirá ao aeroporto. Consegui manter o cliente, o que é bom, assim fortaleço minha posição na companhia. Talvez receba um aumento. Bem, é bom não sonhar muito. O salto é rápido e confortável. E logo estamos novamente em Recife. Compro um H&K-45-bencher (uma pistola cal. 14mm, quase sem recuo, com capacidade para 34 balas no pente e uma na agulha...é, os alemães ainda sabem fazer brinquedos maravilhosos) numa livraria e vamos a um carro da co-operante que esta nos esperando.

Um grupo de militantes do DHI (Direitos Humanos Internacionais), começa a atirar em nós, e entre eles, pelo menos dois empregados de uma companhia rival. O segurança abre fogo rapidamente e com uma precisão alcançada apenas com os melhores implantes e nanotecnologia. Existem poucos seguranças aqui em Recife. Com as leis que permitem os cidadãos se defenderem da maneira que desejam, eles perderam cada vez mais espaço. Hoje, acho que em toda a cidade, devem existem apenas uns 20 ou 30, e seus serviços são sempre muito caros, mas vale a pena graças a certeza quanto a sua eficiência. Lógico, é contra a lei contratá-los com o propósito de assassinar alguém.

Quando Chegamos na firma, todos sorriem para nos. Eu me sinto exausto mas feliz. Foi um dia muito estressante. Tomo um arlequim e me sinto melhor, mas leve, exatamente como no comercial. Logo começo a suar um pouco, mas sei que é apenas o efeito do arlequim. As pessoas me cumprimentam, e as agradeço. Alguns olhares são furiosos, alguns sorrisos amarelos, mas isso já corre todo dia.

O presidente da firma chega a nos convidar para jantar, mas hoje a noite não posso deixar Narinha sozinha, e acabo por recusar. No caminho de volta, compro um holo-urso-panda para ela, e fico pensando que amanhã ela terá para viver...